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domingo, 29 de janeiro de 2017

Apologética - A glória de Deus: vaidade? (I)

Pois é, meus caros, pois é. Este é o último assunto que estaremos tratando no quesito Apologética, pelo menos por enquanto. Nesta série de estudos, vimos um pouco do que é a Apologética em si, sua função e utilidade; falamos sobre o Relativismo, seus perigos e contradições; questionamos se a Bíblia é mesmo a palavra de Deus, se Deus existe, se havia oposição entre fé e ciência; falamos sobre o debate criacionista x evolucionista; vimos o que a Bíblia fala sobre anjos e demônios; falamos um pouco sobre Deus permitir que tragédias aconteçam e ainda sobre Sua justiça. Foi uma longa jornada, devo admitir. 

No post de hoje, trataremos de um assunto que nem sempre ouvimos por aí, mas muitos pensam: por que Deus quer a glória toda para si? Isto é reflexo de uma personalidade narcisista? Esse Deus que nós adoramos precisa dessa adoração para ser Deus? Afinal, para quê a glória a Deus?

A Declaração de Cambridge é documento importante para nós reformados, nela estão contidos os 5 solas da Reforma Protestante. Um deles nós costumamos falar muito e, inclusive, é como eu assino todos os meus posts no final: S.D.G., Soli Deo Gloria. Leiam-no na íntegra:
Tese 5: Soli Deo Gloria

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.
Em que pese, a glória de Deus é parte central da nossa teologia. Tanto o Breve quanto o Catecismo Maior de Westminster (também dois pilares na instrução da nossa doutrina), a primeira pergunta postula: "Qual é o fim principal do homem?", ao que responde: "O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre", embutindo aí os dois lados da moeda: glorificar (atividade) para desfrutar (prazer) dessa mesma glória (em momento oportuno podemos estudar as perguntas do catecismo). 

A glória de Deus também sempre foi destacada como cerne da Bíblia: do Éden ao Apocalipse vemos manifestações disso em diversos textos e momentos, sejam nos Dez Mandamentos, sejam nos ensinos de Jesus, dos profetas, dos apóstolos. Os exemplos são muitos e muitos. Abra qualquer página da Bíblia e você vai ver um versículo que aponte para a glória de Deus. Optei por esse aqui:
"Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus." (Jo. 9:1-3)
Esse texto é bom pra essa discussão que estamos tendo. Nos tempos bíblicos, as deficiências eram entendidas como maldição em muitos povos, porém, neste caso, Jesus disse que não se tratava de um pecado ou uma maldição sobre a vida do homem, mas que aquilo houvera acontecido para manifestar a glória de Deus.

Vendo isso a gente pode pensar: "Poxa! Mas o cego ficou cego a vida inteira só pra isso? Que maldade! Deus privou o homem da visão só para que se manifestassem nele suas obras!". Pode parecer que Deus quer a glória d'Ele à custa do sofrimento alheio, dando a impressão de um Deus arrogante e mesquinho. Mas será que é isso mesmo?
"No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória." (Is. 6:1-3)
Na visão do profeta Isaías, ele vê o Senhor Deus assentado num trono. Pergunto: quem é que senta no trono? Ninguém menos que o Rei, é claro. Vocês já viram a Rainha da Inglaterra (aquela que vive quase pra sempre)? Existe todo um protocolo apenas para se aproximar da rainha, ninguém pode se aproximar de qualquer jeito e existem circunstâncias específicas sob as quais se pode tocá-la! Ela tem uma autoridade muito grande, mesmo que seu poder hoje seja limitado.

Ora, se nós prestamos tamanha reverência a uma autoridade constituída por homens, então a primeira conclusão que tiramos é que Deus merece toda a glória porque Ele reina sobre tudo e sobre todos. Não bastasse esse texto de Isaías, olha como a Bíblia ratifica a autoridade de Deus:
"Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono." (Sl. 47:8)
"Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem." (Jo. 19:11)
"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas." (Rm. 13:1)
Nós podemos até mesmo lembrar dos posts sobre anjos e demônios, lembrando que até estes seres estão sob o domínio de Deus e, no caso dos anjos, eles próprios existem para continuamente adorá-lo e glorificá-lo.

Um outro aspecto da glória de Deus é que, para nós, ela é humilhante: "Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Is. 6:5).

Isaías se apavora, porque ele contemplou a glória de Deus de tão perto que foi como olhar num espelho: se estamos distantes não conseguimos enxergar direito, vemos nossa silhueta e alguns aspectos gerais; mas conforme nos aproximamos o reflexo fica mais nítido e, juntamente com ele, nossas imperfeições, nossas impurezas ficam mais aparentes.

Quanto mais próximos estamos da glória de Deus, mais o nosso pecado, nossas fraquezas, nossos defeitos ficam aparentes. Por isso, o resultado de uma aproximação com a glória de Deus é o reconhecimento da nossa natureza má, é vergonha, humilhação porque sabemos que não somos dignos de contemplar a glória do Senhor tão impuros como somos e estamos.

Quando Jesus realizava seus milagres, ele apontava para a glória do Deus Pai. Foi numa realização destes milagres que Pedro reconheceu a glória do Senhor através de Jesus: "Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador." (Lc. 5:8). Este deve ser o pensamento, a atitude do pecador diante do esplendor puro da glória de Deus.

Lembram do espinho na carne de Paulo (II Co. 12:7-8)? O que Deus responde quando ele pede para que seja removido o espinho? "Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo." (II Co. 12:9).

Porque a glória do Senhor, ao nos humilhar, nos envolve com a misericórdia e a graça divina que recebemos ao nos arrepender dos nossos pecados, ao reconhecer nossa situação de pequenez diante d'Aquele que é.


Este primeiro post é para lembrarmos quem é este Deus cuja glória alguns querem questionar. Ele é o Todo-Poderoso, o Soberano do tempo e do espaço. Simplesmente por isso, Ele já é merecedor de toda a glória! Mas, como se não bastasse, ainda escolhe derramar seu amor, graça e misericórdia sobre os que escolheu; não porque o merecem! Mas para que glórias sejam dadas ao Seu nome.

No próximo post, vamos desenvolver um pouco mais profundamente este tema. E já deixo aqui um teaser: respondemos aqui que o fim principal do homem (na verdade o pessoal de Westminster nos ajudou com isso) é glorificar a Deus e honrá-lo para sempre. Mas... qual é o fim principal de Deus? Ele tem um propósito? Quais as motivações de Seu coração? Existe algo que o move? Ele tem algum objetivo com seus planos? Afinal... qual é o fim principal de Deus?

Essas e outras perguntas tentaremos responder.
Até lá, seja Ele vosso guia e vossa luz.

S.D.G.

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