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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Escatologia - O reino inaugurado

Como estamos, amigos? Nestes últimos posts temos estudado sobre Escatologia, o estudo dos últimos tempos. Vimos alguns preceitos gerais sobre o tema, depois falamos da Agenda Escatológica de Jesus (o princípio das dores, a grande tribulação e sua gloriosa segunda vinda). Estamos aos poucos traçando um panorama geral e vamos prosseguir falando do Reino de Cristo.
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Dn. 7:13-14)

O que é um reino? Só quem habita nele é o rei? O Reino de Deus, onde está? É o céu? É o que encontraremos após a morte? Ou é algo que vai se concretizar no futuro? O reino de Deus está no paradoxo "já + ainda não", vamos ver isso adiante e entenderemos que esta é uma realidade futura, mas também é presente.

Ao falar do Reino de Deus, tem-se que ter em mente que isto é uma promessa escatológica. E, como já vimos, escatologia está presente em toda a Bíblia. Deus é frenquentemente chamado de "rei" na Bíblia. Tanto de Israel: "E o Senhor se tornou rei ao seu povo amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel." (Dt. 33:5), quanto de toda a terra: "O Senhor preside aos dilúvios; como rei, o Senhor presidirá para sempre." (Sl. 29:10).

Quanto à soberania sobre Israel como povo, Deus escolheu se revelar a eles, porém não era restrito aos israelitas (nem nunca foi!). O trabalho do povo de Israel era pregar este Deus a outras nações, e os profetas constantemente deveriam anunciar a verdade de Deus ao mundo. Inclusive, temos relatos de gentios no Antigo Testamento que se converteram, e alguns deles muito importantes para a história de Israel: é o caso de Rute, Jetro e Raabe.

Dentre as promessas e profecias no Antigo Testamento, Deus prometeu que haveria de governar as nações por meio de se Ungido. Vamos citar três textos para ver isso:
"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;" (Is. 9:6)
"Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim." (Lc. 1:32-33). O anjo Gabriel ecoando as palavras de Isaías.
"Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre," (Dn. 2:44)
Os textos de Daniel revelam isso de maneira bem clara. Se voltarmos ao texto do começo do post (Dn. 7:13-14), nele vemos que este reino seria destinado ao Filho do Homem, que carregaria todo o propósito de Deus. Este título "Filho do Homem" é apropriado por Jesus. Ele faz uso do termo várias vezes, e quando Judas o trai: "Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?" (Lc. 22:48)

O Salmo 2 é bem revelador sobre este reino de Deus. Ele começa: "Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas." (Sl. 2:1-3). 

Os próximos versos revelam características desse reino. O verso 4, por exemplo, aponta para sua natureza divina: "Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles." (Sl. 2:4). E logo a seguir aponta também para a natureza terrena: "Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião." (Sl. 2:6).

Jesus, por sua vez, tem a combinação perfeita disso. Ele tem o direito ao trono de Israel nos termos das próprias leis de Israel, porque era descendente da linhagem de Davi, a linhagem real! No capítulo 1 de Mateus temos a genealogia de Jesus, que passa por Davi. 

Por outro lado, ele também tem o direito divino de governar, visto que Ele era antes de tudo e tudo foi criado por meio dele. E a Ele também foi destinada a glória de reinar: 
"Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; [...] Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores" (Ap. 19:11-13,16).
Estamos vendo constantemente que a ideia deste reino é muito importante na Bíblia. Veja que isto foi bastante citado no Antigo Testamento e até no começo do Novo ainda estava lá: "Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus." (Mt. 3:1-2).

João Batista, neste contexto, tinha a função de "emissário do rei". Naquela época, sempre que um rei visitava outro país, era costumeiro que enviasse à frente um emissário, para anunciar a chegada do nobre e garantir os preparos da sua vinda. Isto foi reconhecido pelo próprio Jesus: "Este é de quem está escrito: Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti." (Mt. 11:10)

Aliás, o ministério de João Batista é bem salutar para explicar o reino. Porque até então estamos falando deste reino como se fosse algo no futuro, algo que ainda vai se realizar. O próprio João Batista teve essa dúvida. Vejamos. Quando ele profetizava a chegada de Jesus, parte de sua mensagem era:
"Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.(Mt. 3:11-12)
Esta parte que sublinhei da profecia de João Batista é bem importante, porque aqui ele está apontando para as coisas que Jesus faria, o caráter escatológico da vinda de Jesus. Quando ele profetiza que Jesus vem para "recolher o seu trigo", está se referindo aos santos, à salvação, à colheita daqueles que estavam sendo preparados. Isto aponta para a obra redentora de Cristo na cruz. 

Por outro lado, quando João Batista afirma que ele "queimará a palha", está ainda fazendo a analogia da colheita, em que o trigo será retirado e o campo depois será queimado, destruindo o que não presta. Mais uma vez, isto é complementar ao que o Antigo Testamento fala sobre o reino de Deus e seu Ungido. Até aí tudo bem.

Mas João Batista profetizou isso no começo de seu ministério. Ele viu Jesus ser batizado, viu que ele prosseguiu em seu ministério. Algum tempo depois, porém, João Batista foi preso e da prisão ele percebeu que Jesus realmente veio "recolher o trigo", mas ainda João ainda não estava vendo ele "queimar a palha", ou seja, julgar os incrédulos, por isso perguntou: "Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" (Mt. 11:2-3).

Jesus respondeu dessa forma: "E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho." (Mt. 11:4-5). Jesus está fazendo uma referência direta à Is. 35:5-6, onde está profetizado que na manifestação do reino do Senhor, exatamente estes milagres aconteceriam. 

O que Jesus está apontando é que a profecia de João estava se tornando realidade. O trigo estava sendo colhido e as profecias do Antigo Testamento estavam sendo cumpridas; a parte de "queimar a palha" viria apenas depois. 

Jesus está dizendo para João que já fora inaugurada uma nova fase do reino de Deus. Enquanto João profetizava que o reino estava para chegar, Jesus por sua vez diz: "Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós." Mt. 12:28).

Aqui temos que lembrar que por certo que Deus sempre reinou sobre tudo. O que estamos falando aqui é do reino predito pelos profetas, que aponta para Jesus. É a este reino que Paulo se refere, por exemplo: "Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo." (At. 28:30-31)

Jesus veio para concretizar essa nova administração da graça de Deus, a inauguração da nova etapa do reino de Deus na terra. Importante a gente lembrar, que ele vem para alargar isso: "Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam." (Rm. 10:12).

Há alguns sinais dessa nova etapa do reino. O fato de Jesus ter autoridade sobre os demônios, como lemos em Mt. 12:28 já é um deles; sobre isso ainda, a queda de Satanás é outro fato relevante (Lc. 10:18), como afirmado por Jesus. Já citamos também o caso dos milagres (Mt. 11:5), que Jesus demonstra a João Batista serem o cumprimento das promessas do Antigo Testamento.

Dois sinais importantes, porém, quero destacar para fechar esse post: um deles é a pregação do evangelho. Em Lucas 10, os setenta discípulos enviados por Jesus voltam entusiasmados: "Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago." (Lc. 10:17-18).

Jesus reafirma o poder concedido a eles, mas mostra para eles que não deveriam se alegrar por ter esse poder. Mas sim pelo que deveriam fazer com esse poder: "Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus." (Lc. 10:19-20)

Era a pregação do evangelho a principal marca, a salvação (ter o nome arrolado nos céus) é que deveria ser o verdadeiro combustível dos discípulos. Essa pregação não era apenas fruto da capacidade dada aos discípulos, mas deveria ser também uma das marcas desta nova fase do reino de Deus. Aliás, cabe lembrar que quando Jesus subiu aos céus, esta foi sua Grande Comissão.

O outro sinal da chegada deste reino que queria destacar é o perdão de pecados. Quando Jesus vem, muda toda a estrutura para a remissão de pecados com o sacrifício dele, e isto era também uma promessa do Antigo Testamento:
Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. [...] Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei. (Jr. 31:31, 33-34).
Jesus veio para cumprir isso: "E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação." (Hb. 9:28). 

Não bastasse o sacrifício de Jesus, ele próprio em vida perdoou os pecados de muitos. E este perdão de pecados feito de forma cabal por Cristo marca todo uma nova administração da graça divina sobre seus eleitos, concretizando aquilo que já estava decretado desde a fundação do mundo.


Esta é a tensão entre o "já" e o "ainda não". O reino de Deus chegou com Jesus, mas ainda não está pleno. A realidade do reino de Deus é no presente, não apenas no futuro: "Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados." (Cl. 1:13-14). Nós vivemos isso hoje!

Mas também ainda aguardamos o cumprimento das promessas no futuro: "O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!" (II Tm. 4:18). Nós aguardamos a concretização da agenda escatológica de Jesus com a sua segunda vinda, onde veremos a realização completa da sua promessa!

Vemos então que no hoje, quem crê em Cristo, já faz parte do seu reino. E por isso tem os direitos e deveres de um cidadão deste reinado. Nós temos o privilégio das bênçãos: a comunhão dos santos, o amparo de Deus em meio às tribulações, o conselho divino do Espírito Santo guiando nossas vidas, a oração, o perdão dos pecados, e muito mais! 

Por outro lado, também nos cabe os deveres de habitantes deste reino. Nós devemos cumprir a Grande Comissão de Jesus de ir e espalhar o evangelho ao mundo. Enquanto ele não volta, este é o nosso trabalho. Nossa oração deve ser a mesma de Jesus: "venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;" (Mt. 6:10).

Pense nas leis de um país: elas devem ser cumpridas? Sim. Mas eu posso cumpri-las apenas amanhã? Não, porque as leis estão vigentes. De mesmo modo é o reino de Deus: ele já é chegado, Jesus já o inaugurou. Temos que agir em conformidade com isso. Percebam que há uma estreita ligaçaõ entre o evangelismo e o reino de Deus inaugurado por Jesus.

Todo este estudo sobre o reino parece fugir um pouco da proposta escatológica, mas isso é um engano. Porque a escatologia vem para reforçar nossa fé e nos dar esperança quanto ao futuro. O problema é que, como já falamos, muitos acham que o reino de Deus é algo que só vai acontecer no futuro. A gente coloca "reino de Deus" no Google e só saem fotos do céu, ruas de ouro e tudo mais. 

Esse estudo serve para mostrar que o reino de Deus já é uma realidade presente. Nós já desfrutamos da graça de Deus por meio de Jesus, com o perdão de pecados derramado sobre nós. Nesse "já", porém, nós ainda trabalhamos enquanto aguardamos a volta do nosso senhor Jesus, em quem reconhecemos: 
Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (Fp. 2:9-11)
A este Deus toda a glória. 
Maranata, vem Senhor Jesus!

S.D.G.