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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Escatologia - I

Hello senhoras e senhores! Estamos aí de volta pra mais uma série de posts, dessa vez sobre Escatologia! Fiquei um bom tempo parado por conta dos estudos e diferentes trabalhos, mas acho que será possível escrever uma boa série de posts sobre este assunto. Estarei, junto com o Presb. Robson, ministrando esta série de aulas aos adolescentes da II Igreja Presbiteriana de Boa Vista.

Devo citar que esta série de estudos são uma adaptação das lições trazidas pela revista Palavra Viva, da editora Cultura Cristã. Ressalto que não é uma mera reprodução do conteúdo, porque eu mesmo busco agregar mais conhecimentos e claro a redação também. De qualquer modo, vamos estudar!


Aí vem a primeira pergunta: o que é escatologia? Acho que a figura acima aí já deu a dica né? A definição básica de escatologia é o "estudo dos últimos tempos", ou "das últimas coisas", basicamente fala do fim do mundo. A grande tribulação, o tal do 666, a besta, a outra besta, a mulher, e tantas outras coisas da escatologia serão estudadas por aqui. Neste post e nos outros vamos construir e desconstruir alguns conceitos aí que são perpetuados pela tradição mas que não estão na Bíblia, a nossa regra de fé e prática. 

A pergunta inicial hoje é: O que a escatologia tem a ver com nós no presente? Na nossa época midiática, é muito comum vermos temas da escatologia presentes em filmes, livros, séries e outros mas todos imbuídos de uma construção ficcional que nem sempre é a verdade.

Um primeiro alerta é: escatologia é o estudo dos últimos tempos, mas ela vai além do "futuro", é algo que está presente hoje. Os estudos de escatologia estão muito mais ligados a esperança cristã do que a saber o que vai acontecer no futuro ou o temor dos últimos tempos. Este aspecto é o que será mais explorado neste post.

O segundo alerta é que escatologia não é sinônimo do Apocalipse. A ideia desta doutrina perpassa toda a Bíblia, justamente porque a esperança cristã é algo que está presente em toda a Bíblia. Basta lembrar da primeira promessa de esperança: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gn. 3:15)

O terceiro alerta, e talvez o mais importante: NÃO devemos estudar escatologia apenas para satisfazer a curiosidade. Isto é muito, muito importante. Escatologia não serve para ser um documentário do Discovery ou Fantástico, até porque nós nunca vamos conseguir desvendar todos os mistérios que estão ali. Alguns foram deixados sem solução de propósito: Deus quer que aguardemos o dia da Revelação final.

Este último alerta é bem importante, especialmente porque essa série de posts não vem pra necessariamente fazer esses esclarecimentos, mas para utilizar a escatologia com seu real propósito. Satisfazer curiosidades é o que o mundo quer e eu não sou como eles. Devemos tentar entender como essa doutrina afeta a vida cristã hoje. E é isso que passaremos a fazer.


A primeira coisa a destacar é que a escatologia funciona como um mapa: ela propõe uma direção, aponta o caminho e diz onde vamos chegar. Este primeiro aspecto é muito importante porque é justamente um dos maiores problemas atuais da fé cristã: as pessoas esqueceram qual é o seu destino. Vivem uma vida pelo "aqui" e o "agora".

Nosso Deus não é assim. Ele é um Deus teleológico, ou seja, Ele tem propósitos, objetivos. Foi assim desde o começo; o homem, ao ser criado, não ficou a esmo, tinha uma ordenança, um propósito: "E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gn. 1:28)

Mesmo depois do pecado, Deus continuou a dar um propósito ao homem, garantindo a Ele a imerecida promessa e esperança da redenção. O caso de Caim e Abel é bem propício. Neste contexto, Eva achava que Abel já era o Messias prometido pelo Senhor (e Abel aponta para Cristo mesmo); mas Caim o mata. Mesmo assim, Eva não perde a esperança de que haveria um redentor a vir:

"Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor. [...] Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou." (Gn 4:1,25).

A esperança estava viva em seu coração porque ela não olhava para as circunstâncias do presente, mas lembrava da promessa de Deus e olhava para a direção que Ele havia apontado. De fato ainda estava longe de chegar o Redentor, mas era esta esperança que a mantinha firme.

Esta percepção de olhar para frente e buscar a direção correta é uma marca de toda a Bíblia. Este senso de missão esteve presente em diversos momentos. Apontarei aqui apenas alguns:
Abraão: "Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã." (Gn. 12:1-4)
Moisés: "Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito." (Ex. 3:7-10).
Josué: "Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais." (Js. 1:6)
E isto se repete em muitos outros momentos! O que fazia Daniel aguentar todas aquelas situações de perseguição? O que impulsionava o ministério dos profetas? Ora, qual fora a motivação maior dos discípulos de Jesus quando Ele veio, senão justamente as promessas de sua vinda no Antigo Testamento? E depois de sua morte e ressurreição, o que manteve a Igreja e a fez crescer? Ora, não fora a promessa de Jesus em retornar e o novo céu e a nova terra? Não é essa mesma a promessa de esperança e redenção que permanece para nós hoje?

Meus caros, a escatologia não fala apenas do Apocalipse! A Bíblia toda está repleta das promessas de Deus e do propósito que Ele traz ao seu povo. Fica evidente na vida destas pessoas que era a ideia do destino final apontado por Deus que os sustentava. Daí passamos para o nosso segundo ponto.


A escatologia bíblica propõe segurança. O mesmo Deus que traz as promessas é quem garante o cumprimento de todas elas. O mesmo Deus que disse a Josué que daria a ele as terras prometidas a seus antepassados foi quem garantiu que estaria com ele durante todo o processo: "Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares." (Js. 1:9)

Nosso Deus sempre cumpre suas promessas: "Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?" (Nm. 23:19)

Lembrem-se do texto que vimos de Abraão. O que leva um homem de 75 anos de idade a sair da sua terra para atender às ordenanças de Deus? Ora, a confiança e a segurança que este mesmo Deus iria cumprir o que havia prometido. Abraão tinha tamanha segurança disso que não teria hesitado em sacrificar o próprio filho se isso fosse necessário, cito dois versículos apenas para lembrar o episódio:
"Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho. E pôs Abraão por nome àquele lugar — O Senhor Proverá. Daí dizer-se até ao dia de hoje: No monte do Senhor se proverá." (Gn. 22:13-14)
Era a confiança escatológica de Abraão que o manteve firme no caminho apesar de todas as circunstâncias, ou seja, a crença nas coisas que ainda aconteceriam. Isso é confirmado pelo autor de Hebreus que diz: "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia." (Hb. 11:8).

Quem tem uma percepção da doutrina escatológica, tem a mesma fé de Abraão. Quem tem o alvo da doutrina escatológica na mente, pensa que nem Paulo: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus." (Fp 1:6).

E vale lembrar que essa fé não é cega. Nós não cremos porque cremos, nós temos ao nosso lado a lógica, os fatos, e diversos outros motivos para demonstrar que há razão na nossa esperança, que nossas ideias e ideais não são loucuras, mas tem em si motivos também intelectuais. Para saber mais sobre isto, basta ver a série de posts sobre Apologética neste blog.


Neste terceiro e último ponto, lembramos que a Bíblia aponta o destino final da existência humana: "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros." (Ap. 20:11-12)

Em nossas vidas, cada acontecimento está sob o Decreto Eterno de Deus (doutrina que podemos estudar em tempo oportuno). Não obstante, a nossa vida é uma soma, um conjunto das decisões que tomamos conforme o tempo passa. O que a Bíblia nos relembra é que nós prestaremos conta dessas ações. A ideia do juízo está presente na Bíblia também:
"Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Ec. 12:14)
"é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo," (II Pe. 2:9)
O conhecimento de uma boa doutrina escatológica automaticamente nos leva a um estilo de vida próprio. Quando o cristão tem os olhos nas promessas e esperanças que a escatologia relembra, ele entende que a sua vida não pode ser pautada pelo comportamento do que é terreno: ele sabe que deve ter um padrão de alguém do Reino dos Céus. Este é o terceiro e último ponto: a escatologia bíblica nos propõe um padrão a seguir.

Isto significa que o cristão já deve ter agora a perspectiva do futuro e viver pautado por ela. Lembro do exemplo de um pastor já idoso cristão que dizia claramente: "Eu sei que sou velho, mas também sei que não vou morrer". Ué! Mas como assim?, eu pensei. Aí ele complementou: "Esse meu corpo pode até perecer, mas eu não sou um cidadão dessa terra, eu pertenço ao Reino dos Céus, e é lá que vou morar."

Que profundo! E quão verdadeiro é isso! Se tivéssemos sempre esta mentalidade, estariam solucionados tantos problemas dentro das igrejas e nos testemunhos de pessoas ditas cristãs. A escatologia serve também para nos lembrar de como devemos viver nossa vida no presente.

Esse padrão de vida, em verdade, é o esperado de todo verdadeiro cristão que anseia a volta de Jesus. Paulo viveu sua vida na terra lembrando sempre de qual era seu destino final: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda." (II Tm. 4:7-8)
"Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-seE eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas." (Ap. 22: 11-14)
É exatamente essa percepção que deve nos impelir a viver adequadamente aqui. Não por obrigação nem porque "a Bíblia manda"! Não! Nós fazemos (e eu estou incluso nisso) porque temos a maior de todas as alegrias em servir ao nosso Deus e não vemos a hora de vê-lo voltar, e Ele nos encontre vivendo em Seus caminhos. Ah quão doce esperança! (Maranata!)



Vimos portanto que a doutrina da escatologia nos ajuda: a) a dar um sentido para nossa vida; b) a ter esperança no futuro; e c) nos lembra como devemos viver no presente. Mas é importante ainda lembrar que para ter uma verdadeira fé escatológica nós precisamos de pelo menos três elementos:

  1. Conhecer a Palavra de Deus para termos a verdadeira confiança e sabermos o caminho: "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos." (Sl. 119:105).
  2. Conhecer e reconhecer o caráter de Deus, saber que Ele é perfeito e não falha. Foi o que Sara fez: "Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa." (Hb. 11:11)
  3. (Re)conhecer a necessidade humana da ação divina: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." (Jo. 15:5)
Finalizamos este primeiro post lembrando que nossa esperança deve estar em Cristo. É disto que trata, em última instância a escatologia. É por causa desta esperança que temos no hoje as alegrias dos tempos vindouros: "Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;" (I Pe. 1:6-7).

Que o Deus do passado, presente e futuro seja vosso guia e vossa luz.
Até o próximo post.

S.D.G.