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sábado, 13 de setembro de 2014

Testemunhar do amor - VI

Bom, outra história que merece destaque é a da D. Agmária e do Sr. Abel. Não lembro claramente quando foi, só sei que foi assim:

Era um culto de quarta-feira, e quando nos dividimos para orar, uma senhorinha, meio baixinha, de cabelos marrons ligeiramente arruivados, com uma vozinha fraca mas gentil, chamou-me e disse que gostaria de orar comigo naquele dia. 

Esta era a D. Agmária, esposa do Sr. Abel. Ela havia já por duas quartas-feiras seguidas contado que estava muito feliz porque o Sr. Abel, que estava sofrendo com um câncer por 01 ano, tinha passado pela última sessão de quimioterapia e estava respondendo bem ao tratamento e que logo mais ele estaria de volta à Igreja Presbiteriana do Sudoeste (IPSW).

Aquela notícia me alegrava o coração! Saber que mais um dos filhos de Deus tinha vencido esta dura batalha e estava pronto para voltar a uma comunhão mais intensa com os santos. A alegria daquela senhorinha era a minha, ela é minha irmã em Cristo.

Alegrai com os que se alegram e chorai com os que choram.” (Rm. 12:15) 

Logo após termos terminado o momento de oração, ela me disse em alto e bom som:

- Gabriel, você tem que tirar um dia para ir lá em casa! Falei pro meu marido sobre você e ele disse que quer muito te conhecer; ele é escritor.

“Escritor?! Uau! Que legal! O que será que ele escreve? Será que é acadêmico ou é literário? Puxa! Que bom que ela está me convidando!” Estes foram alguns dos pensamentos que passaram pela minha cabeça animada naquele momento. Eu me senti tão confortado, tão acolhido. Aquela senhorinha estava me chamando pra ir um dia lá tomar um café, ela estava tomando conta de mim.

Agora mesmo meus olhos marejam pela bondade daquela senhora, pelo carinho que ela demonstrou por alguém que ela só tinha visto duas ou três vezes em sua vida. Aquela serva do Senhor me mostrou como é preciosa a comunhão e a hospitalidade que os filhos de Deus devem ter. A Bíblia adverte sobre isso:

[...] compartilhai a necessidades dos santos; praticai a hospitalidade.” (Rm. 12:13). Este tipo de amor, que reflete o amor divino, é sempre encorajado: “Seja constante o amor fraternal. Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos.”(Hb. 1:1-2)

Inclusive, aquela não foi a única vez que ela fez isso. Em um domingo, à noite, ela chegou para falar comigo e disse-me:

- Gabriel, tentei falar com você hoje de manhã, mas você já tinha ido. Ia convidar você pra almoçar lá em casa... Onde você almoçou? Almoçou sozinho? 

Este tipo de preocupação tem que se tornar o padrão em nossas igrejas. Aquela era uma serva de Deus, e eu reconheci isso pelo amor que ela demonstrava: “Nisto conhecerão todos os que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo. 13:35).

Note-se, portanto, que a D. Agmária foi (é) alguém bastante marcante. Naquela quarta-feira a noite nós combinamos que eu iria tomar um café na casa dela durante a semana pra conhecer o Sr. Abel também. No domingo, quando nos reencontramos, marcamos para a terça-feira a noite (se não me engano). 

Tem mais um aspecto do acolhimento para ser destacado nessa história (antes de chegarmos na casa da D. Agmária). Lembram que eu não tinha carro pra ficar rodando na rua? Pois é. A D. Agmária pensando nisso, chamou também alguns outros adolescentes para ir naquele dia (Guilherme, Ana e Maria Eduarda, irmã da Ana), e o pai do Guilherme, o Sr. Miguel, me deu carona para ir para lá.

Bom, então fomos para a visita na casa da d. Agmária. Lá eu conheci o Sr. Abel. Deixarei a fotografia descrevê-lo; esses são o Sr. Abel e a D. Agmária:

Creio que nem precisa, mas, da esquerda para a direita: D. Agmária, eu e o Sr. Abel

A casa deles era perto do Setor Sudoeste, ficava no Cruzeiro, um bairro vizinho. Confesso que a carona que o Sr. Miguel deu foi essencial, porque era “perto”, mas a pernada ia ser bem grande. Ao chegar lá tive a oportunidade de conhecer o Sr. Abel, que com sua voz mansa e pausada, seu sorriso sempre presente, recebeu-me de forma calorosa e logo fez eu me sentir em casa.

Que tempo precioso que foi aquele! O Sr. Abel perguntou-me algumas coisas (o básico de quem eu era e pra onde ia, hehee) e comentou muitas outras. Como era bom ouvir aquele senhor falar! As histórias que ele contava! Fiquei sabendo nesta noite, que o sr. Abel é um poeta e já tem quase 1000 textos escritos (não, eu não errei, o número é mil mesmo!); inclusive, é possível lê-los neste endereço: http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=15153

Ele disse que começou a escrever a apenas cerca de 6 anos, depois que se aposentou. Ele tem muitos textos escritos para os netos, especialmente quando morava perto deles em Sobradinho (uma cidade-satélite de Brasília), e vivia histórias diárias com eles. Mas não escreve somente isto, tem textos de todos os tipos para todas as ocasiões; ouvi-lo recitá-los é algo memorável.

Mais tarde chegaram a Ana e a Maria Eduarda (irmã da Ana). Conversamos sobre diversas coisas naquele dia; falamos, falamos, falamos e ainda dava pra falar um pouco mais. O Sr. Abel confessou estar surpreso e muito feliz que os jovens estivessem visitando os velhos e que isso não era mais comum hoje em dia. 

Fiquei triste em constatar que isto não é mais nossa praxe, temos que lembrar de aprender com a sabedoria dos mais velhos! E os mais velhos têm que lembrar de ensinar suas experiências aos mais novos! E não precisa só ser coisas da fé, contem sobre sua juventude, sobre seus medos, as decisões que tomaram... Tenham em mente que, muitas vezes, os jovens não querem ouvir, porque os mais velhos não sabem falar... É uma via de mão dupla e ambas as partes têm que cooperar.

Findamos aquele momento com um cafezinho, suco e pão de queijo feitos pela D. Agmária (que, aliás, estavam muito bons!). Que momento maravilhoso de comunhão! De aprendizado juntos, de compartilhar e conhecer mais uns aos outros. Repito o versículo de Romanos: “[...] compartilhai a necessidades dos santos; praticai a hospitalidade.” (Rm. 12:13). 

Naquele dia, meu coração se alegrou muito por diversos motivos. Porque foi possível visitar aqueles senhores que tanto queriam me conhecer e que me receberam de braços abertos. Pelos jovens que estiveram ali também, pelo entusiasmo de aprender com as histórias do Sr. Abel e de ouvi-lo. E, especialmente, porque o Sr. Abel estava se recuperando de um câncer e estava indo muito bem nessa caminhada! É tanta alegria que nem posso descrevê-la por completo.

Não faz muito tempo, a madame Priscila e D. Graça inventaram a história de que iam me candidatar pra presbítero na igreja. Eu ria daquilo no primeiro momento; hoje, depois de tudo que tenho passado, aprendi que meu dever é me colocar à disposição do meu Senhor. Se Ele quiser que eu seja, eu serei; se não quiser, não serei, e isso será o melhor para a minha vida. O que importa é que eu esteja lá para servi-Lo quando Ele assim me chamar.

Estou dizendo isso porque o trabalho de visitação é muitas vezes exercido pelo presbítero também (não deve ser uma atividade exclusiva do pastor titular – os presbíteros também são pastores!); nesses trabalhos é comum ir à casa da pessoa para conversar, ler um trecho da Bíblia e orar pela família. E, antes mesmo de ir para a casa do Sr. Abel, eu já pensava em algum texto que eu pudesse ler que tivesse a ver com aquele momento de comunhão dada por Deus.

Alguns textos me vieram à mente, cheguei a pegar dicas com o Pr. Jonas, mas acabou que na hora outro texto surgiu. Naquela noite, quando já estávamos para ir embora e a mãe das meninas já estava do lado de fora esperando para sair, pedi para ler um texto da Bíblia antes de partirmos (até pedi para chamar a mãe das meninas para compartir aquele momento). 

Li o Salmo 103. Destacarei aqui apenas alguns versículos:

Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades, quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia. […] Bendize, ó minha alma, ao SENHOR.” (Sl. 103:1-5, 22c)

E orei.



Este foi um dos momentos mais bonitos dessa viagem. Eu amo servir ao meu Senhor. Eu amo testemunhar do Seu amor. Isso não é um peso, isso é o meu maior privilégio. 

Nessa viagem, não resolvi tantas coisas “minhas” como eu gostaria: não consegui resolver se vou mudar ou não, se vou fazer algum curso, o que seria do meu futuro profissional... Tudo isso continuou do jeito que estava, parecia que a viagem não tinha acrescentado em nada! Como eu sou tolo. Como sou tolo em pensar algo assim. Eu estava lá (e estou aqui) para servir e fazer o que Deus quer para a Sua obra. 

Agora mesmo me emociono em lembrar a preciosidade do momento. E espero que o leitor possa ter um pouco disso também, espero que estas histórias sirvam para encorajá-lo a servir ao Senhor Deus, a querer ter isso na sua vida também. A minha oração é que todos vocês possam ser uma ferramenta útil nas mãos do Altíssimo.

Naquele dia, eu visitei a casa do Sr. Abel e da D. Agmária. Neste mesmo dia, eles visitaram meu coração. A diferença é que naquela noite eu me despedi e saí da casa deles; mas eles não. Eles acharam morada no meu coração.



Este não foi o último post dessa série. Ainda farei mais um falando de algumas pessoas que conheci com quem não tive tanto contato, mas que mesmo assim marcaram de certa forma esta viagem. Contarei um pouco mais das bênçãos que Deus tem derramado em minha vida e as oportunidades que Ele tem me dado de servi-Lo. 

Até logo mais! 
Que Ele seja vosso guia e vossa luz.
S. D. G.

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