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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Escatologia - Galardão no céu

Olá, pessoal! Este post ainda continua os estudos sobre Escatologia, mas não faz parte do "cânon" das lições apresentadas na revista que uso para as aulas com os adolescentes da II Igreja Presbiteriana de Boa Vista. Ele surgiu de dúvidas apresentadas em sala de aula. O que é esse galardão no céu? Alguns vão receber mais que outros? Como Deus vai recompensar a gente?

Esse foi o ponto de partida para este estudo. Vamos lá.   


O que é esse tal "galardão"? Uma definição mais direta do termo é: "Reconhecimento; compensação por serviços de um valor muito elevado." Com isso já temos uma ideia geral do que é isso. A Bíblia cita essa palavra em diversas passagens: 22 vezes na versão Almeida Revista e Atualizada, para ser mais exato. E notem que isso não acontece apenas no Novo Testamento:
"Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, uma visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande." (Gn. 15:1)
"O galardão do humilde e o temor do SENHOR são riqueza, e honra, e vida." (Pv. 22:4)
Estes dois textos apontam para a recompensa dada pelo Senhor aos seus servos, já no Antigo Testamento. Promessas que já se cumpriram em certa medida. No Novo Testamento, o termo está vinculado a promessas presentes e futuras:
"Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós." (Mt. 5:12)
"Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá." (I Co. 9:18)
"Eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras." (Ap. 22:12)
E é justamente neste último texto que se concentra a discussão sobre "galardão". Como Deus vai retribuir isso? Infelizmente esta é uma conversa que acaba caminhando para a velha discussão entre os discípulos: "Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?" (Mt. 18:1)

No céu não haverá diferente grau de santidade entre os eleitos. Não tem como isso acontecer. Porque céu em si já é a maior consumação possível da graça. Vamos lembrar da parábola dos trabalhadores na vinha (Mt. 20:1-16).

A parábola basicamente descreve um patrão que primeiro contrata um servo pelo salário de 1 denário para trabalhar o dia inteiro. Só que conforme o dia vai passando, o patrão contrata outros servos para trabalhar no dia. Porém, ao final, ele paga 1 denário para todos, mesmo aqueles que chegaram depois. Aí o servo que começou primeiro pergunta porque ele fez isso, já que achou injusto. A palavra do patrão é bem simples: "Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti." (Mt. 20:13-14).

Há uma ânsia em querer se comparar, em olhar para os outros e ver se você está se dando melhor que ele. Quanta maldade e egoísmo no coração humano! Porque o proprietário pagou todos da mesma forma? Porque isso é um meio de graça! Nós somos vistos da mesma forma perante Deus, não pelo que nós fizemos, mas por Quem fez por nós. E já que Jesus nos tornou iguais diante de Deus, também é natural que nosso tratamento assim o seja: "dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz." (Cl. 1:12)

A Bíblia nos aponta que muito mais que filhos de Deus, somos coerdeiros com Cristo! "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados." Isto já é suficiente para nos mostrar que o galardão no céu é pouco se comparado à graça maior que simplesmente estar no céu.

Incorre em outro erro quem pensa que galardão é algo que nos é devido pelas nossas obras. Por certo que nossas serão recompensadas, a Bíblia ensina isso (basta ver os textos que já lemos sobre o galardão). Mas a nossa salvação não vem por essas obras! A salvação é dada simplesmente pela graça divina. Tais obras são apenas consequência da salvação.

E justamente porque a conversão é um processo individual único, e também porque ninguém é igual a ninguém (e graças a Deus por isso!), Ele destinou pessoas diferentes para obras diferentes, basta lembrar da analogia do corpo e a unidade da igreja em I Coríntios (o texto é grande mas vale a pena ler):

"Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo." (I Co. 12:14-20).

E Paulo ainda vai continuar apontando diferentes dons (I Co. 12:28) e demonstrando como cada um deles serve a um propósito diferente, conforme a necessidade da igreja. Meus irmãos, como vamos comparar os dons? Como podemos nós medir os resultados? Quem fez mais: Lutero ou o pastor da igreja local que pela sua simples pregação transformou a vida de uma cidade? Como podemos nós medir isso e dizer quem vai ser mais ou menos recompensado?

Lembrem-se: pelas nossas obras nós não merecíamos nada de Deus. Não somos Seus devedores. "porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade." (Fp. 2:13). É ainda mais dura a palavra de Jesus:
"Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer." (Lc. 17:9-10)
O galardão, seja lá o que ele for, é justo a cada um de nós: conforme Deus determinou. o Melhor exemplo que achei para descrever isso é como se nós chegássemos no céu com copos, copos de beber mesmo, mas cada um de tamanho diferente, conforme Deus proveu que fossem eles. Então nós chegamos lá e Deus enche todos esses copos, de modo que estejamos plenos e completos! Não teria nem como receber mais porque não caberia nos nossos copos. Nós estamos completamente regozijados!


Ao final, então, o que é o galardão? Uma coroa? Um objeto precioso? Que valor têm jóias no céu onde ouro é sinônimo de tijolo (já que as ruas são feitas disso)? Por certo que a Bíblia estava apontando apenas para algo muito valioso, precioso. E isso também é uma das coisas que a Bíblia não revela totalmente: o que é o galardão?

Não importa! Foi revelado o suficiente: que temos que fazer boas obras para glorificar o nosso Pai que está nos céus e que depois Ele, mesmo não precisando, nos retribuiria conforme elas. Nós não podemos fazer mais almejando conseguir mais, nós temos que fazer o que Ele pede de nós e nosso copo com certeza já estará cheio quando chegarmos no céu. Seja lá o que for que bebermos, todos beberemos da mesma graça, e juntos, para a glória do nosso Deus!

As nossas obras devem sempre apontar para Deus, com quem poderemos desfrutar eternamente das glórias e graças dadas a nós gratuitamente mediante Jesus Cristo, no céu. A Ele seja a glória para sempre, amém!

Seja Deus vosso guia e vossa luz,
S.D.G.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Escatologia - Novo céu e nova terra

Olá, pessoal! Estamos aí mais uma vez com os estudos de Escatologia, a doutrina do fim dos tempos. Estou acompanhando os adolescentes da II Igreja Presbiteriana de Boa Vista nesta caminhada. O post de hoje também não faz parte do conteúdo da revista que estamos estudando, mas é fruto de dúvidas dos alunos sobre a questão.

O estudo do "céu" e da doutrina da "nova terra" serão simples aqui, pois o foco maior não são essas doutrinas, que por certo têm o perigo de apelar mais para a curiosidade do crente do que sua real necessidade de almejar por este lugar prometido aos crentes. Se tiver espaço aqui, vamos falar também do tal "galardão" no céu, senão fica pro próximo.   


É lugar-comum na teologia cristã que os salvos em Cristo irão para um lugar destinado a eles após a morte. Neste lugar, não haverá mais sofrimento e será uma nova etapa da experiência humana, a isto damos o nome de "céu": "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Ap. 21:4)

Este local é destinado aos santos e será livre de todas estas coisas ruins justamente porque viveremos na presença do Altíssimo, será um lugar onde poderemos trabalhar e viver felizes. Todo o capítulo 21 de Apocalipse e o começo do 22 falam desse lugar maravilhoso:
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe." (Ap. 21:1)
"A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada." (Ap. 21:23).
A extensa descrição que temos nesses textos não apontam para uma hierarquia entre os crentes no céu quanto à questão do galardão (veremos isso em momento específico). Além disso, cabe lembrar que o céu é o verdadeiro lar dos crentes:

"De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus." (II Co. 5:20)

O embaixador é uma das mais altas figuras diplomáticas de um país. Ele é o representante do Presidente em outras terras, o que ele fala é como se fosse a opinião e expressão do próprio Chefe ou da Nação. A responsabilidade que está sobre o ombro dele é muito grande. E ainda: ele não fica em seu país, sua missão é estar em terras que não são a sua. Assim somos nós e por isso temos tamanho dever em comportar-nos como cidadãos dos céus aqui na terra.

A ideia de "lar" celestial vai muito além do local. A ideia de lar está muito mais ligada às pessoas que estão nele, é por isso que às vezes viajamos ou nos mudamos mas ainda temos um lugar para chamar de "lar", porque há pessoas ali que fazem a gente se sentir assim. O nosso verdadeiro "lar" é a santa comunhão que teremos com Deus e com nossos irmãos amados.

Paulo reconhecia que o céu é algo muito maior do que qualquer coisa que teremos aqui na terra (Fp. 3:8). Mas é importante que lembremos que: 1) nosso propósito aqui nessa terra não é ficar pensando no céu e ansiar pra ir logo pra lá: nosso trabalho é trabalhar para Deus aqui! 2) O céu não é um lugar de "ócio eterno", está mais do que na hora de tirarmos esse esterótipo cartunista da cabeça. Por isso, vamos falar um pouco da doutrina da "nova terra".


A terra sempre foi parte do plano de Deus, tanto a antiga quanto a nova. Ela também sofreu as consequências do pecado:
"E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gn. 1:28)
"E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida." (Gn. 3:17)
A grande pergunta que se faz quando se estuda Escatologia é: visto que essa terra está corrompida pelo pecado, o que é essa nova terra a que Deus faz referência em Ap. 21:1? Será que é essa mesma em que vivemos? Ou será que Deus vai destruir essa e começar tudo do zero?

Não sei porque na minha cabeça de ser humano, seria mais fácil pegar logo tudo, arrancar fora a página e começar o desenho do papel em branco. Dá uma ideia de coisa nova, sei lá. Mas conforme vamos estudando a Bíblia, vemos que essa ideia de aniquilacionismo não coaduna muito bem com a proposta dos textos.

Por exemplo, quando lemos que "Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça." (II Pe. 3:13), a palavra "novo" no grego não é "neos", mas sim "kainos", isto aponta para uma renovação, uma mudança de essência ou natureza e não uma coisa totalmente nova. É a mesma expressão que encontramos, por exemplo, em II Co. 5:17 quando diz que nós somos "novas" criaturas e que as coisas se fizeram "novas".

Além disso, a renovação da terra, a promessa da "nova terra" não é algo que apenas o ser humano aguarda. Na verdade, toda a natureza espera por isso: "Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus." (Rm. 8:20-21)

E é aqui que encontramos a perfeita analogia para entender o que é a nova terra: a redenção dada por Jesus. Assim como teremos um novo corpo na ressurreição, um corpo glorificado, também a terra será glorificada e renovada pelo poder de Deus. Pensem em Jesus com o corpo glorificado após sua ressurreição: ele era diferente, ao ponto de mal conseguirem reconhecer ele, mas também trazia marcas de antes, como as marcas nas mãos.

Para nós é mais fácil pensar numa aniquilação total e começar do zero porque não entendemos o poder restaurador de Deus, mal conseguimos mensurá-lo. Deus é totalmente capaz de restaurar aquilo que o pecado corrompeu. Não foi isso que ele fez comigo e com você? E não vai concretizar isso no último dia? Deus não precisa começar do zero, a coisa não fica "sem conserto" para Deus! Ele não precisa desperdiçar todo o trabalho já feito, porque pode restaurar de maneira magnífica aquilo que estava corrompido e contaminado.

Além disso, também temos que fugir do estereótipo de que a nova terra será um lugar etéreo, longe do dia a dia, cheia de "ócio" contemplativo, como se não houvesse nada para fazer lá. Algumas promessas do Antigo Testamento, ecoadas em Jesus, apontam a importância da terra como elemento dado ao ser humano. Lembram da Criação? A terra nunca deixou de ser parte do plano divino.
"Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz." (Sl. 37:11) 
"Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra."(Mt. 5:5)
"Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus." (Gn. 17:8) 
"Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé." (Rm. 4:13)
Por certo que esta herança então será galardoada aos seres humanos! Até porque o que é um "lar" sem as pessoas que habitam nele? Será um local para podermos adorar a Deus em grande alegria, seja com nosso trabalho, com nossos dons, com nosso próprio testemunho. O texto de Isaías, abaixo, aponta para a perpetuidade dessa adoração que vai de uma festa à outra, de sábado à sábado.
"Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante de mim, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor." (Is. 66:22-23)
E uma das coisas mais legais de tudo isso: conhecer os santos do Senhor de todas as épocas! Que promessa fenomenal! Olhem o texto:
"Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro." (Ap. 21:12-14)
Esta passagem está fazendo referência a todos os santos, a ideia das 12 tribos é justamente a de ajuntamento de todos os crentes. As portas abertas em todas as direções apontam para crentes de todos os cantos vindo para esta maravilhosa reunião celestial. O texto faz menção às tribos e também aos 12 apóstolos, apontando para pessoas do Antigo e do Novo Testamento: gente de todas as eras.

Nós fazemos parte do Israel prometido de Deus, o povo que herdará a terra, que foi salvo de maneira imerecedora simplesmente pelo grande amor com que Deus nos amou!


Verdade seja dita, que esta é uma das doutrinas que a Bíblia revela apenas até certo ponto, pois neste corpo corrompido que habitamos, é inimaginável para nossas pequenas mentes um lugar como o céu. Mas isto não significa que não podemos buscar entender o que a Palavra revelou. A melhor aproximação está na descrição maravilhosa de Apocalipse 21:
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles." (Ap. 21:1-3)
Glória a Deus! Não vejo a hora de habitar nesse lugar maravilhoso! Mas enquanto isso não acontece, quero me portar de maneira adequada aqui nessa terra, quero trabalhar para engrandecer o nome de Jesus, que mostrar ao mundo que sou cidadão de outro Reino.

Seja essa a tua oração também, tu que lês isto.
Seja Deus teu guia e tua luz.

S.D.G.
S.D.G.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Escatologia - A mensagem de destruição do templo

Alô, pessoal! Depois de algumas semanas em off estamos de volta para continuar estudando Escatologia, o estudo do fim dos tempos. Há muito que já falamos e tão pouco ao mesmo tempo: falamos do propósito de estudar esse tema (que não é só Apocalipse!), da Agenda Escatológica de Jesus em Mateus 24 (princípio das dores, grande tribulação e segunda vinda), do reino inaugurado e do conceito de "últimos dias", especialmente sob os enfoques das diferentes correntes escatológicas vigentes... Ufa! Realmente, até aqui nos ajudou o Senhor.

Estes estudos, falo novamente, são quase transcrições das aulas ministradas aos adolescentes da II Igreja Presbiteriana de Boa Vista, onde tenho tido oportunidade de aprender muito e compartilhar um pouco do que Deus tem ensinado. Escatologia está no nosso dia a dia!  


O tema de hoje, que é um pouco ominosa e parece estar ao mesmo tempo num passado ou num futuro muito distante, está em Mateus 24:1-2: "Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada."

Este texto está no início da agenda escatológica de Jesus (que já estudamos) e aponta para a destruição do templo em Jerusalém. Jesus está profetizando que aquilo ficaria totalmente derribado. Já falamos em outras ocasiões que o cumprimento de uma profecia no passado é uma garantia de cumprimento no futuro. 

As perguntas que vamos tentar responder são: Qual o significado da destruição do templo? Quais dados históricos mostram que as profecias são verdadeiras? E o que isso tem a ver com nós hoje? Bom, vejamos então ver o que podemos aprender. Vamos lá.

No capítulo 24 de Mateus, Jesus está pregando no Monte das Oliveiras e ele saía do templo quando os discípulos chamaram atenção para as construções. Devemos nos inserir mais no contexto de Mateus para entender porque os discípulos fizeram isso. Eles estavam lembrando de algo que Jesus já havia dito alguns versos antes:
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mt. 23:37-38)
Jesus estava fazendo uma referência direta ao templo em Jerusalém neste último verso. Os discípulos ouvem Jesus falar (capítulo 23) e então saem do templo (começo do capítulo 24) e, ao sair do templo, eles não conseguem evitar chamar a atenção de Jesus para aquela magnífica construção. Isto é evidenciado no texto de Marcos: "Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que pedras, que construções!" (Mc. 13:1)

É como se os discípulos estivessem dizendo: "Senhor... mas tem certeza mesmo que isso aqui vai ficar deserto? Olha pra isso, que belezura! Um prediozão desse!". Mas Jesus afirma de forma mais categórica aquilo que disse em Mateus 23, destacando que ali não ficaria "pedra sobre pedra", apontando para uma grande calamidade.

A resposta de Jesus entrelaça dois importantes acontecimentos: a destruição do templo em si, aquele mesmo que eles estavam visitando naquela ocasião (isso aconteceu mesmo, conforme veremos a seguir) e a própria destruição do mundo, o "último dia", o juízo final. E os discípulos entenderam que essa mensagem apontava para um aviso escatológico pois perguntaram a Jesus: "Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se." (Mc. 13:4)

Adianto a vocês que o templo foi destruído no ano 70 d.C., porém, só falar que isso aconteceu no ano tal é muito pouco, não traduz o contexto em que isso aconteceu. Como já estudamos aqui também, não há oposição entre fé e ciência, pelo contrário, a ciência nos ajuda a exercer nossa fé. Hoje nós vamos relacionar estas duas coisas vendo como se desenrolaram os eventos que culminaram no cumprimento desta profecia por meio da História.

Voltamos um pouco o filme para o período de 37 a.C. até 4 d.C., que foi o período de domínio do Rei Herodes. Esse vocês conhecem, era o que comandava a Judeia na época do nascimento de Jesus e mandou matar todas as crianças menores de dois anos na região que ele nasceu. Esse cabra ruim foi nomeado pelos romanos para governar sobre a região da Judeia.

Ele era chamado pelos oficias romanos de "Rei dos judeus", visto que tinha sangue judeu. Porém não foi um bom homem para o seu próprio povo: obrigou muitos a realizar trabalhos forçados com construções e aumentou impostos sobre a população. Isto seria apenas o começo de anos de sofrimento sob o domínio do império romano.

Em 6 d.C., depois que Herodes morre, inicia-se a época dos "Procuradores", que eram pessoas apontadas pelo governo romano para governar diferentes regiões, incluindo aí a Judeia. Neste período, até meados dos anos 30 d.C., houve certo respeito e tolerância por parte dos procuradores para com os costumes dos judeus.

O caldo engrossa no ano 37, quando toma o poder do império o famoso Calígula. No seu domínio, visando aumentar sua influência e enfraquecer o poderio dos judeus, ele ordena que fossem colocadas estátuas suas nas sinagogas em Jerusalém, como afirmação de poder. Nesta mesma época, o Rei Agripa foi apontado para ser o procurador da região.

Calígula continua a pressionar o povo judeu e no ano 40 toma uma decisão exagerada: quer que coloquem uma estátua sua no templo de Jerusalém. Foi a diplomacia do Rei Agripa que garantiu que isso não acontecesse, pois destacou ao imperador que uma atitude dessa resultaria numa verdadeira guerra civil ante a revolta dos judeus. 

Não obstante, durante as décadas de 40, 50 e meados de 60 d.C., os judeus continuaram a viver sob a opressão dos romanos, continuando a realizar trabalhos forçados e ver sua economia agravada pelos constantes aumentos de impostos por parte de seus dominadores. Isso piora no ano 66.

Neste ano o procurador da região era um cidadão chamado Géssio Floro. Depois de decisões que prejudicavam o povo judeu, este decidiu protestar ante as demandas. Seu protesto consistiu em não pagar os impostos e deixar de fazer sacrifícios pelo imperador romano no Templo. 

Aqui temos uma importante ressalva: os judeus continuavam judeus! É óbvio isso, mas as vezes estudamos a Bíblia e esquecemos de relacionar o conhecimento que há ali com a História. Jesus, neste ponto, já estava morto e ressurreto e os judeus continuavam com suas ordenanças, seguindo a Lei do Antigo Testamento como se nada tivesse acontecido, visto que não reconheceram em Jesus o messias prometido. Por isso, realizar sacrifícios no templo ainda era parte do seu dia a dia.

Voltando: Géssio aumenta os impostos e o povo não paga. Como retaliação, o procurador manda invadir o Templo e rouba de lá 17 talentos de ouro, dizendo que eram para o imperador. O povo, por sua vez, começa a fazer chacota de Géssio pela cidade, como se o "pobrezinho" precisasse de grana. E, claro que o procurador aceitou isso de boa... só que não: ele reage mandando crucificar os líderes e saqueia parte da cidade. Este foi o estopim da Revolução Judaica.

Os judeus, que já estavam se preparando para algo assim há um tempo, então rapidamente atacam as guarnições militares e em pouco tempo tomam o controle do território da Judeia. Seu domínio vai além de Jerusalém e expandem para boa parte do território; os judeus vencem algumas batalhas que surpreenderam os romanos e os próprios judeus passam a acreditar que podem finalmente reconquistar sua independência. Nesta mesma época, muitos cristãos fogem de Jerusalém (guardem essa informação).

No ano 67, então, o império romano não deixa por menos. Nero (o imperador à época), envia 60.000 homens liderados por Tito e Vespasiano para a região. Eles, com as forças militares romanas, começam a reconquistar o território. No ano 68, então, eles já haviam reconquistado toda a Galileia e estavam continuamente ganhando mais território.

Isto levou os judeus a precisar recuar, ficando cada vez mais acuados dentro do território. Muitos deles se refugiaram direto em Jerusalém, já que lá era uma cidade fortificada e contavam com o Templo. Só que lá dentro da cidade a situação ficou crítica também. Conflitos entre as lideranças judaicas levou a uma guerra civil dentro da própria cidade.

No ano 69, Vespasiano se torna o imperador e Tito fica no comando da guerra na Judeia. Por sua vez, então, Tito avança com mais vigor na conquista do território. Ele finalmente avança até chegar em Jerusalém. Só que como a cidade é muito bem fortificada, ele não consegue entrar. Então faz um cerco à cidade: cava trincheiras ao redor, garante que não iriam mais entrar alimentos e quem tentasse sair era crucificado. A esta altura,

Vale lembrar que Jerusalém ficou sitiada por 07 meses. Neste meio tempo, ainda estava rolando lá dentro uma guerra civil e a coisa era tensa: em determinado momento, líderes radicais tocaram fogo em um estoque de alimentos na cidade, para forçar as pessoas a lutarem contra os romanos, enquanto outros partidários achavam que a luta não seria a melhor opção.

No ano 70, então, finalmente os romanos conseguem romper as muralhas de Jerusalém e invadem a cidade. Esta invasão foi para destruir tudo mesmo: queimar casas, matar mulheres e crianças, e cumprir a profecia de Jesus. Lá em Jerusalém, o Templo era o último refúgio das pessoas, porém nem ali estavam a salvo: o templo é destruído pelos romanos e as pessoas executadas cabalmente.


Durante o período da guerra civil em Jerusalém, ele também relata casos de melhores amigos que viraram combatentes e inimigos entre si.

Há ainda relatos de que enquanto o templo pegava fogo, os soldados romanos matavam todos os judeus que estavam por ali, independente de estarem portando armas ou não, independente de sexo, idade ou condição social. De acordo com o historiador Josefo, cerca de 1 milhão e 100 mil pessoas não-combatentes morreram durante todo o período do cerco a Jerusalém e cerca de 97 mil foram escravizadas como espólio de guerra. O massacre foi completo.


Todos estes fatos não estão na Bíblia. Eles foram estudados por diversos historiadores, registrados e estão entre os escritos científicos que embasam o pensamento de muitos estudiosos sobre aquela época e sobre aquele povo. Não obstante, estes ensinos nos ajudam a entender a Bíblia sob outro enfoque, nos mostrando o cumprimento de uma profecia de Jesus.

Para os judeus, o Templo era visto como a manifestação física de Deus entre seu povo. Aquele era o lugar que apontava para o Deus Todo-Poderoso e que ele estava como povo judeu. Era nisso que eles acreditavam. Quando Jesus fala aos discípulos que ali não ficaria pedra sobre pedra, eles entendem que aquilo tinha um significado muito mais profundo. A calamidade que foi a destruição do templo tinha um significado escatológico mais profundo.

Lembram que falei que durante a Revolta Judaica muitos cristãos fugiram daquela região? Pois é, por que será que eles fizeram isso? Por que não lutaram ao lado dos judeus naquela ocasião? A resposta está na Bíblia, Jesus já os havia alertado:
Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles.
Vejam só a relação das palavras de Jesus com os acontecimentos nas vidas daquelas pessoas! Eles viram a revolta acontecer, viram Jerusalém sitiada e lembraram das palavras de Jesus! E mais: eles as obedeceram! Naquela época, os cristãos saíram da região da judeia e foram para Pella, na Transjordânia, recusando-se a lutar contra os romanos, pois lembraram da profecia de Jesus "para se cumprir tudo o que está escrito".

Continuando a história, depois estes cristãos receberam autorização dos romanos para voltar para Jerusalém, já no final do século I. Isto aponta mais diretamente para a separação que ficou evidente entre cristãos e judeus, pois o primeiro grupo obedecia diretamente aos ensinos de Jesus.

Esse retorno de um grupo de cristãos também tem um significado: ele aponta para um novo começo. E esta novidade de vida é aguardada pela Escritura: "A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus." (Rm. 8:19) e "esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça." (II Pe. 3:12-13)















Para os judeus o Templo era um lugar indestrutível, ele apontava para sua aliança com Deus e, por causa disso, achavam que nunca seriam destruídos. Eles não reconheciam que Jesus era o cumprimento maior da aliança de Deus. O maior problema, porém, é que carregados pela sua soberba, acharam que Deus estaria do seu lado mesmo nesta nova administração da graça, como se Deus fosse o Deus deles apenas e fosse para sempre abençoá-los.

Irmãos, nós também não somos assim muitas vezes? Vivemos uma vida em que esquecemos das consequências dos nossos atos, vivendo pelo aqui e pelo agora. Os judeus, no começo de sua revolta, julgavam que pelo seu próprio poder conseguiriam conquistar sua independência (tanto que até estavam tendo importantes vitórias militares), porém se esqueceram de quem é o verdadeiro general.

Viver uma vida que esquece de olhar para o futuro e vive apenas pelo presente é uma das marcas da geração contemporânea. Esse estudo nos convida a pensar na destruição do templo como símbolo do fim dos tempos, mas também aponta para um novo começo: um novo céu e uma nova terra. Um lugar onde teremos uma vida totalmente diferente, onde poderemos para sempre desfrutar da graça de Deus. Ali teremos para sempre comunhão com ele, não haverá necessidade de templo algum, pois estaremos na Sua presença.

Enquanto isto não chega, porém, vamos fazer como os crentes que ouviram as palavras de Jesus e as obedeceram quando veio o tempo da tribulação. Que possamos permanecer fiel a Ele, vivendo uma vida que glorifique o Seu nome, lembrando do passado e olhando para o futuro. Para que, quando ele chegue, encontre aqui servos fieis, apesar das circunstâncias.

A esse Deus a glória, para sempre!
Seja Ele vosso guia e vossa luz.

S.D.G.