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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Apologética - I

Como é que se começa a escrever mesmo? Será que ainda sei? Faz um tempo que não posto nada, não é mesmo? 2015 se passou e eu não cheguei a escrever nada por aqui! Que coisa. Mas também, 2015 foi um ano de muitas aventuras, descobertas... Casei-me! Em 01/08/2015 tornei-me esposo da linda Laryssa de Aguiar Santos Alencar. 

Mas... chega de justificativas! Vamos ao que interessa. Voltei a escrever aqui pra ver se esse blog ainda pode ser uma ferramenta útil e também porque comecei a dar aula para os adolescentes na EBD da igreja em que congrego (que é a Segunda Igreja Presbiteriana de Boa Vista  não lembro se isso já havia sido mencionado) e resolvi aproveitar os estudos e divulgá-los aqui.

No fundo, o que estamos estudando em classe é Apologética. Poucos cliques farão você descobrir pelo Google que se trata de uma defesa da fé através de argumentações e provas. Certa feita eu conversava com o Zach Shrift a respeito disso e ele salientou como cada vez mais pessoas estão deixando de defender a sua fé e abraçando diferentes perspectivas.

Este post deve ser bem simples, pois vamos pensar um pouco sobre o que é essa defesa da fé. Nestes tempos em que a fé cristã tem cada vez mais sido atacada e questionada, nós devemos estar prontos para defendê-la e mostrar que nossa fé não é cega. Notem que isso não é um argumento de homens, mas bíblico:

"antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós," (I Pe. 3:15)

A Bíblia ensina que devemos pregar o evangelho a toda a criatura, este foi o último mandamento de Jesus antes de partir. Mas muitas vezes só pregar e falar por falar, não são suficientes. É certo que a Palavra de Deus nunca retornará vazia (Is. 55:11), mas também: "Como poderei entender, se alguém não me explicar?", como disse o eunuco em At. 8:38.

Nós devemos fornecer respostas para explicar a razão da nossa fé, que não é irracional, muito pelo contrário! É a única forma racional de entender a realidade, pois estamos falando d'Aquele que gerou tudo o que há, inclusive a razão. Apenas dizer que algo é "porque é", não é suficiente nem para convencer um cristão.

Aliás, isto é algo que os próprios apóstolos fizeram. Note como em At. 17, o apóstolo Paulo repetidas vezes ataca alguma das filosofias gregas e demonstra sua fragilidade, ao mesmo tempo que utiliza-se da razão para demonstrar a firmeza de suas crenças. O problema de muitos de nós hoje é a falta de preparo e o medo em realmente defender esta fé.

Mas isto é algo para aprofundar em outro post. Por agora, vamos voltar à definição de Apologética. A palavra vem de "apologia", que quer dizer basicamente "defesa" contra alguma acusação ou denúncia. Hoje muitos já defendem (de maneira correta), que o trabalho do cristão não é somente defender a fé, mas também atacar sabiamente as ideias que são contrárias, de modo a demonstrar que elas não tem toda a sustentação racional que julgam ter.

Porém: o principal trabalho do crente é pregar ou defender a fé? Obviamente que a resposta é a primeira opção. A ordem de Jesus foi para que preguemos e não produzir argumentos filosóficos, a dificuldade está em apresentar esta fé de maneira clara e lógica, porque, uma hora ou outra, alguém vai questionar a razão desta fé. Além disso tudo, um conhecimento profundo da Bíblia e de sua racionalidade própria é um elemento que vai fortalecer a fé do cristão e dar-lhe um alicerce firme.

Alan Myatt (texto aqui) expõe três propósitos para apologética, todos voltados ao mandamento que nosso Senhor Jesus deixou, o de fazer discípulos:
  1. Propósito ofensivo: não está de modo algum ligado à ideia de "ofender", mas no sentido de "atacar". A proposta é que o crente simplesmente pregue o Evangelho, pois isto por si, já é um ataque contra a incredulidade.
    Este método tem algumas vantagens: a) ao invés de discutir vãs filosofias, o apologista vai direto ao ponto e compartilha o plano da salvação; b) demonstra ao incrédulo o abismo que há entre o pensamento do não-crente com o crente, como as cosmovisões são tão opostas. Apresentar o mandamento de Deus é o melhor caminho para que o homem reconheça a necessidade de Jesus.
  2. Propósito negativo: Ora, mesmo após a pregação do evangelho, é natural para o não-crente questionar tudo o que é dito, a Bíblia fala sobre isso: "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." (I Co. 2:14). O incrédulo não está buscando a Deus, não está sequer em busca da verdade, ele está preso pelos seus pensamentos embebidos em pecado; o apologista deve, então, desconstruir muitos destes pensamentos e negar estas filosofias.
  3. Propósito positivo: Este propósito vem em complementação ao anterior. Após desconstruir algumas dessas noções erradas, é preciso que o apologista esteja pronto para construir, desta vez com blocos firmados na Verdade, aquilo que é essencial à fé cristã.
Quanto aos métodos, Steven B. Cowan, em "Five Views on Apologetics" (fonte), enumera cinco: clássica, evidencial, pressuposicional, epistemologia reformada e caso cumulativo, cada uma com seu papel. Claro que esta lista não é exaustiva e podem ser estudadas mais a fundo.
  1. Método clássico: consiste em estabelecer logicamente a existência de Deus e depois abordar os aspectos históricos da divindade de Jesus.
  2. Método evidencial: este método varia entre abordagens filosóficas e históricas, mas entendem que milagres não pressupõem a existência de Deus, mas podem servir como evidências.
  3. Método do caso cumulativo: surgiu por causa da insatisfação com os dois métodos anteriores, por não se conformar com aquele padrão dedutivo/indutivo de abordagem. Para eles, a abordagem é multifacetada, com várias linhas ou tipos de dados que formam uma espécie de hipótese ou teoria, abordando o problema de forma mais ampla.
  4. Método pressuposicional: estes partem do princípio que devido aos efeitos do pecado, não há terreno em comum suficiente entre crentes e incrédulos para que permita a eficácia dos outros métodos. Então, argumentam transcendentalmente que absolutamente todo fato ou pensamento pressupõe logicamente o Deus das Escrituras.
  5. Abordagem da epistemologia reformada: mais contemporânea, ataca os preceitos positivistas das abordagens anteriores. Argumentam ousadamente que é possível crer em coisas sem evidências de forma racional: se as pessoas tem o sensus divinatis, ou seja, o senso do divino, então elas racionalmente chegar a Deus sem ajuda de evidências. Kelly James Clark defende esta abordagem da seguinte forma: "encorajar os incrédulos a se colocarem em situações onde as pessoas são tipicamente apanhadas pela crença em Deus” (…), tentando despertar nelas seu senso latente do divino."

É importante ressaltar uma coisa: não é pela razão que o homem chegará a Deus! Não é possível converter um incrédulo pela lógica! "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." disse Jesus em Jo. 14:6. 


Não defendemos a nossa fé pensando que assim vamos salvar vidas, defendemos porque cremos que o Espírito Santo é capaz de abrir as mentes destas pessoas para que elas enxerguem a Verdade. Defendemos nossa fé para mostrar que não somos loucos varridos que creem em algo irracional; defendemos nossa fé mostrando a luz nas Escrituras, a Verdade, o Caminho àqueles que estão perdidos na escuridão, cumprindo o mandamento e o privilégio deixado pelo Senhor Jesus para nossas vidas.

O objetivo da apologética não é persuadir o não-crente a aceitar a salvação, mas responder persuasivamente aos questionamentos que ele venha a fazer, explicando a ele qual é a razão desta esperança que habita em nós. É nesta esperança que confiamos.

Seja Deus, nossa esperança, vosso guia e vossa luz.


S.D.G.

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