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terça-feira, 26 de junho de 2018

Escatologia - A Grande Tribulação

Olá, pessoal! Vamos continuar estudando Escatologia e falar deste outro tema hollywoodiano: a Grande Tribulação. Intrínseca à história do anticristo, esta temática é bem turva e muito complicada de abordar visto as diferentes correntes escatológicas que interpretam o tema. Essa é uma importante advertência antes de iniciarmos nosso estudo, pois há muitas disparidades e nem tudo é revelado claramente a respeito desse tema. Vamos lá.


"porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais." (Mt. 24:21)
Vamos começar falando dos nossos pressupostos. Visto que estamos diante de uma diversidade de correntes, e cada uma tem uma abordagem sobre o tema, vamos tentar esclarecer nossas bases. Nós não entendemos que a Grande Tribulação (GT) é um evento que está no passado. Isto é evidente dentro da corrente posmilenista, para quem a GT aconteceu na destruição do templo.

Para eles, a GT foi um evento único vinculado àquele momento e não se repetirá. No seu ponto de vista, a Igreja crescerá cada vez mais, conforme as pessoas forem vendo que só o cristianismo oferece uma base social, política e econômica boa o suficiente para sustentar o mundo. Ainda que creia na capacidade transformadora do evangelho para o mundo, creio também que no mundo ainda "passaremos por aflições" e as coisas irão piorar.

Também não entendemos que esteja correta a abordagem premilenista quando afirma que a igreja não passará pela GT. Ora, porque então Jesus constantemente nos prepara para isso? E porque somente os ímpios sofreriam essa tribulação, visto que eles já têm a tribulação maior, que é viver sem Deus no coração? Por isso, entendemos que a igreja estará na GT e ela ainda acontecerá. É o que Paulo afirma: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos." (II Tm. 3:12)

Porém, antes de pensarmos especificamente na "Grande" tribulação, devemos lembrar que "tribulação", "aflição" e "provação" são aspectos cotidianos da vida cristã. Todos nós enfrentamos sofrimento na vida e passamos por algum momento de tribulação, não há como viver nesta terra sem passar por isso. Na agenda escatológica de Jesus, porém, vimos que haverá um momento em que a tribulação da igreja será maior que em outros períodos.

Assim como o anticristo tem como precedente vários anticristos, também a Grande Tribulação tem como exemplo essas diversas tribulações pelas quais passamos e que nos ajudam a crescer na vida cristã, conforme Paulo ensina: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação." (II Co. 4:17).

Quando pensamos em "tribulação", seja ela grande ou pequena, já pensamos que isso não é algo pelo qual ninguém deseja passar. A solução mais comum é fugir do problema ao invés de enfrentá-lo. Porém, como cristãos, "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Rm. 8:28), e é por isso que nós enfrentamos nossas provações: pra que elas cumpram o propósito dado por Deus em nossas vidas.

Na vida cristã, momentos de tribulação devem ser vistos como momentos para desenvolver a nossa fé. O meu texto favorito sobre isto é de Tiago:
"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes." (Tg. 1:2-4)
É evidente que a tribulação em si não será motivo de alegria, mas o passar por ela gera resultado na vida do cristão, e isso sim é motivo de contentamento: "Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam." (Tg. 1:12)

O contexto da igreja primitiva era de constante tribulação: eles não eram aceitos pelos judeus (sua casa) e eram explorados pelos gentios (contexto político-econômico de sua época). Pedro os encoraja nessa situação: "Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. [...] mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome." (I Pe. 4:14, 16)

Logo, fica evidente que há uma relação estreita entre as provações (que não é o mesmo que "tentações" - podemos falar disso em momento oportuno) e o fortalecimento da nossa fé. A tribulação vem para trazer esse aperfeiçoamento. Por isso que quando o cristão reconhece isso e passa por esse momento, ele pode sentir alegria por ter enfrentado isso.

Por conta disso, é fácil entender que a história da igreja é permeada por uma história de perseguição. Não é segredo pra ninguém que no Coliseu, em Roma, muitos cristãos foram mortos por causa da sua fé.

Esse sofrimento não tem somente efeito interno (aumentar a fé), mas também tem um importante efeito externo: testemunho. A disposição em sofrer demonstra o amor do crente para com Cristo: "Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Fp. 3:8). Tudo o que suportamos pelo amor de Cristo revela o nosso amor para com ele!

Agora podemos, enfim, voltar nossos olhos para a "Grande" tribulação, que está citada no texto que abriu nosso post (Mt. 24:21). Como já mencionei, há divergências sobre quando ela ocorrerá e de que maneira. Não obstante, vamos tentar extrair do texto bíblico o que há para aprender sobre este tema.

O primeiro ponto a abordar é que a grande tribulação será um evento que atingirá todo o mundo. Isto não significa, porém, que vai acontecer no mundo todo ao mesmo tempo (esqueçam Hollywood!). Lembrem-se do que estudamos nos posts sobre o anticristo: a tribulação não será no estilo "apocalipse zumbi", ela será algo que muitos sequer considerarão como perseguição! Pensem claramente, meus caros, é aquilo que mencionei no outro post: se tudo for descarado como os filmes montam, isso só confirmaria a Bíblia e fortaleceria o argumento cristão! Mas será justamente o contrário nos tempos da tribulação: ninguém dará crédito ao cristianismo.

Também, há uma intensa discussão entre comentaristas sobre a tribulação ser algo local ou global. Seu principal argumento está no fato de que a vinda de Jesus foi um evento local, mas que gerou impactos globais. Isto faz bastante sentido, porém numa era globalizada, faz também muito sentido que a Grande Tribulação seja uma série de intensas tribulações em diferentes lugares do mundo. Olha o texto:
"Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; [...]
Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro," (Ap. 7:9, 13-14)
O que importa, mais do que saber sobre os impactos globais da GT, é que a igreja no mundo inteiro sofrerá e passará por ela, não haverá para onde fugir. Este será o grande momento de provar a nossa fé: "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra." (Ap. 3:10)

Por outro lado, enquanto a GT será um período de grande provação para a igreja, também será um período para sua santificação, ou seja, sua purificação e aprimoramento. No texto já citado de Ap. 7:13-14, os que passaram pela GT tiveram suas vestes lavadas e alvejadas por Cristo. Assim como as provações do nosso dia a dia levam ao aperfeiçoamento, uma grande tribulação levará a um grande aperfeiçoamento.

E isto, claro, também é bíblico. Como já vimos, o verdadeiro cristão se regozija nisso e sabe que é Deus quem está no comando e provendo que aquela situação aconteça: "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos." (Sl. 119:71). No texto de Apocalipse, os santos aparecem com vestiduras brancas, isso lembra também o que Paulo ensina de "despir-se do velho homem" e ser renovado, tornado uma nova criatura em Cristo.

O ponto principal sobre a GT, porém, por incrível que pareça, não é o sofrimento que ela traz! Assim como o foco das provações do dia a dia não devem ser elas mesmas, mas o resultado que elas trazem e o que elas prefiguram: o anúncio de um novo tempo! Jesus, na sua agenda escatológica, não está meramente alertando os discípulos sobre este período de provação, mas também está construindo uma perspectiva de esperança par ao futuro!
"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.
E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." 
(Mt. 24:29-31)
Todas as nossas tribulações, e em especial a Grande, devem ser vividas com essa esperança: que Jesus voltará e nos libertará de todas as provações de uma vez por todas! Este é o ápice da agenda escatológica de Jesus! Pode ser repetitivo nós voltarmos neste ponto que já estudamos em posts anteriores, mas é justamente ESTE o ponto mais importante!

Quando tudo parecer perdido, quando a tribulação parecer mais desgastante, é aí que a igreja mais tem que acreditar que será salva por Cristo. Ele prometeu a vitória final. Esta é a segurança que as Escrituras trazem para nossa vida. Essa vitória de Cristo também marca o fim de uma série de acontecimentos.

É o fim do processo de santificação. A igreja (nós!) finalmente estará santificada e, por consequência, glorificada. A nossa batalha neste mundo não é contra a GT ou o Anticristo e sim contra o pecado! "Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta," (Hb. 12:1)

Quando, no texto de Apocalipse que lemos, o ancião pergunta quem eram aqueles de vestiduras brancas, a resposta aponta para quem lavou aquelas pessoas dos seus pecados, para que pudessem se apresentar puras diante de Deus, fortalecidas especialmente por causa da GT. Assim como em toda a Bíblia, também no dia final a vitória sobre o pecado é a vitória de Cristo na cruz.

É o fim da tristeza, da dor. E da morte. Quando Jesus voltar e der fim à Grande Tribulação, também dará fim a todo e qualquer tipo de sofrimento. Já vimos esse texto em posts anteriores: "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Ap. 21:4)

Essa palavra de alívio é mais uma fonte de esperança para que suportemos os tempos de tribulação, testemunhando fielmente do amor de Deus e seu poder, para que sejamos encontrados fieis quando ele retornar para nos levar para casa. E neste momento é finalmente alterada toda a realidade da circunstância da vida humana.

No Éden a morte veio como uma certeza para todo ser humano, como resultado do pecado. Na GT será o ápice da "morte" e seu poder. Isso não significa apenas a morte física, mas também a espiritual, a separação de Deus, a maldade do coração do homem reinando como nunca antes. Porém quando Jesus volta, ele nos conduz às fontes da vida eterna: "pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima." (Ap. 7:17)


No final de tudo, a história da Grande Tribulação não tem a ver como o sofrimento ou perseguição, que tanto os filmes querem enfatizar. A história da GT é uma história de redenção, de libertação definitiva do pecado. É uma história de esperança. Parece loucura, mas é exatamente o que o texto bíblico quer nos demonstrar.

A igreja sempre quer ver a GT baseada numa percepção negativa. Nós devemos lembrar que Deus é quem está no comando e é Ele que nos permite passar por momentos assim. O clímax da história não é o poder do anticristo ou da perseguição durante a GT, mas é o retorno de Jesus, para reinar para sempre sobre tudo e todos!

A visão dos problemas e dores que a GT trouxer tem que estar subjugada à visão do poder de Cristo e da sua grande vitória. E o mais incrível. A vitória de Cristo é também a nossa vitória: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou." (Rm. 8:37). Que Deus maravilhoso é esse! Que nos concede vitória por meio de Jesus Cristo, nosso salvador!

Como somos imerecedores deste tão grandioso amor! Oh, Deus, me ajuda a ser um servo fiel aqui nessa terra, me ajuda a aguardar o retorno de Cristo suportando as aflições do mundo com olhos da fé, crescendo com as provações que o Senhor me permitir passar, frutificando e testemunhando do teu amor para todo o mundo ver, sim, para todos verem que Jesus Cristo é o nosso salvador. Seja meu guia e minha luz!

Maranata! Vem, Senhor Jesus!

S.D.G.

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