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terça-feira, 26 de junho de 2018

Escatologia - A Grande Tribulação

Olá, pessoal! Vamos continuar estudando Escatologia e falar deste outro tema hollywoodiano: a Grande Tribulação. Intrínseca à história do anticristo, esta temática é bem turva e muito complicada de abordar visto as diferentes correntes escatológicas que interpretam o tema. Essa é uma importante advertência antes de iniciarmos nosso estudo, pois há muitas disparidades e nem tudo é revelado claramente a respeito desse tema. Vamos lá.


"porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais." (Mt. 24:21)
Vamos começar falando dos nossos pressupostos. Visto que estamos diante de uma diversidade de correntes, e cada uma tem uma abordagem sobre o tema, vamos tentar esclarecer nossas bases. Nós não entendemos que a Grande Tribulação (GT) é um evento que está no passado. Isto é evidente dentro da corrente posmilenista, para quem a GT aconteceu na destruição do templo.

Para eles, a GT foi um evento único vinculado àquele momento e não se repetirá. No seu ponto de vista, a Igreja crescerá cada vez mais, conforme as pessoas forem vendo que só o cristianismo oferece uma base social, política e econômica boa o suficiente para sustentar o mundo. Ainda que creia na capacidade transformadora do evangelho para o mundo, creio também que no mundo ainda "passaremos por aflições" e as coisas irão piorar.

Também não entendemos que esteja correta a abordagem premilenista quando afirma que a igreja não passará pela GT. Ora, porque então Jesus constantemente nos prepara para isso? E porque somente os ímpios sofreriam essa tribulação, visto que eles já têm a tribulação maior, que é viver sem Deus no coração? Por isso, entendemos que a igreja estará na GT e ela ainda acontecerá. É o que Paulo afirma: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos." (II Tm. 3:12)

Porém, antes de pensarmos especificamente na "Grande" tribulação, devemos lembrar que "tribulação", "aflição" e "provação" são aspectos cotidianos da vida cristã. Todos nós enfrentamos sofrimento na vida e passamos por algum momento de tribulação, não há como viver nesta terra sem passar por isso. Na agenda escatológica de Jesus, porém, vimos que haverá um momento em que a tribulação da igreja será maior que em outros períodos.

Assim como o anticristo tem como precedente vários anticristos, também a Grande Tribulação tem como exemplo essas diversas tribulações pelas quais passamos e que nos ajudam a crescer na vida cristã, conforme Paulo ensina: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação." (II Co. 4:17).

Quando pensamos em "tribulação", seja ela grande ou pequena, já pensamos que isso não é algo pelo qual ninguém deseja passar. A solução mais comum é fugir do problema ao invés de enfrentá-lo. Porém, como cristãos, "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Rm. 8:28), e é por isso que nós enfrentamos nossas provações: pra que elas cumpram o propósito dado por Deus em nossas vidas.

Na vida cristã, momentos de tribulação devem ser vistos como momentos para desenvolver a nossa fé. O meu texto favorito sobre isto é de Tiago:
"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes." (Tg. 1:2-4)
É evidente que a tribulação em si não será motivo de alegria, mas o passar por ela gera resultado na vida do cristão, e isso sim é motivo de contentamento: "Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam." (Tg. 1:12)

O contexto da igreja primitiva era de constante tribulação: eles não eram aceitos pelos judeus (sua casa) e eram explorados pelos gentios (contexto político-econômico de sua época). Pedro os encoraja nessa situação: "Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. [...] mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome." (I Pe. 4:14, 16)

Logo, fica evidente que há uma relação estreita entre as provações (que não é o mesmo que "tentações" - podemos falar disso em momento oportuno) e o fortalecimento da nossa fé. A tribulação vem para trazer esse aperfeiçoamento. Por isso que quando o cristão reconhece isso e passa por esse momento, ele pode sentir alegria por ter enfrentado isso.

Por conta disso, é fácil entender que a história da igreja é permeada por uma história de perseguição. Não é segredo pra ninguém que no Coliseu, em Roma, muitos cristãos foram mortos por causa da sua fé.

Esse sofrimento não tem somente efeito interno (aumentar a fé), mas também tem um importante efeito externo: testemunho. A disposição em sofrer demonstra o amor do crente para com Cristo: "Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Fp. 3:8). Tudo o que suportamos pelo amor de Cristo revela o nosso amor para com ele!

Agora podemos, enfim, voltar nossos olhos para a "Grande" tribulação, que está citada no texto que abriu nosso post (Mt. 24:21). Como já mencionei, há divergências sobre quando ela ocorrerá e de que maneira. Não obstante, vamos tentar extrair do texto bíblico o que há para aprender sobre este tema.

O primeiro ponto a abordar é que a grande tribulação será um evento que atingirá todo o mundo. Isto não significa, porém, que vai acontecer no mundo todo ao mesmo tempo (esqueçam Hollywood!). Lembrem-se do que estudamos nos posts sobre o anticristo: a tribulação não será no estilo "apocalipse zumbi", ela será algo que muitos sequer considerarão como perseguição! Pensem claramente, meus caros, é aquilo que mencionei no outro post: se tudo for descarado como os filmes montam, isso só confirmaria a Bíblia e fortaleceria o argumento cristão! Mas será justamente o contrário nos tempos da tribulação: ninguém dará crédito ao cristianismo.

Também, há uma intensa discussão entre comentaristas sobre a tribulação ser algo local ou global. Seu principal argumento está no fato de que a vinda de Jesus foi um evento local, mas que gerou impactos globais. Isto faz bastante sentido, porém numa era globalizada, faz também muito sentido que a Grande Tribulação seja uma série de intensas tribulações em diferentes lugares do mundo. Olha o texto:
"Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; [...]
Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro," (Ap. 7:9, 13-14)
O que importa, mais do que saber sobre os impactos globais da GT, é que a igreja no mundo inteiro sofrerá e passará por ela, não haverá para onde fugir. Este será o grande momento de provar a nossa fé: "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra." (Ap. 3:10)

Por outro lado, enquanto a GT será um período de grande provação para a igreja, também será um período para sua santificação, ou seja, sua purificação e aprimoramento. No texto já citado de Ap. 7:13-14, os que passaram pela GT tiveram suas vestes lavadas e alvejadas por Cristo. Assim como as provações do nosso dia a dia levam ao aperfeiçoamento, uma grande tribulação levará a um grande aperfeiçoamento.

E isto, claro, também é bíblico. Como já vimos, o verdadeiro cristão se regozija nisso e sabe que é Deus quem está no comando e provendo que aquela situação aconteça: "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos." (Sl. 119:71). No texto de Apocalipse, os santos aparecem com vestiduras brancas, isso lembra também o que Paulo ensina de "despir-se do velho homem" e ser renovado, tornado uma nova criatura em Cristo.

O ponto principal sobre a GT, porém, por incrível que pareça, não é o sofrimento que ela traz! Assim como o foco das provações do dia a dia não devem ser elas mesmas, mas o resultado que elas trazem e o que elas prefiguram: o anúncio de um novo tempo! Jesus, na sua agenda escatológica, não está meramente alertando os discípulos sobre este período de provação, mas também está construindo uma perspectiva de esperança par ao futuro!
"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.
E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." 
(Mt. 24:29-31)
Todas as nossas tribulações, e em especial a Grande, devem ser vividas com essa esperança: que Jesus voltará e nos libertará de todas as provações de uma vez por todas! Este é o ápice da agenda escatológica de Jesus! Pode ser repetitivo nós voltarmos neste ponto que já estudamos em posts anteriores, mas é justamente ESTE o ponto mais importante!

Quando tudo parecer perdido, quando a tribulação parecer mais desgastante, é aí que a igreja mais tem que acreditar que será salva por Cristo. Ele prometeu a vitória final. Esta é a segurança que as Escrituras trazem para nossa vida. Essa vitória de Cristo também marca o fim de uma série de acontecimentos.

É o fim do processo de santificação. A igreja (nós!) finalmente estará santificada e, por consequência, glorificada. A nossa batalha neste mundo não é contra a GT ou o Anticristo e sim contra o pecado! "Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta," (Hb. 12:1)

Quando, no texto de Apocalipse que lemos, o ancião pergunta quem eram aqueles de vestiduras brancas, a resposta aponta para quem lavou aquelas pessoas dos seus pecados, para que pudessem se apresentar puras diante de Deus, fortalecidas especialmente por causa da GT. Assim como em toda a Bíblia, também no dia final a vitória sobre o pecado é a vitória de Cristo na cruz.

É o fim da tristeza, da dor. E da morte. Quando Jesus voltar e der fim à Grande Tribulação, também dará fim a todo e qualquer tipo de sofrimento. Já vimos esse texto em posts anteriores: "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Ap. 21:4)

Essa palavra de alívio é mais uma fonte de esperança para que suportemos os tempos de tribulação, testemunhando fielmente do amor de Deus e seu poder, para que sejamos encontrados fieis quando ele retornar para nos levar para casa. E neste momento é finalmente alterada toda a realidade da circunstância da vida humana.

No Éden a morte veio como uma certeza para todo ser humano, como resultado do pecado. Na GT será o ápice da "morte" e seu poder. Isso não significa apenas a morte física, mas também a espiritual, a separação de Deus, a maldade do coração do homem reinando como nunca antes. Porém quando Jesus volta, ele nos conduz às fontes da vida eterna: "pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima." (Ap. 7:17)


No final de tudo, a história da Grande Tribulação não tem a ver como o sofrimento ou perseguição, que tanto os filmes querem enfatizar. A história da GT é uma história de redenção, de libertação definitiva do pecado. É uma história de esperança. Parece loucura, mas é exatamente o que o texto bíblico quer nos demonstrar.

A igreja sempre quer ver a GT baseada numa percepção negativa. Nós devemos lembrar que Deus é quem está no comando e é Ele que nos permite passar por momentos assim. O clímax da história não é o poder do anticristo ou da perseguição durante a GT, mas é o retorno de Jesus, para reinar para sempre sobre tudo e todos!

A visão dos problemas e dores que a GT trouxer tem que estar subjugada à visão do poder de Cristo e da sua grande vitória. E o mais incrível. A vitória de Cristo é também a nossa vitória: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou." (Rm. 8:37). Que Deus maravilhoso é esse! Que nos concede vitória por meio de Jesus Cristo, nosso salvador!

Como somos imerecedores deste tão grandioso amor! Oh, Deus, me ajuda a ser um servo fiel aqui nessa terra, me ajuda a aguardar o retorno de Cristo suportando as aflições do mundo com olhos da fé, crescendo com as provações que o Senhor me permitir passar, frutificando e testemunhando do teu amor para todo o mundo ver, sim, para todos verem que Jesus Cristo é o nosso salvador. Seja meu guia e minha luz!

Maranata! Vem, Senhor Jesus!

S.D.G.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Escatologia - O anticristo II

Fala pessoal! Estamos de volta, continuando a estudar Escatologia, o estudo dos "últimos tempos". Já vimos um tantinho de coisa, que pode ser verificada nesse link aqui. No último post começamos a falar do tal anticristo. Vimos suas principais estratégias, vimos como a igreja deve se portar diante dele e, principalmente, do espírito do anticristo, ou daqueles que se comportam tal como ele. No post de hoje vamos abordar mais especificamente a identidade do anticristo.   

Temos dois textos um pouco grandes que são importantes para abordar, ambos em Apocalipse 13. Então, bear with me, o primeiro é sobre a "besta que emerge do mar": 
Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. 
Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? 
Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. 
Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. (Ap. 13:1-9)

Em primeiro lugar, se você veio aqui para saber quem é o anticristo, se você veio aqui para saber se ele já está entre nós, se você veio aqui para saber onde ele está ou ainda quanto tempo até ele se manifestar, bom... você vai se decepcionar. As respostas que você procura não estão na Bíblia, estão nos filmes de Hollywood, nas séries do Netflix, nos livros de ficção e terror. Quase nada do que se tem aí na mídia se aproveita. Aqui temos que pensar biblicamente sobre essa figura.

Já vimos no post anterior que todos que negam Jesus e seu papel são anticristos, eles carregam em si o desvirtuamento da verdade, colocando-se no lugar de Jesus (seja como intermediador entre Deus e homens, seja como agente da salvação das pessoas) e fazem isso com um falar que agrada os ouvidos daqueles que não temem realmente a Deus. 

Quando falamos da agenda escatológica de Jesus e também quando expomos as diferentes correntes da escatologia, destacamos que, para muitos, o anticristo não é uma pessoa, mas sim uma ideologia ou uma instituição. Isso faz bastante sentido quando pensamos em seitas ou religiões modernas que buscam desvirtuar a verdade, bem como trocar o lugar de Cristo por algum substituto. 

Também várias ideologias cumprem esse papel. No Marxismo, por exemplo, a religião é entendida como o "ópio do povo", por isso, sendo uma ideologia essencialmente ateísta, faz sentido que ela não dê a Cristo seu devido lugar, bem como desvirtue a Bíblia para atender seus propósitos. Em termos mais simples, também o Evolucionismo tem esse papel, visto que tira o papel do Deus Criador e, por consequência, todo o plano de salvação que Ele estabeleceu.

Mas será que haverá um único indivíduo que concentrará tudo isso? Que será uma espécie de ápice da ideia do Anticristo? Isso não é totalmente claro nas Escrituras. Há autores que defendem que a ideia do anticristo seria um movimento político-ideológico-social, enquanto outros são ferrenhos em dizer que é uma pessoa específica. Não vejo razão para que não analisemos os dois lados da moeda.

Para alguns o anticristo deverá ser um homem, tal como Cristo foi. E justamente por ser homem haveria várias semelhanças com a história de Cristo. Ele seria a "besta que emerge do mar". Na descrição da besta que emerge do mar, ela sofre um golpe fatal, mas sobrevive (verso 3), o que já traz uma quase-semelhança à ressurreição de Cristo. 

No nosso texto inicial vemos os chifres e as muitas cabeças: no contexto bíblico, os chifres estão relacionados a poder político e as muitas cabeças são as ramificações desse poder (à luz de Daniel 7, por exemplo). É daí que muitos argumentam que seria um importante líder político. Mas com certeza também deveria ser um líder eclesiástico, visto que a principal característica do Anticristo é tirar o lugar de Cristo. Isso é corroborado pelo texto bíblico (o outro texto grande do qual falei. Bear with me.):
Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. 
Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; 
e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. (Ap. 13:11-15)
Espero que ninguém tenha dúvida que esses textos não devem ser interpretados literalmente, né?. Não haverá um monstro mítico que emergirá da terra ou do mar e serão adorados: o texto bíblico está dando indicativos e símbolos que apontam para aqueles que exercerão esse papel. Neste trecho, e à luz de Apocalipse 12, também, os personagens da nossa história são: dragão (Satanás), a mulher (igreja), o filho varão da mulher (Cristo), a besta que emerge do mar (o Anticristo) e a besta que emerge da terra (uma espécie de profeta do Anticristo).

Aqui cabe uma importante questão: o Papa é/será o Anticristo? Eita, outra pergunta hollywoodiana, né? Os escritores adoram essa teoria. E ela se encaixa tão bem! É um homem com poder político e eclesiástico, dá pra fazer uma ótima história! Só que não é isso que o texto bíblico aponta, necessariamente. 

O Papa é um anticristo, mas assim são também todos os outros líderes de seitas carismáticas, por exemplo: todo aquele que se diz ser intermediador entre Deus e homens ou que criam diferentes formatos e mecanismos para "se achegar" a Deus, que não aqueles descritos na sua Escritura. Entram aí, além do Papa, diversas outras pessoas que ocupam esse lugar. Os pais da Reforma Protestante chamaram o Papa de Anticristo justamente por isso, porque ele se dizia detentor de um lugar que na verdade pertencia somente a Cristo. Gente, esqueçam Hollywood.

É a corrente dispensacionalista que mais contribui para esse tipo de perspectiva. Alguns autores dessa teoria afirmam não somente que o Anticristo é um homem, mas que ele está vivo hoje e atuando entre nós, esperando apenas o momento de emergir (uhh... que filme legal!). Há autores que datam da década de 1960, afirmando até o dia que a criança ia nascer. 

O Anticristo em muitas correntes já foi Hitler, Winston Churchill, Gorbachev, Bush, e agora, o da vez: Trump. Esse tipo de afirmativa não vem de hoje, já no século IV (+/- 397 d.C.), o monge Martinho de Tours afirmava não apenas que o Anticristo iria vir, mas que (já naquele tempo) ele "estava entre nós".

Esse tipo de afirmação sensacionalista serve apenas sabe para quê? Curiosidade e mistério. Duas coisas pelas quais a Escatologia não deve se interessar nadinha. O estudo dos últimos tempos não é para trazer misticismo ao Cristianismo! Não deve apontar para um lugar no futuro onde coisas terríveis irão acontecer! É justamente o contrário! Escatologia serve para apontar para o agora, olhando para o futuro. É assim que devemos viver a vida cristã!

O outro lado da moeda é que o anticristo na verdade seja um movimento, apoiado, por exemplo, por uma instituição. Isso pra mim faz bastante sentido, ainda que não satisfaça totalmente o argumento.

Por um lado, a ideia que o Anticristo fosse uma pessoa me parece meio óbvia demais. Quero dizer com isso que na hora que uma figura dessa surgisse, só daria mais força para o argumento bíblico! A gente parte do pressuposto que a humanidade seria totalmente cega, que sofreria uma lavagem cerebral total. Mas isso é muito ficção! Não dá pra imaginar que absolutamente todos ficariam cegos. E estou falando até de não-cristãos.

Na Alemanha nazista de Hitler, muitos acreditavam que a sociedade alemã aceitava os abusos de Hitler para com os judeus porque o ditador tinha um forte esquema de propaganda que mascarava a verdade dos cidadãos. Mas hoje a literatura e a ciência mostram que isso não é totalmente verdade. Ainda que houvesse aqueles enganados por Hitler, havia uma boa parte da população que sabia o que estava acontecendo, mas não fazia nada a respeito.

Na hora que uma pessoa com tamanha autoridade e poder surgisse, os cristãos poderiam afirmar: "Viu só?! Eu falei! Olha aqui, tá na Bíblia!" e, de repente, o texto bíblico passaria a ter mais força. Ok. Ok. Eu sei que muitos estão pensando que isso é contornável, que ainda é possível enganar. Mas não sei se esse pressuposto ficaria tão simples assim de resolver. A sociedade não é simples. As coisas não são apenas preto e branco toda hora. Essa visão simplista serve mais para alimentar superstições e grupos do que necessariamente explicar a verdade.

Por outro lado, faria sentido que fosse uma pessoa pela simetria da coisa: seria encarnado, assim como Cristo foi. Além disso, é fácil as pessoas se identificarem com uma pessoa que tenha algo em comum, algo do tipo "é gente como a gente". Mas também isso pode acontecer com uma ideologia que envolve diferentes tipos de pessoas, ou mesmo uma instituição.

Mas aí vem o problema de novo: sempre que se fala do anticristo como uma instituição a coisa vai pra uma perspectiva de "nova ordem global", uma espécie de "união internacional", como se todos os países fossem se unir e tornar-se um só no fim das contas. Gente! Que coisa! Em tempos onde o nacionalismo é cada vez mais exacerbado (olha aí as migrações!), em tempos que países se auto-afirmam com bastante evidência (EUA x China). Como analista de relações internacionais esse tipo de pensamento é tão simplista que me dá coisas!

Muitos querem fazer um paralelo com a Torre de Babel, onde os seres humanos se reuniriam finalmente sob o mesmo regime, coisa que "Deus não deixou" na primeira vez, e seria justamente o Anticristo a fazer isso. Mas... gente! DEIXA HOLLYWOOD! Cara, por mais interconectado que o mundo esteja, também cada vez mais as pessoas e os países estão afastados uns dos outros! Isso tudo é tecnofobia? De olhar pra tecnologia como agente do apocalipse? Que espécie de mal é esse que vemos teorias da conspiração a torto e à direita?

Essa união, no argumento institucionalista, também ocorreria religiosamente. Os defensores apontam que cada vez mais há um ecumenismo vigente que faz com que as pessoas se unam religiosamente, respeitando umas às outras e tudo mais. Porém... respeito é uma coisa, aceitar e defender é outra! Um verdadeiro cristão não vai abrir mão dos pressupostos básicos da fé, ainda que respeite a dos outros.

Aí você fala: "Sim, mas esse é o verdadeiro cristão, o remanescente da igreja, sobre o qual Jesus falou". Aí eu aceito seu argumento e digo: Tá bom, agora faz essa onda ecumênica ser aceita pelo islamismo! Até o islamita mais liberal não abre mais de diversos pressupostos da sua religião que são diametralmente opostos à ideia de que o islamismo é "mais uma" entre várias religiões.


Em ambos dos lados há problemas, mas ambos parecem parcialmente corretos. O que podemos tirar disso, afinal? É que Deus preferiu não tornar isso claro. "Mas por quê?". Porque, caros, Deus não precisa ficar satisfazendo nossa curiosidade. O que está revelado em Sua palavra é para nos instruir no que realmente importa: viver uma vida santa, que anuncie a volta do senhor Jesus.O ensino escatológico é para nos preparar.

Seja qual for das opções sobre o anticristo, o que temos que lembrar é que se ele for uma pessoa, será apenas isso: uma pessoa. E jamais será maior que Cristo. Ele foi a verdadeira representação do Deus encarnado e o único que realmente cumpriu tudo o que estava previsto. E se for uma instituição, nós também temos a nossa instituição para suportar e nos preparar para tempos de aflição.

O que é importante lembrar do anticristo: 1) seu caráter usurpador: quer colocar-se no lugar de Cristo; 2) a realidade do espírito do anticristo, ou seja, o modo de pensar e agir como ele; 3) o perigo interno do anticristo: seu ensino pode estar dentro das nossas igrejas; 4) a "humanidade" do anticristo: seja lá o que ele for, não será nada fantástico ou incrível, será algo com o qual as pessoas poderão se identificar e terão desejo de seguir.

Como é que a gente faz pra reconhecer se um dinheiro é falso? A gente compara ele com o verdadeiro, vê se tem as marcas, vê se o material é o mesmo. Nosso padrão de medida é a Bíblia e nela e suas verdades é que temos que nos focar e não na curiosidade de saber o que não é preciso saber. O que precisamos é viver uma vida apegada à verdade do Evangelho e pregar isso a todos!

Sejamos testemunhas de Cristo, mesmo quando chegarem os tempos de aflição.
Até lá, seja Ele nosso guia e nossa luz.

S.D.G.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Escatologia - O anticristo I

Olá, pessoal! Vamos continuar estudando Escatologia, o estudo do "fim dos tempos" e, não, isso não significa apenas o Apocalipse (já vimos isso aí). Já abordamos também uma série de outros temas que nos ajudaram a ver como essa temática nos prepara para a volta de Cristo e nos ensina a viver uma vida que agrade a Deus enquanto aguardamos. O tema de hoje já está aí no cabeçalho, é o tão falado "Anticristo". Quem é, afinal, essa figura? Já está agindo? Para quê ele veio ou virá?     


Estas são perguntas que tem desafiado uma infinidade de autoridades filosóficas, teológicas, políticas, e por aí vai. Mas afinal, o que há revelado na Escritura sobre ele? Já vimos que o próprio Jesus, ainda que não use o termo "Anticristo", refere-se a ele no seu sermão escatológico (a famosa agenda escatológica de Jesus). Vamos passar então a ver mais de perto essa figura.

É o apóstolo João o primeiro a usar esse termo: "Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora." (I Jo. 2:18). É altamente salutar que o apóstolo faça o uso do termo tanto no singular como no plural. O termo no singular provavelmente se refere ao mesmo que Jesus falou em Mateus e Paulo em II Tessalonicenses:
"E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. [...] Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos." (Mt. 24:4-5, 23-24)
"Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição," (II Ts. 2:3)
A primeira coisa que precisamos falar é desse prefixo "anti". No nosso idioma isso indica oposição e o anticristo tem essa característica: ser contra Cristo ou querer tomar o seu lugar. É isso que Paulo ensina quando fala do tal homem da iniquidade: "o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus." (II Ts. 2:4).

Fuja um pouco da lógica hollywoodiana de ver o anticristo apenas como o perseguidor da Igreja, ou aquele que trará grande calamidade. O maior perigo dessa figura é justamente querer tomar o lugar de Cristo. É nisso que a Bíblia põe ênfase: é reforçado no ensino de Jesus quando ele chama de "falso cristo" e também pelo apóstolo João lá no Apocalipse. 

Lá no capítulo 13 tem a descrição da besta que emerge do mar (não vou colocar o texto todo aqui porque fica muito grande). Nessa descrição, vemos que a besta que emerge do mar (que é o anticristo) afirma-se no lugar de Deus a ponto de todos a adorarem. Essa estratégia de engano também é alertada por Paulo
"e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo." (Ap. 13:8)
"Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos." (II Ts. 2:9-10)
O grande problema aqui, então, é a estratégia do engano que o anticristo usa pra enganar a todos, querendo inclusive se colocar no lugar de Deus. Isto lembra muito as palavras de Jesus quando falou dos tempos da apostasia na sua agenda escatológica; lembra-nos até quando Paulo alerta que mesmo a forma de Satanás não é necessariamente "feia": "E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz." (II Co. 11:14). (Aliás, já estudamos isso aqui).

O anticristo, por sua vez, não apenas engana, mas também persegue a igreja (também já vimos isso quando falamos da agenda escatológica). Podemos lembrar também das palavras de João quando nos alerta que a luta dos santos contra os inimigos da igreja será algo constante nos últimos dias, sendo a igreja salva apenas pelo próprio Deus: "Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu." (Ap. 20:9).

Agora, em outro ponto sobre a figura do anticristo, veja o que o apóstolo João disse: "todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo." (I Jo. 4:3). Esta ideia está fortemente ligada com o texto do começo desse post onde aparece o termo "anticristos" (no plural mesmo).

Em primeiro lugar, cabe dizer que o "espírito do anticristo" não é um fantasma, um espírito personificado (tipo um demônio) ou algo assim: esqueçam Hollywood! "Espírito" aqui é como se fosse "comportamento" ou "modo de pensar". Pense no Zeitgeist, o "espírito do tempo". De maneira bem esdrúxula, poderia dizer que é parte do Zeitgeist atual que as pessoas sejam muito focadas em redes sociais, ou seja, é uma marca dos nossos tempos.

Assim, o "espírito do anticristo" tem a ver justamente com aquelas pessoas que tem um modo de pensar que lembra as atitudes do anticristo: daí João os chamar de "anticristos". E qual seria esse comportamento? Ora, o que já vimos: ensino falso! Esses são os que os apóstolos constantemente chamam de "falsos profetas", "falsos mestres", "falsos apóstolos".

Aí eu pergunto: tem algum desses hoje em dia? Gente que ensina mentiras sobre a Bíblia? Gente que deturpa a Palavra pra benefício próprio (como ganhar dinheiro)? Gente que tenta se passar por Cristo (no sentido de ser o salvador e de se dizer o verdadeiro caminho para Deus)? Gente que, de propósito, interpreta erroneamente as Escrituras pra daí justificar seus pecados? O espírito do anticristo é uma realidade hoje.

O ensino que é pregado por essas pessoas revela ainda outra verdade sobre o espírito do anticristo: foco nas coisas do presente, nas coisas do mundo, e não nas de Deus, do porvir. E João sabia disso, por isso alertou: "Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo" (I Jo 2:15-16)

Aqueles que são do mundo, falam do mundo. Quem ama o mundo, deseja ouvir sobre as coisas do mundo. E tudo isso, necessariamente, não falam da parte de Deus: "Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve." (I Jo. 4:5)

O ensino destas pessoas é que revela sua verdadeira intenção e nós temos que estar atentos: "Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro." (I Jo. 4:6)

É justamente por isso que essa é uma realidade do presente: "Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios" (I Tm. 4:1). Aqueles que vivem segundo o espírito do anticristo antecipam a manifestação do iníquo (que já vimos acima no texto de II Tessalonicenses).

Por fim, qual deve ser nossa posição sobre isso? Como a igreja deve reagir diante dessas verdades? Já vimos, em grande parte, a resposta a essas perguntas na agenda escatológica de Jesus (leiam os posts!).

O maior contraste que a igreja terá com a figura do anticristo será seu apego à verdade e sua defesa. Enquanto o anticristo trabalha com o engano, a igreja será um pilar para resistir à estratégia do erro:
"Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai." (I Jo. 2:24)
Mas manter essa verdade viva não será uma tarefa fácil. A perseguição contra a igreja já é uma realidade nos dias presentes. Em qualquer momento, porém, só será possível resistir confiando em Deus e suas promessas: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." (Jo. 16:33)

Esse bom ânimo só pode provir de Cristo. Se a igreja se contaminar com o mal deste mundo e seus ensinos, então já estará derrotada. A igreja está encarregada de guardar a verdade e de continuar falando dela a todos. Isto ocorrerá até o dia final: "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se." (Ap. 22:11).


A igreja não precisa ter medo do anticristo ou daqueles que vivem conforme seu espírito, seu modo de pensar. A igreja deve continuar sendo testemunha da verdade, bem como Cristo ordenou. Estejamos atentos aos anticristos que surgem nos meios das igrejas: pregando palavra com aparência de verdade, mas deveras sendo agentes da destruição da verdade.

Esse post foi diferente do que muitos talvez esperassem. Porque muito mais importante do que saber se o anticristo é uma instituição, uma ideologia, uma pessoa, se já está no mundo ou não (ainda que isso também seja importante e vamos falar disso), é saber como devemos nos preparar e agir durante esses dias. A igreja deve deixar claro que pertence a Deus e não ao mundo.

Estejamos atentos e testemunhemos confiadamente sobre o poder de Deus e sua Palavra. Seja Ele nosso guia e nossa luz.

S.D.G.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Escatologia - A noiva e o noivo II

Hello ladies and gentlemen! Estamos de volta com nossos estudos de Escatologia: o estudo dos fins dos tempos. Já tivemos uma boa caminhada até aqui desvendando diversos aspectos dessa temática, sempre sob a ótica da Bíblia. No último post exploramos a parábola das virgens, vimos, principalmente como a parábola revela a figura do noivo e sua centralidade. Vamos reproduzir rapidamente a parábola abaixo e depois daremos continuidade.   
"Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. 
E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. 
Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora." (Mt. 25:1-13)

Pois bem. A noiva. A peça principal da festa de casamento. Há quem diga que se o noivo faltar no dia da festa, ninguém nem nota a falta dele, pode seguir o barco, agora se a noiva faltar... Não tem festa. Até agora vimos a responsabilidade da Igreja (a noiva) para com a chegada de Cristo (o noivo). Porém o ato de preparação da noiva, ou da Igreja de Cristo, é também um ato do Pai, foi Ele quem fez essa escolha. Vejam o que Jesus diz nessas passagens:
"Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora." (Jo. 6:37) 
"Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra." (Jo. 17:6)
O Pai já havia escolhido estes que deu ao Filho antes mesmo da fundação do mundo, vejam que texto magnífico: "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." (Rm. 8:29). E temos também o clássico em Efésios que reforça essa ideia: 
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; [...]" (Ef. 1:3-4a)
Vemos que desde o começo dos tempos, o Pai tem preparado a sua igreja para essa união eterna, por meio de Cristo. Ele começou a fazer isso lá, mas permanece fazendo e continuará até o Apocalipse, olha só: "Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva" (Ap. 21:2)

A noiva é preparada e transformada para desposar o noivo. E, o mais incrível, como já vimos no estudo anterior, é o próprio noivo que garante tudo isso. Essa preparação da noiva é justamente torná-la cada vez conforme a imagem de Cristo. Já vimos isso no texto de Romanos 8:29 (acima), mas também é presente em II Coríntios: "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito." (II Co. 3:18)

Já entendemos, portanto, que Cristo prepara a sua noiva, no texto que lemos em Apocalipse, vimos que a noiva já aparece vestida e pronta para o noivo. A preparação, como já vimos também, é justamente a redenção trazida por Cristo. Mas para quê ele faz isso? A resposta é: "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." (Ef. 2:10). 

Por certo que não são as obras que nos salvam, é Cristo por meio de seu sacrifício, mas as obras são consequência de uma fé genuína no Filho e na sua salvação. Só quem realmente pode purificar a Igreja é Cristo: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus." (Fp. 1:6)

E, claro, quando se fala de casamento, não se pode esquecer da festa! Também na Bíblia o ápice da festa em si é a entrada da noiva: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles." (Ap. 21:3). E o próprio Jesus se referiu a isso na parábola das noivas, citada lá em cima, naquela parte que o noivo chega e se fecha a porta. (só ver no texto no começo do post). 

O momento máximo da existência humana será cumprir aquilo para o que foi criada: habitar ao lado de Deus, desfrutando plenamente de Sua presença. A preparação da Igreja visa estar pronta para morar com Cristo: 

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também." (Jo. 14:1-3)


Que absolutamente magnífico! Como pode? O próprio Deus nos escolhe, o Cristo nos redime, o Espírito Santo nos nutre para que vivamos de modo agradável a Deus. Nós não temos direito a nada. Não é por nós, não é, nem um pouco. Os textos aqui mostraram isso tão claramente!

O casamento é o exemplo que ilustra a união de Cristo e da Igreja, como já falamos várias vezes. Jesus usou esse exemplo para dar confiança à Igreja, porque é o noivo que trabalha; mas, claro, ao mesmo tempo, a noiva tem que estar preparada. Na agenda escatológica, como já vimos isso aponta que nós devemos estar prontos para a a volta de Jesus.

Isso já foi dito várias vezes em outros posts: Escatologia serve para nos mostrar como devemos viver hoje. Como estamos nos preparando? Vivemos nossas vidas lembrando da iminência da volta de Jesus? Lembrando da parábola e do post anterior: quais são as nossas prioridades? Essas perguntas têm que martelar na nossa mente para que vivamos uma vida agradável a Deus, enquanto aguardamos a hora incrível em que iremos vê-lo face a face e morar para sempre ao seu lado.

Deus maravilhoso, que privilégio é esse! Como eu não sou merecedor dele! Me ajuda a seguir nos teus caminhos e ser um servo fiel. Até lá, esteja com todos nós. Seja nosso guia e nossa luz.

S.D.G.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Escatologia - A noiva e o noivo I

Fala pessoal! Estamos aí novamente com mais um post sobre Escatologia, a doutrina dos "últimos tempos". Já tivemos uma boa caminhada até aqui e vimos vários temas interessantes. O de hoje não deixa de ser, especialmente quando lembramos que Escatologia tem mais a ver com preparação e evangelização do que com mera curiosidade (algo que já vimos!).  


Caros, quando é que devemos nos preparar para algo? Presumo eu que sua resposta será: "Antes que aconteça". Vai viajar? As malas serão feitas antes. Vai fazer uma prova? Melhor estudar antes dela acontecer, não é? A lição de hoje está diretamente ligada com a ideia de preparação, especialmente por causa de nosso texto inicial. O texto é Mateus 25:1-13. Ele é longo, mas é necessário que eu o coloque aqui, porque vai ser a base do nosso estudo.
"Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. 
E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. 
Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora." (Mt. 25:1-13)
Na Bíblia, de maneira geral, o casamento é utilizado para falar da relação de Deus com o seu povo ou de Jesus com a Igreja. No Antigo Testamento, por exemplo, vemos: "aquele dia, diz o Senhor, ela me chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal." (Os. 2:16) , em referência à idolatria de Israel em servir a ídolos; e ainda outro texto onde isso é mais evidente: "Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra." (Is. 54:5)

Essa analogia se repete no novo testamento. Por exemplo, em Ef. 5, o conselho de Paulo aos maridos é análogo ao comportamento de Cristo: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela," (Ef. 5:25). Também o apóstolo João em Apocalipse faz menção a esta união: "Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo." (Ap. 21:2)

Na parábola que lemos, também, o casamento é o contexto onde estão acontecendo as coisas e a figura do noivo tem um papel fundamental. Isso ocorre porque na cultura daquela época, era o noivo que tinha a iniciativa de ir à casa do pai da noiva e pedir para casar com ela. Para tanto, o sogrão exigia-lhe um "dote", ou seja, um preço a pagar para dar sua permissão.

Depois de ter pago o dote (uns dois dromedários, talvez?, dependia da moça, claro), o noivo ia então à casa do seu pai e lá deveria construir o local onde moraria com sua esposa: podia ser um quarto a mais ou então uma pequena casa na propriedade do pai. E não somente construir uma pequena casa, ali deveria haver provisões, móveis, tudo perfeito para ser um lar.

Somente depois de ter tudo isso feito é que então, na noite do casamento, ele ia até a casa da noiva para levá-la consigo e celebrar as núpcias. Tudo isto era feito num clima de festa e como um jogo: ele ia com seus amigos (padrinhos) e a noiva ficava aguardando sua chegada com suas amigas e familiares (madrinhas). Estes também funcionavam como testemunhas do casamento. É a estes grupos que a parábola faz menção: as 10 virgens, por exemplo, eram a noiva e suas madrinhas.

A tarefa do noivo, nesta noite, era chegar "escondido", talvez tarde da madrugada para "roubar" a noiva. Por certo que era tudo uma grande brincadeira, tanto que se a noiva e as madrinhas dormissem, era tradição que um dos padrinhos desse um grito de alerta avisando que o noivo chegaria.

Tendo então a notícia que o noivo chegou, a noiva e suas madrinhas pegavam rapidamente suas lâmpadas e iam correndo de encontro ao noivo, onde deveriam conduzi-lo para a casa e ali celebrar a festa de casamento junto com seus amigos. No solo pedregoso de Israel, era absolutamente necessário ter a lâmpada em mãos, para que a noiva e suas amigas não tropeçassem e caíssem.

A figura do noivo então tinha uma força modeladora sobre o comportamento da noiva. Por certo que aqui quando falamos do noivo estamos nos referindo a Cristo, e Ele é quem tem o foco em todo o processo de redenção (tanto no Antigo quanto no Novo Testamento). Se lembrarmos dos estudos sobre a agenda escatológica de Jesus, podemos ver que ele sempre alerta os discípulos para que estejam de prontidão para as coisas que anuncia.

No caso da parábola em questão, ele faz isso no final dela, como a aplicação dela (ver o verso 13, acima). Além disso, em outra parábola que conta a seguir tanto dá ênfase a essa questão: "Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles." (Mt. 25:19 - esse não vou explicar o contexto para deixar alguma curiosidade no ar. Para saber mais: Mt. 25:14-30).

O que Jesus estava tentando incutir na mente dos discípulos naquele momento era a ideia de preparação para um grande dia de festa, dia de grande felicidade!: "Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus." (Is. 62:5).

Jesus fala constantemente que a Igreja deve estar em expectativa para quando ele voltar: "e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura." (I Ts. 9b-10). Esta era a expectativa dos varões galileus em Atos, quando viram o próprio Jesus subir: "e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." (At. 1:11)

Essa expectativa molda todo o comportamento daqueles que aguardam Jesus. Foi assim com as noivas, já no verso 1 do nosso texto diz que a noiva e suas amigas saíram para encontrar-se com o noivo. Este era o desejo em seu coração e elas tinham grande expectativa para que isto acontecesse. Foi justamente essa expectativa, a força modeladora do noivo, que moldou seu comportamento.

Vale notar que na parábola havia dois tipos de mulheres: as néscias e as prudentes. O que as diferencia e caracteriza é justamente como elas se preparam para a chegada do noivo: algumas se preparam melhor que outras.

O texto bíblico aponta que essa preparação era feita carregando azeite, para caso faltasse: "no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas." (Mt. 25:4). A vida prudente se define como nós nos preparamos para a volta de Jesus, para a chegada do noivo.

Esse comprometimento está na raiz da agenda escatológica de Jesus (em boa parte foi a grande razão para eles estarem alertando os discípulos): "Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor." (Mt. 24:42).

E aqui chegamos num ponto interessante. Já vimos no texto ali acima (vs. 8-10), como essa preparação era refletido no relacionamento entre aquelas mulheres. Nestes versos específicos está o contexto em que as néscias pedem azeite às prudentes e estas negam, sob argumento de que não poderiam arriscar ficar sem.

Isso parece uma contradição: a vida cristã sempre fala de altruísmo! Olhem esses textos: "O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mt. 22:39) e ainda "Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." (Fp. 2:3-4).

Ora, então porque Jesus propõe isso na parábola? Meus caros, isto é uma questão de prioridades. Primeiro é preciso desmistificar o mito de que o cristão é um "abestado" que todo mundo pode pisar em cima, isso não é bíblico; o problema é que as pessoas pegam isso e colocam no outro oposto, não conseguindo equilibrar o amor cristão com o discernimento para viver num mundo mal. O que Jesus está falando aqui é sobre a prioridade das noivas: o noivo!

A prioridade da vida cristã é o próprio Cristo: "Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo." (Fp. 3:7). Não pode haver prioridade maior ou empecilho que justifique tirar Cristo do centro da nossa vida: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna." (Mt. 19:29).

Jesus de modo algum está propondo que negligenciemos o amor uns aos outros, jamais. O que ele está deixando bem claro é que isso não pode substituir o amor que devemos ter para Cristo. Ele é a centralidade, a prioridade, a grande razão das nossas vidas.


Notem que até aqui focamos bastante na figura do noivo. E, pelas razões que já conversamos, não poderia deixar de ser assim, não é? Mas, neste casamento, não há apenas a figura do noivo. A noiva também tem um papel primordial na história. Na parábola, e em diversos momentos na Bíblia, a noiva é o símbolo da igreja e vamos falar um pouco mais sobre ela no próximo post, não vai ficar muito grande, mas fica mais didático.

Até lá, seja Deus vosso guia e vossa luz. Preparemo-nos para a volta do nosso Senhor Jesus para que ele encontre aqui obreiros fieis à Sua Palavra, mesmo em tempos de aflição. Que Deus nos abençoe e até o próximo.