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terça-feira, 19 de junho de 2018

Escatologia - A noiva e o noivo I

Fala pessoal! Estamos aí novamente com mais um post sobre Escatologia, a doutrina dos "últimos tempos". Já tivemos uma boa caminhada até aqui e vimos vários temas interessantes. O de hoje não deixa de ser, especialmente quando lembramos que Escatologia tem mais a ver com preparação e evangelização do que com mera curiosidade (algo que já vimos!).  


Caros, quando é que devemos nos preparar para algo? Presumo eu que sua resposta será: "Antes que aconteça". Vai viajar? As malas serão feitas antes. Vai fazer uma prova? Melhor estudar antes dela acontecer, não é? A lição de hoje está diretamente ligada com a ideia de preparação, especialmente por causa de nosso texto inicial. O texto é Mateus 25:1-13. Ele é longo, mas é necessário que eu o coloque aqui, porque vai ser a base do nosso estudo.
"Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. 
E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. 
Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora." (Mt. 25:1-13)
Na Bíblia, de maneira geral, o casamento é utilizado para falar da relação de Deus com o seu povo ou de Jesus com a Igreja. No Antigo Testamento, por exemplo, vemos: "aquele dia, diz o Senhor, ela me chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal." (Os. 2:16) , em referência à idolatria de Israel em servir a ídolos; e ainda outro texto onde isso é mais evidente: "Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra." (Is. 54:5)

Essa analogia se repete no novo testamento. Por exemplo, em Ef. 5, o conselho de Paulo aos maridos é análogo ao comportamento de Cristo: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela," (Ef. 5:25). Também o apóstolo João em Apocalipse faz menção a esta união: "Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo." (Ap. 21:2)

Na parábola que lemos, também, o casamento é o contexto onde estão acontecendo as coisas e a figura do noivo tem um papel fundamental. Isso ocorre porque na cultura daquela época, era o noivo que tinha a iniciativa de ir à casa do pai da noiva e pedir para casar com ela. Para tanto, o sogrão exigia-lhe um "dote", ou seja, um preço a pagar para dar sua permissão.

Depois de ter pago o dote (uns dois dromedários, talvez?, dependia da moça, claro), o noivo ia então à casa do seu pai e lá deveria construir o local onde moraria com sua esposa: podia ser um quarto a mais ou então uma pequena casa na propriedade do pai. E não somente construir uma pequena casa, ali deveria haver provisões, móveis, tudo perfeito para ser um lar.

Somente depois de ter tudo isso feito é que então, na noite do casamento, ele ia até a casa da noiva para levá-la consigo e celebrar as núpcias. Tudo isto era feito num clima de festa e como um jogo: ele ia com seus amigos (padrinhos) e a noiva ficava aguardando sua chegada com suas amigas e familiares (madrinhas). Estes também funcionavam como testemunhas do casamento. É a estes grupos que a parábola faz menção: as 10 virgens, por exemplo, eram a noiva e suas madrinhas.

A tarefa do noivo, nesta noite, era chegar "escondido", talvez tarde da madrugada para "roubar" a noiva. Por certo que era tudo uma grande brincadeira, tanto que se a noiva e as madrinhas dormissem, era tradição que um dos padrinhos desse um grito de alerta avisando que o noivo chegaria.

Tendo então a notícia que o noivo chegou, a noiva e suas madrinhas pegavam rapidamente suas lâmpadas e iam correndo de encontro ao noivo, onde deveriam conduzi-lo para a casa e ali celebrar a festa de casamento junto com seus amigos. No solo pedregoso de Israel, era absolutamente necessário ter a lâmpada em mãos, para que a noiva e suas amigas não tropeçassem e caíssem.

A figura do noivo então tinha uma força modeladora sobre o comportamento da noiva. Por certo que aqui quando falamos do noivo estamos nos referindo a Cristo, e Ele é quem tem o foco em todo o processo de redenção (tanto no Antigo quanto no Novo Testamento). Se lembrarmos dos estudos sobre a agenda escatológica de Jesus, podemos ver que ele sempre alerta os discípulos para que estejam de prontidão para as coisas que anuncia.

No caso da parábola em questão, ele faz isso no final dela, como a aplicação dela (ver o verso 13, acima). Além disso, em outra parábola que conta a seguir tanto dá ênfase a essa questão: "Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles." (Mt. 25:19 - esse não vou explicar o contexto para deixar alguma curiosidade no ar. Para saber mais: Mt. 25:14-30).

O que Jesus estava tentando incutir na mente dos discípulos naquele momento era a ideia de preparação para um grande dia de festa, dia de grande felicidade!: "Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus." (Is. 62:5).

Jesus fala constantemente que a Igreja deve estar em expectativa para quando ele voltar: "e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura." (I Ts. 9b-10). Esta era a expectativa dos varões galileus em Atos, quando viram o próprio Jesus subir: "e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." (At. 1:11)

Essa expectativa molda todo o comportamento daqueles que aguardam Jesus. Foi assim com as noivas, já no verso 1 do nosso texto diz que a noiva e suas amigas saíram para encontrar-se com o noivo. Este era o desejo em seu coração e elas tinham grande expectativa para que isto acontecesse. Foi justamente essa expectativa, a força modeladora do noivo, que moldou seu comportamento.

Vale notar que na parábola havia dois tipos de mulheres: as néscias e as prudentes. O que as diferencia e caracteriza é justamente como elas se preparam para a chegada do noivo: algumas se preparam melhor que outras.

O texto bíblico aponta que essa preparação era feita carregando azeite, para caso faltasse: "no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas." (Mt. 25:4). A vida prudente se define como nós nos preparamos para a volta de Jesus, para a chegada do noivo.

Esse comprometimento está na raiz da agenda escatológica de Jesus (em boa parte foi a grande razão para eles estarem alertando os discípulos): "Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor." (Mt. 24:42).

E aqui chegamos num ponto interessante. Já vimos no texto ali acima (vs. 8-10), como essa preparação era refletido no relacionamento entre aquelas mulheres. Nestes versos específicos está o contexto em que as néscias pedem azeite às prudentes e estas negam, sob argumento de que não poderiam arriscar ficar sem.

Isso parece uma contradição: a vida cristã sempre fala de altruísmo! Olhem esses textos: "O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mt. 22:39) e ainda "Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." (Fp. 2:3-4).

Ora, então porque Jesus propõe isso na parábola? Meus caros, isto é uma questão de prioridades. Primeiro é preciso desmistificar o mito de que o cristão é um "abestado" que todo mundo pode pisar em cima, isso não é bíblico; o problema é que as pessoas pegam isso e colocam no outro oposto, não conseguindo equilibrar o amor cristão com o discernimento para viver num mundo mal. O que Jesus está falando aqui é sobre a prioridade das noivas: o noivo!

A prioridade da vida cristã é o próprio Cristo: "Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo." (Fp. 3:7). Não pode haver prioridade maior ou empecilho que justifique tirar Cristo do centro da nossa vida: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna." (Mt. 19:29).

Jesus de modo algum está propondo que negligenciemos o amor uns aos outros, jamais. O que ele está deixando bem claro é que isso não pode substituir o amor que devemos ter para Cristo. Ele é a centralidade, a prioridade, a grande razão das nossas vidas.


Notem que até aqui focamos bastante na figura do noivo. E, pelas razões que já conversamos, não poderia deixar de ser assim, não é? Mas, neste casamento, não há apenas a figura do noivo. A noiva também tem um papel primordial na história. Na parábola, e em diversos momentos na Bíblia, a noiva é o símbolo da igreja e vamos falar um pouco mais sobre ela no próximo post, não vai ficar muito grande, mas fica mais didático.

Até lá, seja Deus vosso guia e vossa luz. Preparemo-nos para a volta do nosso Senhor Jesus para que ele encontre aqui obreiros fieis à Sua Palavra, mesmo em tempos de aflição. Que Deus nos abençoe e até o próximo.


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