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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Presidência do Brasil (e outros cargos): o cristão pode votar em mulher?


Isto tudo começou por conta de um texto trazido pelo Vinícius Queiroga sobre a ideia de que cristãos não devem votar em mulheres para a presidência do Brasil. Depois de pensar um pouco e dar uma lida em alguns textos, trouxe aqui um insight sobre o tema.

Tenha plena certeza que isto é um tema polêmico, inclusive nem estava tanto a fim assim de dar minha cara a tapa com este texto. Mas se Deus permitiu que eu o escrevesse, então é poque alguma coisa queria com este texto.

Não pretendo exaurir o tema, inclusive tenho certeza que há muitas outras coisas que poderiam ser ditas. De qualquer forma, segue aí o que escrevi sobre este tema tão polêmico. Espero que lhes seja útil.

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A Palavra de Deus não deve ser moldada pela cultura ou pela época, muito pelo contrário: ela deve ser o nosso padrão de vida, para que moldemos este século. Então, é certo que o domínio do homem é um aspecto que vai além do meio eclesiástico, é um modelo social que se aplica a todas as instâncias. 

Mas, não raras vezes, não há homens competentes para realizar o trabalho; ou ainda, Deus escolhe mulheres para ser instrumento em suas mãos até mesmo para humilhar os homens mesmo. 

Temos vários exemplos bíblicos sobre isso. A mulher samaritana é quem levou as boas novas do Messias para o povo de sua cidade; Lídia foi o canal para a conversão de sua casa (e daquela região); Raabe salvou a vida dos espias e por aí vai. Débora é um caso disso também. Embora ela não fosse uma líder militar (isso estava a cargo de homens mesmo), era ela quem dava as diretivas que deveriam ser seguidas, pois vinham do próprio Deus. 

No livro “What's the difference” (“Qual é a diferença”), John Piper traz uma série de questões interessantes. A primeira é que, eventualmente, a mulher vai sim estar em posição de liderança em relação ao homem. Olha o exemplo: um homem está dirigindo numa estrada, mas se perde; pára o carro e pergunta da dona de casa que está varrendo a frente de sua casa qual o caminho correto para o destino. 

Neste caso, ela está exercendo uma espécie de liderança, porque ela tem um conhecimento superior sobre a geografia do local e o homem se submeterá ao seu conselho para chegar ao lugar correto. Mas note que ela não faria isso de forma a portar-se como uma ameaça à masculinidade do homem (não no sentido sexual, mas de liderança mesmo).

É óbvio que este não é um caso que se aplica a todas as situações, mas já serve como um bom exemplo para mostrar que não há, necessariamente, uma absoluta liderança masculina em todas as situações.

Um caso interessante no meio espiritual: o trabalho de orações, geralmente, é muito mais exercido pelas mulheres do que pelos homens. E, meu caro, se pararmos para pensar, o poder e a influência neste mundo de mulheres orando é muito maior do que todos os líderes homens juntos.

Mas ainda fica a questão de quais trabalhos ou atividades seriam mais voltadas para os homens ou para as mulheres. Piper dá uma noção interessante sobre isso também: a diferença está na forma como o relacionamento é dado, podendo ser pessoal ou impessoal e/ou diretivo ou não-diretivo.

Uma influência feminina diretiva e pessoal sobre o homem, acabaria por dar à mulher a autoridade que deveria pertencer ao homem. Quando o relacionamento é mais pessoal (como marido e mulher), uma influência forte neste caso, poderia ser inapropriada, tendo em vista o modelo bíblico do lar. Porém, outros tipos de influência feminina não afetariam a liderança masculina. Vamos aos exemplos de relacionamentos e influências impessoais.

Uma mulher que tenha feito engenharia de trânsito e desenhe o modelo de tráfego de uma cidade, acabou de influenciar absolutamente todos os motoristas homens daquela cidade. Da mesma forma, uma arquiteta que tenha desenhado um projeto, influenciou o trabalho de todos os homens que venham a trabalhar naquela obra – não raro tendo até que cobrar deles que seja seguido o projeto. 

O outro continuum trazido é a ideia da influência diretiva e da não-diretiva e serve para qualificar o primeiro. A diretiva seria, em outras palavras, dar ordens, como um comandante faz com seus soldados; neste exemplo específico, a autoridade militar feminina comprometeria o senso de masculinidade do homem e até mesmo a feminilidade da mulher (por favor, lembrem-se que isto é num sentido não-sexual). Este é um caso muito extremo, mas nem sempre precisa ser assim. 

No caso de, no trabalho, se ter uma superiora na chefia. Isso não impediria que se obedecesse às suas ordens, tendo em vista seu maior conhecimento e experiência (pelo menos em tese), sendo que estas ordens fossem de caráter impessoal, sem ofender a masculinidade ou a feminilidade. 

O outro aspecto são as influências não diretivas, como foi a de Abigail, por exemplo (I Sm. 25:23-42), que convenceu o rei Davi a não matar Nabal. Ela influenciou de tal forma a vida de Davi que alterou, de certa forma, o curso de sua vida; fazendo isso com uma discrição e submissão impressionantes.

A combinação desses dois continua (plural de continuum tá – pronuncie “contínua”) traz uma mulher que, em posição de alguma liderança, dará suas ordens de forma impessoal. E também, um homem maduro saberá aproveitar uma liderança diretiva de uma superiora com mais conhecimento e experiência.

Isto seria muito diferente de uma relação marido-mulher, onde uma tentativa de liderança diretiva por parte da mulher colocaria o homem num silêncio passivo ou numa raiva ativa – a Bíblia fala disso em diversos momentos de diversas formas.

Voltando um pouco ao tema que trouxe tudo isto à tona, cito Piper mais uma vez, que no artigo “Why a Woman Shouldn't Run for Vice President, but Wise People May Still Vote for Her”, ou “Porque uma mulher não deveria concorrer à Vice-Presidência, mas pessoas sábias ainda poderiam votar nela”, afirma que ele mesmo votaria em uma mulher caso o homem que estivesse concorrendo tivesse visões ou políticas que causariam mais prejuízos à nação do que aconteceria se uma mulher fosse eleita. 

Usar textos como Is. 3:12 como máximas e não contextualizá-los é um tiro no pé. A tradução Almeida Revista e Atualizada traz “à testa do governo”, a Nova Versão Internacional diz “dominam sobre ele [o povo]”. O domínio feminino no caso deste versículo pode ser entendido de outras maneiras, inclusive baseando-se no contexto da época. Por exemplo, pode ser que o autor estivesse referindo-se a homens efeminados ou fracos, como foi feito em Naum 3:13.

Por outro lado (e esta faz mais sentido no meu ponto de vista), pode ser que o autor estivesse referindo-se a mulheres que dominam o povo por causa da influência que tinham sobre seus maridos. Além de não ser próprio da época (em todos os povos), que uma mulher assumisse a liderança – as exceções aí seriam Cleópatra e até mesmo algumas “sumas-sacerdotas/governadoras” judias como Alexandra, antes de Hyrcanus II e Helena de Adiabene – tem ainda o fato de que isto foi algo que já aconteceu em Israel: Jezabel e Acabe! 

Em I Rs. 19-21 (em suma), temos várias atitudes de Jezabel que dão a impressão de que era ela mesma quem dominava sobre tudo; mas vê-se que o problema era um Acabe molengão. Para todos os efeitos, Acabe era o líder formal, mas Jezabel era quem governava. Leia I Rs. 21:7-8 e note como Jezabel dá uma dura em Acabe, chama ele de fracote e escreve cartas assinando com O NOME DELE! Ora! Se era ela quem governava, porque usava o selo do rei? Porque ele era quem “governava”.

E ainda tenho mais um argumento sobre aquele versículo, para mostrar que ele não é tão literal assim como querem interpretar: o versículo começa dizendo que “os opressores do meu povo são crianças”. Pera aê, pera aê. Como é que podem crianças serem as opressoras do povo?? Estavam elas pegando em armas para subjugar os adultos? É meio óbvio que não, meus caros. O texto se refere a líderes com uma mentalidade e comportamento infantis; não se refere à idade, mas à maturidade.

Temos que tomar cuidado com o que estamos lendo, para não dar interpretações forçadas. No caso de Is. 3:12, o texto não se refere diretamente a mulheres ocupando de fato cargos de alta liderança no governo; mas à fraqueza dos homens em não conseguir governar o seu povo.

E é justamente por isso que eu, talvez, finde por votar em uma mulher para a Presidência do Brasil. Simplesmente porque não encontro homens que sejam capazes de liderar e governar. Não é só porque tem homens no pário que eu automaticamente tenho que votar neles.

Ora, vocês acham que no tempo de Débora não havia nenhum outro homem em Israel? Que Deus olhou pro lado e pro outro e pensou: “É... não tem outro... vai tu mesmo”. Não, não. Havia diversos outros homens em Israel, mas nenhum teria a capacidade para dar o conselho e os julgamentos como Débora. 

Este não é o ideal divino. Assim como não era o ideal divino que o homem pecasse. Mas Deus permite que estas situações aconteçam para mostrar sua glória e majestade. Não se esqueçam que é Ele quem tem o domínio de todas as coisas: “Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça.” (Pv. 8:15); “[...] é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis [...]” (Dn. 2:21a)

Por isso, peço-vos que lembrem que, independente de quem ganhar essas eleições: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” (Rm. 13:1).

Independente de quem ganhe, esta pessoa será o seu(sua) e o meu (minha) presidente. E isto foi o que Deus quis que acontecesse. E n'Ele eu confio.


E por essa confiança, desejo que Ele seja vosso guia e vossa luz.

S. D. G.

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