Olá
a todos! Nos últimos posts temos estudado sobre Apologética, ou
seja, a defesa da fé. Após uma introdução sobre o tema, passamos
a nos debruçar sobre diversos aspectos e outras temáticas que
surgem quando estamos pensando em defender a razão da nossa
esperança (I Pe. 3:15). O tema de hoje não é nem um pouco mais
light do que os outros que vimos: é possível haver conciliação
entre fé e ciência?
Nós
vivemos na Terra, um planeta cheio de beleza, ordem, de uma natureza
exuberante e que por muitas vezes nos intriga. É interessante notar
que os primeiros cientistas eram cristãos! Estamos pensando aqui em
Copérnico, Newton, Kepler, Kelvin e, em certa instância, até
Einstein. O ponto principal que vamos tentar defender aqui é: o
Cristianismo foi condição essencial para o surgimento da
ciência.
(Obs.:
Este é um ponto passivo para os historiadores da ciência, que
admitem que o Cristianismo mais ajudou do que atrapalhou a ciência,
mas vamos tentar desenvolvê-lo melhor.)
Vamos
lá. O que é ciência? Ora, quando nos referimos a este
termo, estamos pensando num esforço da mente humana que depende dos
sentidos para avaliar a realidade. A ciência tal como a conhecemos
tem por base duas ideias principais: o método científico
(observação, identificação do problema, hipótese,
experimentação, formação de teses ou leis) e o
naturalismo/materialismo (tudo o que existe pode ser percebido e
compreendido pelos nossos sentidos).
E
quanto à fé? O texto de Hebreus 1:11 nos diz: “Ora, a fé é a
certeza de coisas que se esperam, a convicção
de fatos que se não vêem.”. Já o Dicionário
Priberam da Língua Portuguesa (importante dicionário online de
Portugal) define fé como: “Adesão absoluta do
espírito àquilo que se considera
verdadeiro.”.
Note
que as duas definições (uma sacra e outra secular) não são
contradizentes entre si, pelo contrário: apontam para uma crença em
algo que não se pode ver ou tocar, mas que se entende como
verdadeiro. Veja que até então não estamos falando de fé em Deus
ou Jesus, mas apenas de fé de uma maneira geral, como aquela tirada
da definição de um dicionário mesmo.
A
pergunta que se propõe então, é: fé é privada de razão? Vemos
que a definição do dicionário traz a ideia de adesão àquilo que
se considera verdadeiro,
logo, há algum pensamento racional por trás disso. Podemos
desenvolver isto um pouco melhor da seguinte forma:
Calvino
fazia menção ao sensus divinatis,
que é o desejo intrínseco a todo ser humano de chegar-se a Deus, de
preencher o vazio da busca pelo espiritual dentro de si, mas que este
desejo foi deturpado pelo pecado. A ideia é de que a fé per
si
é algo próprio da natureza humana, que tem aceitação racional sem
argumentos cogentes. Veja-se por exemplo: alguém é acusado de ter
cometido um crime, mas não consegue reunir evidências para mostrar
que não é culpado.
Então, como vimos, fé não é somente algo religioso, há outros
tipos. Os fatos não são entendidos isoladamente, mas dependem de um
sistema de crenças. A Terra é redonda. Ok. Mas o que isto implica?
Em que contexto isso é relevante? O sistema de crenças que leva à
compreensão dos fatos e sua interpretação é um tipo de fé, pois
também baseia-se em pressupostos (como já vimos antes).
Vamos
ver um exemplo prático disso? Analisemos a história do Bóson
de Higgs!
Isso mesmo, podemos demonstrar através de uma descoberta científica
que a fé perpassa todos os níveis do entendimento humano. Olha só
que bacana:
Em
1964,
o físico Peter Higgs, da University of Edinburgh, na Escócia,
propôs (a partir das ideias de Philip Anderson) a existência de uma
partícula que atuaria unindo todas as partículas conhecidas da
matéria (férmions) e os transportadores das forças que agem sobre
elas (bósons), num oceano quântico onipresente chamado campo de
spin-0.
Porém estamos falando da década de 1960 e os experimentos feitos na
época não foram suficientes para provar a existência de tal
partícula e, por isso, a teoria não teve credibilidade na época –
inclusive muitos acreditavam que estas pesquisas eram um beco sem
saída e encorajavam os cientistas a desistirem desta área de
estudo.
Porém
a ideia era muito boa, parecia se encaixar de uma forma tão boa que
alguns cientistas – mesmo a teoria de Higgs não
tendo sido provada ainda
– resolveram continuar baseando-se nesta ideia para suas
formulações teóricas. Durante a década de 1970, algumas ideias
desenvolveram-se e apontavam que as ideias de Higgs estavam certas;
na década de 1980, o Bóson de Higgs permanecia uma grande incógnita
da Física, pois não podia ser provado.
Na
década de 1990, experimentos ainda buscavam ansiosamente esta
partícula; e mesmo ela não tendo sido provada, em 2010, a revista
científica Physical
Review Letters's
reconheceu o trabalho (ainda
não provado cientificamente)
de Higgs e concedeu a ele e outros autores o J.
J. Sakurai Prize for Theoretical Particle Physics.
Meus
caros, foi só em 2012! E só em 2013 que confirmaram
mesmo! E até hoje, 2016, os cientistas estão bem
confiantes
(que termo “preciso”, né?) que a partícula que eles descobriram
no CERN é de fato o Bóson de Higgs. Mas,
de qualquer forma o cara ganhou o Nobel em Física de 2013 pela sua
importante descoberta para a Física contemporânea.
Vejam
bem a história: 1964-2012. Gente, são mais de 40 anos de diferença!
O que leva uma comunidade de cientistas, baseados pela lógica e pelo
seu pensamento racional, ficar quase meio século baseando suas
ideias em algo que eles apenas acreditam
ser real, sem que o mesmo esteja provado? Minha gente, a resposta é
muito clara: fé.
E
isto não é ruim! Mesmo
não sendo provado por argumentos cogentes, isto não tira a
veracidade de um fato e nem tampouco a capacidade de acreditar nele e
basear a sua vida, sua pesquisa acadêmica, suas ideias naquilo. A fé
não é condição para a falta de racionalidade.
Vamos
ver de novo o texto de Hebreus 11:1, e olha como tem tudo a ver com o
Bóson de Higgs: “Ora,
a fé é a certeza
de coisas que se esperam, a convicção de fatos
que se não vêem.”.
A
fé, meus caros, não se trata só de religião. Fé e ciência não
são contraditórios,
não há uma guerra entre eles, muito pelo contrário, estes termos
são complementares.
No
próximo post vamos continuar a fortalecer a ideia da relação
essencial
que há entre o Cristianismo e a Ciência, demonstrando que foi
necessário que cientistas cristãos estivessem dispostos a estudar a
revelação de Deus na natureza para que a ciência chegasse no
patamar que chegou hoje.
Até lá, seja Deus vosso guia e vossa luz
S.D.G.
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