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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Escatologia - I

Hello senhoras e senhores! Estamos aí de volta pra mais uma série de posts, dessa vez sobre Escatologia! Fiquei um bom tempo parado por conta dos estudos e diferentes trabalhos, mas acho que será possível escrever uma boa série de posts sobre este assunto. Estarei, junto com o Presb. Robson, ministrando esta série de aulas aos adolescentes da II Igreja Presbiteriana de Boa Vista.

Devo citar que esta série de estudos são uma adaptação das lições trazidas pela revista Palavra Viva, da editora Cultura Cristã. Ressalto que não é uma mera reprodução do conteúdo, porque eu mesmo busco agregar mais conhecimentos e claro a redação também. De qualquer modo, vamos estudar!


Aí vem a primeira pergunta: o que é escatologia? Acho que a figura acima aí já deu a dica né? A definição básica de escatologia é o "estudo dos últimos tempos", ou "das últimas coisas", basicamente fala do fim do mundo. A grande tribulação, o tal do 666, a besta, a outra besta, a mulher, e tantas outras coisas da escatologia serão estudadas por aqui. Neste post e nos outros vamos construir e desconstruir alguns conceitos aí que são perpetuados pela tradição mas que não estão na Bíblia, a nossa regra de fé e prática. 

A pergunta inicial hoje é: O que a escatologia tem a ver com nós no presente? Na nossa época midiática, é muito comum vermos temas da escatologia presentes em filmes, livros, séries e outros mas todos imbuídos de uma construção ficcional que nem sempre é a verdade.

Um primeiro alerta é: escatologia é o estudo dos últimos tempos, mas ela vai além do "futuro", é algo que está presente hoje. Os estudos de escatologia estão muito mais ligados a esperança cristã do que a saber o que vai acontecer no futuro ou o temor dos últimos tempos. Este aspecto é o que será mais explorado neste post.

O segundo alerta é que escatologia não é sinônimo do Apocalipse. A ideia desta doutrina perpassa toda a Bíblia, justamente porque a esperança cristã é algo que está presente em toda a Bíblia. Basta lembrar da primeira promessa de esperança: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gn. 3:15)

O terceiro alerta, e talvez o mais importante: NÃO devemos estudar escatologia apenas para satisfazer a curiosidade. Isto é muito, muito importante. Escatologia não serve para ser um documentário do Discovery ou Fantástico, até porque nós nunca vamos conseguir desvendar todos os mistérios que estão ali. Alguns foram deixados sem solução de propósito: Deus quer que aguardemos o dia da Revelação final.

Este último alerta é bem importante, especialmente porque essa série de posts não vem pra necessariamente fazer esses esclarecimentos, mas para utilizar a escatologia com seu real propósito. Satisfazer curiosidades é o que o mundo quer e eu não sou como eles. Devemos tentar entender como essa doutrina afeta a vida cristã hoje. E é isso que passaremos a fazer.


A primeira coisa a destacar é que a escatologia funciona como um mapa: ela propõe uma direção, aponta o caminho e diz onde vamos chegar. Este primeiro aspecto é muito importante porque é justamente um dos maiores problemas atuais da fé cristã: as pessoas esqueceram qual é o seu destino. Vivem uma vida pelo "aqui" e o "agora".

Nosso Deus não é assim. Ele é um Deus teleológico, ou seja, Ele tem propósitos, objetivos. Foi assim desde o começo; o homem, ao ser criado, não ficou a esmo, tinha uma ordenança, um propósito: "E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gn. 1:28)

Mesmo depois do pecado, Deus continuou a dar um propósito ao homem, garantindo a Ele a imerecida promessa e esperança da redenção. O caso de Caim e Abel é bem propício. Neste contexto, Eva achava que Abel já era o Messias prometido pelo Senhor (e Abel aponta para Cristo mesmo); mas Caim o mata. Mesmo assim, Eva não perde a esperança de que haveria um redentor a vir:

"Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor. [...] Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou." (Gn 4:1,25).

A esperança estava viva em seu coração porque ela não olhava para as circunstâncias do presente, mas lembrava da promessa de Deus e olhava para a direção que Ele havia apontado. De fato ainda estava longe de chegar o Redentor, mas era esta esperança que a mantinha firme.

Esta percepção de olhar para frente e buscar a direção correta é uma marca de toda a Bíblia. Este senso de missão esteve presente em diversos momentos. Apontarei aqui apenas alguns:
Abraão: "Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã." (Gn. 12:1-4)
Moisés: "Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito." (Ex. 3:7-10).
Josué: "Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais." (Js. 1:6)
E isto se repete em muitos outros momentos! O que fazia Daniel aguentar todas aquelas situações de perseguição? O que impulsionava o ministério dos profetas? Ora, qual fora a motivação maior dos discípulos de Jesus quando Ele veio, senão justamente as promessas de sua vinda no Antigo Testamento? E depois de sua morte e ressurreição, o que manteve a Igreja e a fez crescer? Ora, não fora a promessa de Jesus em retornar e o novo céu e a nova terra? Não é essa mesma a promessa de esperança e redenção que permanece para nós hoje?

Meus caros, a escatologia não fala apenas do Apocalipse! A Bíblia toda está repleta das promessas de Deus e do propósito que Ele traz ao seu povo. Fica evidente na vida destas pessoas que era a ideia do destino final apontado por Deus que os sustentava. Daí passamos para o nosso segundo ponto.


A escatologia bíblica propõe segurança. O mesmo Deus que traz as promessas é quem garante o cumprimento de todas elas. O mesmo Deus que disse a Josué que daria a ele as terras prometidas a seus antepassados foi quem garantiu que estaria com ele durante todo o processo: "Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares." (Js. 1:9)

Nosso Deus sempre cumpre suas promessas: "Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?" (Nm. 23:19)

Lembrem-se do texto que vimos de Abraão. O que leva um homem de 75 anos de idade a sair da sua terra para atender às ordenanças de Deus? Ora, a confiança e a segurança que este mesmo Deus iria cumprir o que havia prometido. Abraão tinha tamanha segurança disso que não teria hesitado em sacrificar o próprio filho se isso fosse necessário, cito dois versículos apenas para lembrar o episódio:
"Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho. E pôs Abraão por nome àquele lugar — O Senhor Proverá. Daí dizer-se até ao dia de hoje: No monte do Senhor se proverá." (Gn. 22:13-14)
Era a confiança escatológica de Abraão que o manteve firme no caminho apesar de todas as circunstâncias, ou seja, a crença nas coisas que ainda aconteceriam. Isso é confirmado pelo autor de Hebreus que diz: "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia." (Hb. 11:8).

Quem tem uma percepção da doutrina escatológica, tem a mesma fé de Abraão. Quem tem o alvo da doutrina escatológica na mente, pensa que nem Paulo: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus." (Fp 1:6).

E vale lembrar que essa fé não é cega. Nós não cremos porque cremos, nós temos ao nosso lado a lógica, os fatos, e diversos outros motivos para demonstrar que há razão na nossa esperança, que nossas ideias e ideais não são loucuras, mas tem em si motivos também intelectuais. Para saber mais sobre isto, basta ver a série de posts sobre Apologética neste blog.


Neste terceiro e último ponto, lembramos que a Bíblia aponta o destino final da existência humana: "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros." (Ap. 20:11-12)

Em nossas vidas, cada acontecimento está sob o Decreto Eterno de Deus (doutrina que podemos estudar em tempo oportuno). Não obstante, a nossa vida é uma soma, um conjunto das decisões que tomamos conforme o tempo passa. O que a Bíblia nos relembra é que nós prestaremos conta dessas ações. A ideia do juízo está presente na Bíblia também:
"Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Ec. 12:14)
"é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo," (II Pe. 2:9)
O conhecimento de uma boa doutrina escatológica automaticamente nos leva a um estilo de vida próprio. Quando o cristão tem os olhos nas promessas e esperanças que a escatologia relembra, ele entende que a sua vida não pode ser pautada pelo comportamento do que é terreno: ele sabe que deve ter um padrão de alguém do Reino dos Céus. Este é o terceiro e último ponto: a escatologia bíblica nos propõe um padrão a seguir.

Isto significa que o cristão já deve ter agora a perspectiva do futuro e viver pautado por ela. Lembro do exemplo de um pastor já idoso cristão que dizia claramente: "Eu sei que sou velho, mas também sei que não vou morrer". Ué! Mas como assim?, eu pensei. Aí ele complementou: "Esse meu corpo pode até perecer, mas eu não sou um cidadão dessa terra, eu pertenço ao Reino dos Céus, e é lá que vou morar."

Que profundo! E quão verdadeiro é isso! Se tivéssemos sempre esta mentalidade, estariam solucionados tantos problemas dentro das igrejas e nos testemunhos de pessoas ditas cristãs. A escatologia serve também para nos lembrar de como devemos viver nossa vida no presente.

Esse padrão de vida, em verdade, é o esperado de todo verdadeiro cristão que anseia a volta de Jesus. Paulo viveu sua vida na terra lembrando sempre de qual era seu destino final: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda." (II Tm. 4:7-8)
"Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-seE eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas." (Ap. 22: 11-14)
É exatamente essa percepção que deve nos impelir a viver adequadamente aqui. Não por obrigação nem porque "a Bíblia manda"! Não! Nós fazemos (e eu estou incluso nisso) porque temos a maior de todas as alegrias em servir ao nosso Deus e não vemos a hora de vê-lo voltar, e Ele nos encontre vivendo em Seus caminhos. Ah quão doce esperança! (Maranata!)



Vimos portanto que a doutrina da escatologia nos ajuda: a) a dar um sentido para nossa vida; b) a ter esperança no futuro; e c) nos lembra como devemos viver no presente. Mas é importante ainda lembrar que para ter uma verdadeira fé escatológica nós precisamos de pelo menos três elementos:

  1. Conhecer a Palavra de Deus para termos a verdadeira confiança e sabermos o caminho: "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos." (Sl. 119:105).
  2. Conhecer e reconhecer o caráter de Deus, saber que Ele é perfeito e não falha. Foi o que Sara fez: "Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa." (Hb. 11:11)
  3. (Re)conhecer a necessidade humana da ação divina: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." (Jo. 15:5)
Finalizamos este primeiro post lembrando que nossa esperança deve estar em Cristo. É disto que trata, em última instância a escatologia. É por causa desta esperança que temos no hoje as alegrias dos tempos vindouros: "Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;" (I Pe. 1:6-7).

Que o Deus do passado, presente e futuro seja vosso guia e vossa luz.
Até o próximo post.

S.D.G.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Apologética - A glória de Deus: vaidade? (II)

Hello, hello! Nesta última braçada de estudos sobre Apologética, estamos buscando entender um pouco mais sobre a glória de Deus e nos questionando se Ele é um ser egoísta por querer essa glória toda para si. No último post vimos um pouco da razão pela qual Deus detém toda essa glória, da Sua autoridade e poder. 

Notem que ainda não respondemos bem a pergunta se Deus quer a glória para si porque seria alguém narcisista; e finalizamos o último post com um teaser: O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Mas... qual é o fim principal de Deus? Quais são as motivações de Seu coração? Existe algo que o move? Ele tem algum objetivo com Seus planos?


 Vou deixar que os textos bíblicos respondam a essas perguntas, observando o caso de Israel:
"Direi ao Norte: entrega! E ao Sul: não retenhas! Trazei meus filhos de longe e minhas filhas, das extremidades da terra, a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz." (Is. 43:6-67)
"Porque, como o cinto se apega aos lombos do homem, assim eu fiz apegar-se a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá, diz o SENHOR, para me serem por povo, e nome, e louvor, e glória; mas não deram ouvidos." (Jr. 13:11)
"Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho. Mas ele os salvou por amor do seu nome, para lhes fazer notório o seu poder." (Sl. 106:7-8)
"Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. [...] Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem." (Is. 48:9,11)
Durante toda a trajetória do povo de Israel, Deus esteve movido tão somente pelo amor à Sua glória! Não foi pelo o que o povo fez ou por quem eram. Desde a criação, Deus os havia criado para a Sua glória. Veja como o texto de Ezequiel deixa a questão claríssima:
"Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. [...] Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o SENHOR Deus. Envergonhai-vos e confundi-vos por causa dos vossos caminhos, ó casa de Israel."  (Ez. 36:22, 32)
Não resta dúvida, portanto: a motivação de Deus (Sua determinação última) não pode ser outra se não a Sua própria glória. O fim principal de Deus é glorificar a Si e gozar a Si mesmo para sempre! O problema do homem consiste em sempre acharmos que somos o centro do universo. Muito embora seja derramado sobre nós o amor de Deus, não quer dizer que ele é exclusivo nosso.


Estamos explorando aspectos da glória divina, Seu propósito, autoridade, porém, mais uma vez, isso tudo ainda parece apontar para um Deus egocêntrico, que busca apenas a Si mesmo, como num eterno narcisismo. A verdade é que não gostamos de pessoas assim; gente que vive querendo a glória para si. E isso ocorre por alguns motivos.

Primeiro é que não gostamos porque elas fazem isso em excesso, ficam constantemente "relembrando" a sua glória e a necessidade da exaltação. Segundo, isso demonstra fraqueza e insegurança da parte delas: elas vivem da glória que os outros as dão, como se sua própria existência estivesse vinculada à glória que elas conseguem arrancar das pessoas. Terceiro, não raro, essas pessoas querem a glória para si à custa de outras pessoas, sem se importar com elas.

Temos razão em não gostar de gente assim. Mas nosso Deus não é como elas, Ele não é fraco ou inseguro. E o texto bíblico mostra que Ele não busca o próprio interesse, veja: "O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;" (I Co. 13:4-5). Então por que, afinal de contas, ele vive querendo a glória toda para Si?!

Vendo este texto e contrastando com o que lemos sobre o que move Deus, parece haver uma contradição: ao mesmo tempo que Deus diz que faz todas aquelas coisas por amor de Seu nome, afirma também que não procura seus próprios interesses, visto que não somente age movido pelo amor, também é amor. 

A diferença -- e aqui chegamos no cerne da resposta à pergunta proposta -- é que o empenho de Deus em buscar a Sua própria glória é um ato de amor! Se Ele deixasse de fazer isso, nós é que perderíamos! Pense bem: qual seria a melhor coisa que Deus poderia nos dar para demonstrar o Seu amor? Ora, muito fácil: Ele mesmo!! Não somente fez isso por meio de Jesus, Ele também sabe que o melhor caminho é uma vida de intimidade com Ele. Por isso faz tanta questão que o glorifiquemos!

Vejam bem: o que fazemos quando nos deparamos com algo bom? Nós enchemos de honra! Vou dar exemplos práticos: vamos num restaurante e elogiamos a comida boa ("Nossa, que churrasco bom aquele, né?"); vemos um bebê e logo ficamos encantados ("Como é bonita a filha da fulana, não é mesmo? A cara da mãe."); até mesmo nas coisas mais simples, como um time de futebol ("Rapaz, que jogada bonita, aí sim, viu?").

Meus caros, o louvor no sentido de adoração do que nos agrada não é um ato acessório: é o clímax da alegria! O prazer espontâneo transborda em louvor, em gratidão, em adoração! A alegria é incompleta até que possamos expressá-la, seja como for que façamos isso!

Por isso, Deus é o total oposto do egoísmo! Se Ele é verdadeiro e quer nos dar o melhor para nossa alegria, então, Seu objetivo não poderia ser outro se não o de nos fazer adorá-Lo! Não porque Ele precisa, jamais! Mas porque Ele nos ama e quer nos dar plenitude de alegria! A auto exaltação de Deus é a maior fonte de todas as virtudes, é o caminho para a fonte de alegria eterna!


Mais uma vez, e para finalizar essa série de estudos, lembramos que o pecado é o depreciador supremo da glória de Deus. Todo pecado é uma preferência aos prazeres passageiros aos eternos que Deus tem preparado para nós. E todos estamos sujeitos a isso: "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus." (Rm. 3:23).

O primeiro passo para entender a glória de Deus é que a glória, per si, não é para nós. Entendam: mesmo que nós tivéssemos como conseguir a glória para nós, isso não seria o melhor! É a troca do eterno pelo passageiro. 

Por isso (e lembramos do último post aqui) a glória de Deus é humilhante. Ela demonstra claramente o quão não merecedores nós somos do amor e da própria glória de Deus, mas, mesmo assim, Ele escolhe nos amar e nos dar a fonte de alegria eterna: "Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte," (I Pe. 5:6).

Enquanto muitos contestam esse Deus que quer a glória toda para Si, outros compreendem que essa busca pela Sua glória é o melhor para nós. Nós podemos defender a razão da esperança que há em nós. Usem a Apologética não para seu engrandecimento intelectual, mas para a glória do nosso Deus, utilizando-se dessa ferramenta para proclamar as verdades d'Aquele que nos tirou das trevas para Sua maravilhosa luz.

A este Deus, nosso Pai, que por Seu filho, expressão máxima de Sua glória nesta terra, nos livrou das amarras eternas do pecado; que por meio do Espírito Santo está continuamente agindo em nós, dando-nos oportunidade de honrá-Lo aqui nesta terra; a este Deus toda a glória pelo séculos dos séculos, amém!

Seja Ele vosso guia e vossa luz.
Para sempre, 
Soli Deo Gloria.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Apologética - A glória de Deus: vaidade? (I)

Pois é, meus caros, pois é. Este é o último assunto que estaremos tratando no quesito Apologética, pelo menos por enquanto. Nesta série de estudos, vimos um pouco do que é a Apologética em si, sua função e utilidade; falamos sobre o Relativismo, seus perigos e contradições; questionamos se a Bíblia é mesmo a palavra de Deus, se Deus existe, se havia oposição entre fé e ciência; falamos sobre o debate criacionista x evolucionista; vimos o que a Bíblia fala sobre anjos e demônios; falamos um pouco sobre Deus permitir que tragédias aconteçam e ainda sobre Sua justiça. Foi uma longa jornada, devo admitir. 

No post de hoje, trataremos de um assunto que nem sempre ouvimos por aí, mas muitos pensam: por que Deus quer a glória toda para si? Isto é reflexo de uma personalidade narcisista? Esse Deus que nós adoramos precisa dessa adoração para ser Deus? Afinal, para quê a glória a Deus?

A Declaração de Cambridge é documento importante para nós reformados, nela estão contidos os 5 solas da Reforma Protestante. Um deles nós costumamos falar muito e, inclusive, é como eu assino todos os meus posts no final: S.D.G., Soli Deo Gloria. Leiam-no na íntegra:
Tese 5: Soli Deo Gloria

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.
Em que pese, a glória de Deus é parte central da nossa teologia. Tanto o Breve quanto o Catecismo Maior de Westminster (também dois pilares na instrução da nossa doutrina), a primeira pergunta postula: "Qual é o fim principal do homem?", ao que responde: "O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre", embutindo aí os dois lados da moeda: glorificar (atividade) para desfrutar (prazer) dessa mesma glória (em momento oportuno podemos estudar as perguntas do catecismo). 

A glória de Deus também sempre foi destacada como cerne da Bíblia: do Éden ao Apocalipse vemos manifestações disso em diversos textos e momentos, sejam nos Dez Mandamentos, sejam nos ensinos de Jesus, dos profetas, dos apóstolos. Os exemplos são muitos e muitos. Abra qualquer página da Bíblia e você vai ver um versículo que aponte para a glória de Deus. Optei por esse aqui:
"Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus." (Jo. 9:1-3)
Esse texto é bom pra essa discussão que estamos tendo. Nos tempos bíblicos, as deficiências eram entendidas como maldição em muitos povos, porém, neste caso, Jesus disse que não se tratava de um pecado ou uma maldição sobre a vida do homem, mas que aquilo houvera acontecido para manifestar a glória de Deus.

Vendo isso a gente pode pensar: "Poxa! Mas o cego ficou cego a vida inteira só pra isso? Que maldade! Deus privou o homem da visão só para que se manifestassem nele suas obras!". Pode parecer que Deus quer a glória d'Ele à custa do sofrimento alheio, dando a impressão de um Deus arrogante e mesquinho. Mas será que é isso mesmo?
"No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória." (Is. 6:1-3)
Na visão do profeta Isaías, ele vê o Senhor Deus assentado num trono. Pergunto: quem é que senta no trono? Ninguém menos que o Rei, é claro. Vocês já viram a Rainha da Inglaterra (aquela que vive quase pra sempre)? Existe todo um protocolo apenas para se aproximar da rainha, ninguém pode se aproximar de qualquer jeito e existem circunstâncias específicas sob as quais se pode tocá-la! Ela tem uma autoridade muito grande, mesmo que seu poder hoje seja limitado.

Ora, se nós prestamos tamanha reverência a uma autoridade constituída por homens, então a primeira conclusão que tiramos é que Deus merece toda a glória porque Ele reina sobre tudo e sobre todos. Não bastasse esse texto de Isaías, olha como a Bíblia ratifica a autoridade de Deus:
"Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono." (Sl. 47:8)
"Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem." (Jo. 19:11)
"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas." (Rm. 13:1)
Nós podemos até mesmo lembrar dos posts sobre anjos e demônios, lembrando que até estes seres estão sob o domínio de Deus e, no caso dos anjos, eles próprios existem para continuamente adorá-lo e glorificá-lo.

Um outro aspecto da glória de Deus é que, para nós, ela é humilhante: "Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Is. 6:5).

Isaías se apavora, porque ele contemplou a glória de Deus de tão perto que foi como olhar num espelho: se estamos distantes não conseguimos enxergar direito, vemos nossa silhueta e alguns aspectos gerais; mas conforme nos aproximamos o reflexo fica mais nítido e, juntamente com ele, nossas imperfeições, nossas impurezas ficam mais aparentes.

Quanto mais próximos estamos da glória de Deus, mais o nosso pecado, nossas fraquezas, nossos defeitos ficam aparentes. Por isso, o resultado de uma aproximação com a glória de Deus é o reconhecimento da nossa natureza má, é vergonha, humilhação porque sabemos que não somos dignos de contemplar a glória do Senhor tão impuros como somos e estamos.

Quando Jesus realizava seus milagres, ele apontava para a glória do Deus Pai. Foi numa realização destes milagres que Pedro reconheceu a glória do Senhor através de Jesus: "Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador." (Lc. 5:8). Este deve ser o pensamento, a atitude do pecador diante do esplendor puro da glória de Deus.

Lembram do espinho na carne de Paulo (II Co. 12:7-8)? O que Deus responde quando ele pede para que seja removido o espinho? "Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo." (II Co. 12:9).

Porque a glória do Senhor, ao nos humilhar, nos envolve com a misericórdia e a graça divina que recebemos ao nos arrepender dos nossos pecados, ao reconhecer nossa situação de pequenez diante d'Aquele que é.


Este primeiro post é para lembrarmos quem é este Deus cuja glória alguns querem questionar. Ele é o Todo-Poderoso, o Soberano do tempo e do espaço. Simplesmente por isso, Ele já é merecedor de toda a glória! Mas, como se não bastasse, ainda escolhe derramar seu amor, graça e misericórdia sobre os que escolheu; não porque o merecem! Mas para que glórias sejam dadas ao Seu nome.

No próximo post, vamos desenvolver um pouco mais profundamente este tema. E já deixo aqui um teaser: respondemos aqui que o fim principal do homem (na verdade o pessoal de Westminster nos ajudou com isso) é glorificar a Deus e honrá-lo para sempre. Mas... qual é o fim principal de Deus? Ele tem um propósito? Quais as motivações de Seu coração? Existe algo que o move? Ele tem algum objetivo com seus planos? Afinal... qual é o fim principal de Deus?

Essas e outras perguntas tentaremos responder.
Até lá, seja Ele vosso guia e vossa luz.

S.D.G.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Apologética - Deus e as injustiças

Olá pessoal! No post de hoje vamos continuar estudando algumas questões que sempre nos são colocadas e muitas vezes não sabemos como responder. A de hoje pode ser expressa de uma forma que já ouvimos várias vezes: Se Deus é justo, por que há tanta injustiça no mundo

Vamos tentar responder essa pergunta demonstrando de onde vem de fato a injustiça no mundo, como Deus revela a Sua justiça e o que devemos esperar disso.

"Sentença revelada ao profeta Habacuque.

Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.

Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada. Pois eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcham pela largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas.
" (Hc. 1:1-6)
Acabamos de ler o começo do livro do profeta Habacuque. Este homem vê o povo de Israel afundando no pecado, ele vê a injustiça (a iniquidade) e questiona a Deus, clama a Ele para que a justiça seja feita. 

Deus não censura o profeta, pelo contrário, Ele quer que nos revoltemos com as injustiças também, Ele quer que estejamos ávidos por vê-la ser cumprida: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." (Mt. 5:6).

O problema da injustiça no mundo tem uma origem simples e clara: o pecado. Depois que ele entrou no mundo, este passou necessariamente a ser permeado por injustiças. A natureza pecaminosa do homem faz com que a injustiça seja o curso normal das coisas caso não haja uma intervençao para aprumar o rumo. 

Discussões quanto à natureza má do homem não são necessárias agora e entram em outro assunto. Mas cabe apenas lembrar que não precisamos ensinar a criança a fazer o mal, isso ela já sabe; porém, temos que continuamente corrigi-la, para que entenda o que é o certo a se fazer.

Na atualidade, a "Justiça" é um ideal. Quando os juristas almejam por ela, sabem que ela é o alvo a ser alcançado, um ideal que nesta terra não será possível concretizar com toda plenitude (embora isto não seja motivo para que findem seu trabalho). 

A injustiça, por sua vez, é manifesta em todos os lugares e de diversas formas; para usar minha graduação pra alguma coisa, podemos exemplificar mostrando os problemas das desigualdades sociais entre países ricos e pobres, opressão econômico-militar-cultural que estes últimos sofrem e mesmo desigualdades dentro dos próprios países ricos. Esse vídeo demonstra isso bem. 

Logo, vemos que a injustiça é algo que está continuamente presente e permeando a nossa realidade como um todo. Mas a pergunta que fica é: Deus se importa? O justo Todo-Poderoso liga para o que acontece aqui? E Ele pode fazer ou faz alguma coisa? É de suma importância que leia-se o post até o final, pra não ficar tirando conclusões precipitadas.

Em primeiro lugar, devemos lembrar que Deus vê todas as injustiças, as que acontecem no mundo inteiro: "Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;" (Gn. 6:5); e até mesmo as que não vemos: "Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações." (Jr. 17:10).

Em segundo lugar, Deus não é um ser de coração duro que enxerga isso como muitos enxergam as tragédias do mundo, Ele não é indiferente: "Quando o SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam." (Jz. 2:18).

Lendo isso, alguém poderia pensar que Deus tinha uma falsa compaixão, que via tudo e "não faz nada". O problema é que o pecado quer desafiar a justiça de Deus, ele não quer aceitá-la! Pense no Éden. Satanás queria quer Eva questionasse a noção de justiça divina: "Como assim Deus não quer que vocês não comam do fruto proibido?! Isso é injusto!"

Satanás tentou fazer a mesma coisa com Jó, tentando argumentar que Jó só era fiel porque Deus estava "comprando" a devoção dele com bênçãos, como se não fosse justo honrar o servo que tem tudo. Porém, na história, vemos que os verdadeiros servos de Deus permanecem fiéis mesmo em meio às dificuldades (isso até remete ao último post).

A verdade, meus caros, é que Deus vê as injustiças e as julga. Mas... como? A resposta é bem simples: Ele faz isso por meio da Sua ira.


Quando se fala disso (e aqui pode até parecer que isso não tem nada a ver com o tema justiça/injustiça, mas tem sim), muita gente pensa logo em cenas como a imagem acima: cataclismos, destruição em massa, apocalipse, etc. Mas antes de pensar em tudo isso, devemos lembrar que a ira divina é a expressão do Seu justo juízo contra o pecado e o pecador. Ela é pura, sem mácula. É a Sua Justiça (a verdadeira, inatingível) reagindo contra a injustiça. 

Deus tem necessidade de manifestar a Sua ira. Entenda-se: Deus não pode deixar de punir o pecado, senão Ele iria contra sua própria natureza, não seria lógico: "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar;" (Hc. 1:13a). A própria natureza de Deus demonstra que o convívio com a impureza é algo impossível para Ele, tal a sua perfeição.

Veja bem, Deus nunca vai deixar de ser amoroso e paciente (também características d'Ele), mas Ele não é obrigado a oferecer isso a todos, porque, afinal de contas, quem é merecedor de Seu puro amor? Aquele que não tem pecado! Justamente porque Ele não pode ter comunhão com o pecado. Ele não é obrigado a se comportar segundo o nosso modelo do que é amor ou paciência, Ele é amor. Por outro lado, se Deus deixasse de demonstrar sua justiça (por meio da ira), Ele estaria sendo injusto consigo mesmo, visto que não pode ter convívio com a injustiça! E isso não é possível! (Releia o parágrafo se necessário).

Logo, para Deus, é impossível que Ele não revele Sua ira: "Abomináveis para o SENHOR são os perversos de coração, mas os que andam em integridade são o seu prazer." (Pv. 11:20). Ele abomina o pecado e tudo que é consequência dele.

Essa ira de Deus, a Bíblia ensina, é terrível: "Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Ap. 6:15-17). 

Além disso, a ira de Deus, sendo a expressão mais pura da Justiça, é imparcial. Ele é de fato, justa, assim como o justo Juiz que a exerce: "Agora, vem o fim sobre ti; enviarei sobre ti a minha ira, e te julgarei segundo os teus caminhos, e farei cair sobre ti todas as tuas abominações." (Ez. 7:3). Só Ele é capaz de exercer um julgamento desse tipo.

Outro aspecto da ira divina é a sua manifestação. Muitos acham que a ira é, como falei, uma expressão última do que é a Justiça divina, como no Apocalipse (texto que inclusive já lemos). Neste sentido, é importante lembrar que a ira de Deus é gloriosa também no sentido que redunda em glórias a Ele porque exalta a Sua própria justiça! Ela é terrível aos ímpios, mas aos justos e à Sua própria pessoa, ela é o fartar dos que têm "fome e sede de justiça" (lembrando do texto de Mateus).

Ainda sobre a manifestação, muitos podem estar se perguntando: "Ok, se Deus é justo e puro, não podendo conviver com a injustiça, porque Ele não executa Sua ira? Porque Ele permite que o mal se alastre na terra e a injustiça seja a norma? Afinal, porque Ele não faz nada?"Preciso de dois argumentos para responder esses questionamentos. 

O primeiro é afirmar, pela Bíblia, que Deus manifesta sim a sua ira a seu tempo. Isso se dá de forma parcial/contínua: "Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias." (Sl. 7:11), ou seja, Deus não está alheio ao mundo e opera nele continuamente, exercendo sua ira e justiça quando necessário no tempo presente, no agora, nesta terra em que vivemos.

E também se dará de forma final/última: "Está perto o grande Dia do SENHOR; está perto e muito se apressa. Atenção! O Dia do SENHOR é amargo, e nele clama até o homem poderoso. Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e negrume, dia de nuvens e densas trevas," (Sf. 1:14-15)


Lembram que falei que precisava de dois argumentos? Como o segundo já é à guisa de conclusão, vamos revisar o que já vimos até aqui: que a injustiça presente no mundo é consequência do pecado do próprio homem; que Deus não está alheio a ela; e que Ele se manifesta em reação a este mal por meio da Sua ira.

Quanto à pergunta de "por que Deus não executa logo e extirpa a injustiça da terra?" O primeiro argumento é que Deus manifesta sua justiça nessa terra sim, mas Ele o faz a Seu tempo e da forma que bem entende. 

O segundo argumento é absolutamente lógico. Pense numa lei, lei humana mesmo, pega algum artigo aí do Código Penal que tipifica o crime de homicídio por exemplo (o mais simples que tiver). Ok. Se alguém infringir essa lei, essa pessoal cometeu uma injustiça, a Justiça foi ferida e clama-se para que um correção seja dada. Isso ocorre porque é justo que seja punido aquele que comete um crime. É justo que aquele que fez o que é mau receba uma pena para pagar pelos seus erros. 

Então por favor entendam: Deus não executa Sua Justiça de forma sumária nessa terra simplesmente por amor a nós. Ora, se a consequência do pecado é a morte no sentido de separação total de Deus, então Deus pode muito bem olhar pra terra e dizer: "Vou acabar com toda a injustiça do mundo", então com um simples movimento da mão Ele extingue toda a raça humana da terra, "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3:23).Logo, se todos pecaram, todos incorrem no crime cuja punição é a total separação de Deus, ou seja, a carência total da Sua glória.

Mas surge aqui outra dúvida: então como é que Deus consegue se relacionar conosco se Sua própria natureza não permite a comunhão com o pecado? Excelente pergunta, eu diria. A resposta: porque a injustiça que era nossa, foi imputada em outra pessoa. Não adianta de nada eu tirar o crime de um homicida e jogá-lo sobre outro homicida, não há justiça nisso. 

Para nos justificar, Deus, movido unicamente pelo Seu amor, tomou todas as nossas transgressões para Si, por meio de Seu filho Jesus, alguém puro, sem mácula, sem pecado, que morreu numa cruz pelos meus e os seus pecados, os quais foram n'Ele imputados, para que nós pudéssemos desfrutar da glória de Deus, para que nós pudéssemos, enfim, ter comunhão com Ele. 

A Justiça final não é um ideal que os ímpios verdadeiramente procuram, porque a expressão máxima da Justiça significa sua morte, sua aniquilação, sua total separação de Deus, visto que isso... é nada mais nada menos... que justo.


Haverá um dia que Deus corrigirá toda injustiça. O profeta Habacuque, que questiona Deus quanto às injustiças no mundo reconhece isso também: "Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé." (Hc. 2:4)

Ele tem vive por uma fé que sabe que Deus vai suprir suas necessidades: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." (Mt 6:33); fé que a Igreja de Jesus vencerá no fim dos tempos, quando de Seu retorno: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mt. 16:18).

Muitas vezes queremos fazer justiça com nossas próprias mãos. Carregados pelos nossos sentimentos traiçoeiros, muitas vezes esquecemos que a vingança pertence ao Senhor: "não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor." (Rm. 12:19). Ela pertence a Ele porque só Ele é capaz de executá-la de forma absolutamente justa. 

E Ele vai executá-la. Deus odeia a injustiça e vai retribuí-la a Seu tempo: "Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte," (I Pe. 5:6). Isso nos relembra a importância de vivermos aqui na terra uma vida pautada pela fé. Não uma fé cega, mas uma fé que sabe no que acredita, que é capaz de defender suas ideias e ideais. Movida por uma paciência e esperança que permitem suportar o tempo presente. 

O justo viverá pela fé inabalável que tem a garantia da verdadeira Justiça, aquela que vem do Senhor. 

Habacuque, o profeta indignado com a injustiça, crê nisso. Reconhece que pode e deve aguardar a verdadeira Justiça com fé, que mesmo em tempos de injustiça ele sabe que deve viver uma vida que testemunhe do Deus de toda justiça; que pela fé, mesmo em meio aos males desse mundo ele pode dizer: "todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação." (Hc. 3:18)

É hora de se regozijar no Deus da salvação. É hora de deixar Ele abrir seus olhos para que possa enxergar a verdadeira Justiça. Arrependa-se da sua injustiça, do mal que habita em você, clame ao Senhor por Sua graça e misericórdia, para que, pela fé, tenha esperança tanto no futuro, quanto no presente.

Seja Ele o vosso Deus, 
Seja o justo Juiz vosso guia e vossa luz.

S.D.G.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Apologética - Deus, fatalidade e tragédias

Deus, fatalidade e tragédias, ou ainda: se Deus existe (ou é bom), porque há tantas tragédias no mundo? Qual a razão disso? E a pergunta que todos se fazem: onde estava Deus nessas horas?

Pois é, moçada. No post de hoje vamos abordar essas perguntas que nos deixam meio sem resposta às vezes porque, não raro, nos falta um bom conhecimento da palavra. Este e os próximos dois assuntos que irei postar retratam esse tipo de pergunta que muitas vezes ouvimos e não sabemos ao certo responder. Vamos lá, então.

"Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações. Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,  sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes." (Tg. 1:1-4)
As tragédias e fatalidades são parte da nossa vida. Acontecimentos desagradáveis, funestos, inevitáveis que mudam a nossa vida da noite pro dia. Num dia vemos alguém que amamos tão bem, sorridente, e em poucas horas vemos a vida dessa pessoa ser levada. Encontramos com um amigo e ficamos sabendo alguns dias depois que ele sofreu um acidente gravíssimo.

Todas estas são situações que nos geram sofrimento. Diante delas, muitos se perguntam: "Onde estava Deus?" ou "Porque Deus deixou isso acontecer?"; em última instância estes questionamentos parecem perguntar: se Deus é tão bom, porque existe tanto sofrimento no mundo?

Gostaria de iniciar pensando em pressupostos que estão por trás dessas perguntas. Um deles indica em ver o sofrimento como um "inimigo". Isso parece óbvio, não é? Sofrimento = ruim. Mas será que é sempre assim que devemos interpretá-lo? Devemos lembrar que estamos num contexto de relativismo pós-positivista que diz que o "bem da pessoa" é a razão última de tudo, ou seja, você pode fazer o que bem entender ou crer no que quiser se isto te deixar bem. Mas nem todos pensam assim, mesmo no mundo não cristão.Vou dar um exemplo.

Vocês sabem a principal diferença entre os super-heróis ocidentais e os super-heróis orientais? Via de regra, o que acontece: o herói ocidental é um cara normal ou subjugado, então de repente (mágica, experimento, etc.) ele ganha poderes da noite pro dia e com isso derrota os vilões. Nos desenhos orientais, o herói é um cara normal também, subjugado, que vive situações humilhantes; aí, ele resolve que não quer mais que isso se repita, então ele treina, passa por muito sofrimento e depois volta e ganha de todo mundo, porque se esforçou pra isso.

Isso serve pra demonstrar que nem todos enxergam o sofrimento da mesma forma. Devemos fugir da lógica contemporânea que prega que "não devemos mais sofrer", que enxerga o sofrimento como um mal a ser expurgado totalmente da terra. É isso que Tiago insta aos cristãos quando escreve no verso 2: "tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações".

A gente olha o texto e parece ser fácil alguém falar: "não tem problema sofrer", quando está tudo bem. Mas este não era o contexto de Tiago. Olha o verso 1: "às doze tribos que se encontram na Dispersão". Este era um contexto de sofrimento para os cristãos, visto que a perseguição à Igreja Primitiva fez com que não pudessem mais reunir-se em comunidades como faziam até então. Ele também estava em sofrimento.

Muitos movimentos (ditos) evangélicos contemporâneos rechaçam também o sofrimento como se fosse fruto de ação demoníaca ou de pecado. Mas 1) já vimos que não é bem assim (nos outros posts) e 2) a Bíblia não prega uma vida sem sofrimento aqui nesta terra, vejam:
"Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." (Jo. 16:33)
"fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus." (At. 14:22)
"a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto; pois, quando ainda estávamos convosco, predissemos que íamos ser afligidos, o que, de fato, aconteceu e é do vosso conhecimento." (I Ts. 3:3-4)
O sofrimento, como a própria Bíblia demonstra, é parte da vida humana e da peregrinação cristã nem se fala então. Logo, o primeiro passo é parar de interpretar a realidade da mesma forma que os incrédulos fazem e começar a pensar do mesmo modo que Jesus.


Mas, e a Bíblia? Ela fala alguma coisa sobre desastres? Sim. Jesus ensinou sobre isso em Lc. 13:1-9:
"Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam.

Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.

Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la."
Vamos destrinchar um pouco o texto. Logo no começo alguns chegaram a Jesus falando de uma tragédia gerada por homens (vs. 1-3), quando Pilatos cometera uma atrocidade contra os galileus, assassinando-os sem motivo. Olha só como Jesus responde: "Vocês estão achando que aqueles que foram mortos eram mais pecadores por causa disso?"; Jesus, ao invés de ficar tentando achar culpados foca em arrependimento, ele destaca a necessidade do homem de cuidar de si mesmo.

Continuando o texto, Jesus traz à tona uma fatalidade: a queda da torre de Siloé sobre alguns habitantes de Jerusalém. Mais uma vez, Jesus foca em arrependimento, não em ficar querendo encontrar culpados ou justificativas.

Porque Jesus faz isso? Em primeiro lugar porque nós não podemos ser juízes no lugar de Deus. A  prerrogativa básica do julgamento do juiz é o total conhecimento dos fatos e a capacidade de emitir sentença imparcial, algo que nenhum de nós (visto que não temos todo o conhecimento das coisas e tampouco somos capazes de não nos deixar levar por nossos sentimentos ou pressupostos) conseguiria fazer.

Depois, Jesus segue contando uma parábola que parece não ter nada a ver com o que eles estava discutindo. Mas tem sim! Veja que no caso das duas tragédias citadas, Jesus está sempre ressaltando o tempo que nós temos aqui, a urgência do arrependimento (aos incrédulos que o ouviam).

A parábola da vinha está aí para nos alertar sobre o tempo que nós temos aqui, em especial o tempo "emprestado" por Deus (pensando na parábola como o ano extra concedido) para que possamos frutificar, para que possamos fazer alguma coisa útil!

Jesus lembra dessas tragédias para nos lembrar da nossa fragilidade. Ele quer que nós lembremos que antes de querer procurar culpados ou justificativas, nossa verdadeira preocupação deve ser com o que nós podemos ou devemos fazer.

É claro que não devemos ficar insensíveis a elas: "O que escarnece do pobre insulta ao que o criou; o que se alegra da calamidade não ficará impune." (Pv. 17:5). Mas Jesus está nos alertando que todas essas tragédias têm um propósito. E aí chegamos num ponto crítico, a pergunta fatal: para quê sofrer?
"sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes." (Tg. 1:3-4)
O texto é muito claro. A provação tem um objetivo, um propósito. O caminho é simples: perseverança leva a um crescimento, moldado pela fé. Ela visa nos melhorar, como a pressão, a força aplicada sobre um vaso quebrado para que ele seja aperfeiçoado.

Na Sua soberania, Deus permite que situações aconteçam para o nosso crescimento. Por isso, o sofrimento deve servir também para produzir frutos para a glória de Deus. Quantas vezes já não ouvimos relatos de pessoas que passaram e superaram dificuldades tremendas e isso não nos serve de incentivo, encorajamento?

Logo, a conclusão que chegamos é que as catástrofes servem para manifestar a glória de Deus. Demonstram que em pleno século XXI o homem não domina a natureza, aponta para sua fragilidade. Nós cristãos não precisamos ficar defendendo a "causa" de Deus, não temos como pensar como ele! O nosso foco deve estar buscar e levar o arrependimento a quem não o tem.

Aliás, cabe lembrar que mesmo em tempos de tragédias, os "micro-gerenciamentos" de Deus, os seus livramentos, não estão esquecidos. São como dois lados da mesma moeda: as tragédias nos fazem pensar no juízo de Deus (e a nossa fragilidade) e ao mesmo tempo nos atos de misericórdia e livramento que Ele nos dá.Por incrível que pareça, tragédias levam verdadeiros crentes a orar e agradecer a Deus. Levam a exercer misericórdia com os que estão sofrendo, seja por meio de bênçãos materiais ou espirituais.

Vocês lembram do tsunami de 2004? Aquela tragédia devastadora na região do Índico? Vou citar alguns trechos da carta de Arul, Coordenador do Hospital Christian Fellowship no Sul da Ásia, enviada a todas as organizações e pessoas que ajudavam as vítimas do tsunami (veja na íntegra aqui), olha como ele inicia:
"Deus é Bom! Deus é Gracioso! Deus é Generoso! Deus é Ótimo!
Obrigado
Muito obrigado por todas as expressões de amor e preocupação e cuidado para conosco e com todas as nações que foram atingidas pelas ondas do maremoto. O que uma devastação tem causado!
"
"Alguns de vocês perguntaram sobre nossas colegas. Sim, alguns de nossos caros amigos perderam alguns de seus queridos. Uma doutora perdeu sete de sua família, incluindo os pais. Outro perdeu cinco membros de sua família. Muitos crentes também morreram. Um pastor, enquanto ajudava as pessoas mais velhas de sua igreja, perdeu a esposa e dois filhos. Deus está os confortando. Muitas crianças também morreram. Há muitos outros bastante afetados."
"Estamos envolvidos com o auxílio médico e trabalhando na coordenação com a Aliança Evangélica Nacional do Sri Lanka (afiliada a WEF). Foi muito tocante ministrar a centenas de refugiados e também ministrar ao Corpo de Cristo nessas áreas. Pudemos ver como a palavra de Deus causou tanto impacto e os animou. É muito difícil saber como coordenar, apesar disso Deus está ajudando."
"Em nossa viagem para o Oriente, eu fui secretamente e surpreendentemente tocado por como Deus provê. De pessoas a veículos, a acomodações, a remédios, a refeições, a aberturas, a finanças. Foi simplesmente muito, muito precioso.
"'Aquele que não poupou a seu próprio filho, antes por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?".Romanos 8:32
Ore por sabedoria para saber como coordenar as coisas aqui com respeito ao trabalho médico.
Obrigado de novo por toda essa expressão de amor, preocupação e ajuda.
Com muito amor,
Arul & Ranji; Família da HCF
"
Meu Deus! É absolutamente inacreditável aos olhos humanos que um homem que vê a tragédia fazer desmoronar sua realidade da noite pro dia estar tão grato perante Deus! Aos ímpios que buscariam atacar este mesmo Deus, o cristão busca trazer a verdadeira paz! Esta é o verdadeiro propósito de toda e qualquer tragédia. Arul entendeu isso muito bem e soube utilizar este momento para glorificar ao Senhor Deus. Tanto, que até hoje seu testemunho fala alto.


No fundo, porém, parece que nós chegamos a uma triste conclusão: estamos destinados a uma vida de sofrimento. Esta é a norma aqui na terra. Parece um triste destino, uma conclusão desesperançosa. Mas a Bíblia nos ensinou algumas coisas: este sofrimento vem para o nosso bem, para o nosso crescimento; estas provações, tragédias, fatalidades pelas quais passamos, nos ajudam a glorificar o no nome de Cristo.

Assim foi a vida de Jesus. Ele sofreu, ele passou pelas provações as mais terríveis. Suportou a humilhação da encarnação, a humilhação da cruz, tudo pelo grande amor com o qual nos amou. A Bíblia não é apenas um livro fatalista, que aponta para a fragilidade da condição humana; a Palavra de Deus é a fonte da nossa esperança:
"Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós." (Rm. 8:17-18)
Nossa verdadeira esperança não se resume a esta terra, aos sofrimentos do tempo presente. Nós temos uma esperança e uma promessa que faz com que o que passamos agora seja ínfimo, se comparado ao que o Senhor tem guardado para nós.

Use a apologética, a defesa da nossa fé, a razão da nossa esperança para proclamar esta verdade àqueles que um dia te questionarem. Aproveite as oportunidades, use seu tempo "emprestado" para frutificar para o reino de Deus. Este é o objetivo último de todos estes posts. Espero que seja o seu também.

Seja Deus vosso guia e vossa luz.
A Ele, para sempre, toda a glória.

S. D. G.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Apologética - Demônios II

Então, pessoal. Continuando a temática do post anterior, estamos tentando mostrar biblicamente o que há para saber sobre os demônios. Como comentei antes, a princípio achei ser um pouco de perda de tempo estudar sobre isso, mas depois fiquei pensando que é importante que nós tenhamos um bom contato com a verdade, para não sermos levados por ventos de falsas doutrinas.

Hoje pretendo abordar três temáticas: os demônios e sua atuação com os humanos; possessão; e repreensão demoníaca. O primeiro deles reintroduz o tema trazendo um gancho com o post anterior, falando um pouco sobre as ações dos demônios, enquanto os dois últimos puxam um novo conteúdo que confunde ainda muita gente.



Bom, algo claro a se lembrar é que os demônios ainda estão ativos nesta terra. O Senhor Deus, em sua soberania, julgou oportuno permitir sua ação, mesmo que contida pelos limites determinados por Ele. O problema é que ainda muitas pessoas estão cegas demais para perceber suas influências; além disso, os demônios estão constantemente mudando sua forma de agir, para tentar mais eficazmente atingir seus objetivos. 

E quais são estes objetivos, afinal de contas? Bom, respondemos isto no post anterior: o que Satanás e os demônios mais querem é cegar o entendimento do homem e levá-lo a pecar:
"Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensino de demônios," (I Tm. 4:1)
"mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feito cativos por ele para cumprirem a sua vontade." (II Tm. 2:26)
Os que não são nascidos de Deus estão naturalmente inclinados para a influência do Maligno, até porque (algo que veremos), o mal não está fora de nós, mas é intrínseco a nós. De qualquer forma, o apóstolo João ensina como os do mundo estão predispostos ao mal: "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão." (I Jo. 3:10).

Mas é importante entender (e aqui chegamos num tópico que eu disse que iríamos entender melhor) que nem todos os pecados têm origem demoníaca. Ao contrário do que vários movimentos pecam, a culpa do pecado não é de Satanás... é nossa mesmo!
"Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz." (Tg. 1:14)
"Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias." (Mt. 15:19)
Isso parece tão óbvio, mas tem tanta gente que ainda não conseguiu compreender isso! Quando Caim pecou, o que foi que Deus disse? Ele foi caçar o demônio que havia "influenciado" Caim? Que nada, meus caros, olha o que Ele disse: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas cumpre a ti dominá-lo." (Gn. 4:7). O pecado jaz dentro de nós, espreitando nossa própria natureza para que nós pequemos e fiquemos assim cada vez mais distantes de Deus.

Por isso, e aqui já começando a linkar com os próximos tópicos, entendam que nossa função não é ficar repreendendo demônios ou caçando-os, não é ficar nas fronteiras do ocultismo tentando "compreender melhor" o inimigo. Nosso dever é aquele que sempre foi: não pecar! Tão simples! Tão óbvio! Nosso dever é viver retamente, uma vida digna que agrade ao Senhor!

Este é o foco de Paulo ao instruir a Igreja Primitiva; ele não manda repreender espíritos malignos. Veja como orienta: 
"Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne." (Gl. 5:16); 
"à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" (I Co. 1:2)
É importante enfatizar isso porque hoje muito se prega que a influência demoníaca é a porta para os pecados que nos afligem, nos escravizam, etc. Mas vemos que algumas vezes é justamente o contrário: os nossos próprios pecados podem ser porta para influência demoníaca. Veja, mais uma vez, como Paulo orienta aos efésios:
"Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo." (Ef. 4:26-27)
"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;" (Ef. 6:10-11)
Tiago mata de vez a charada quando diz: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tg. 4:7). A galera adora usar esse versículo, especialmente os telepastores. Olha lá, "resisti ao diabo", "você deve lutar", "você tem o poder", etc. Cara... o mais importante é o começo do versículo: Sujeitai-vos, portanto, a Deus. Essa é a verdadeira chave para impedir qualquer influência satânica ou demoníaca em nossas vidas.


Certo. Então vamos agora para um tópico interessante: possessão. A parte mais complicada dessa questão é o termo "possessão" em si e sua interpretação hollywoodiana; em muitos casos, a melhor tradução é aquela aplicada em Mt. 11:18, onde se lê: "Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio!"

Por que isso? Porque hoje em dia o termo "possessão" dá ideia de um ataque demoníaco extremo, como se a pessoa não conseguisse resistir e tivesse que sucumbir. São os casos mais famosos que vemos nos cinemas, nos "causos" e contos que correm até no meio evangélico.

Embora não se negue que isso seja sim uma possibilidade, até porque a própria Bíblia relata isso, o que quero tentar esclarecer aqui é que o ataque demoníaco e mesmo a "possessão" não se dá somente dessa forma alarmante, com gente caindo estrebuchando no chão e falando em vozes. O Pr. Augusto Nicodemus explicou isso bem claramente na sua página no Facebook. Ele citou Lc. 22:3-4, que diz:
"Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze. Este foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães sobre como lhes entregaria a Jesus;
E depois explicou: "Quando Satanás entrou em Judas, ele não caiu no chão revirando os olhos, falando em voz diferente e com força descomunal. Ele simplesmente saiu e foi ganhar dinheiro vendendo Jesus." Simples assim.

Daí surge aquela dúvida de sempre: um cristão pode ser "possuído"? Bom, vejamos o texto bíblico, que afirma que o pecado não terá domínio sobre nós, aqueles que fomos regenerados: "Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça." (Rm. 6:14). Logo, de cara já temos a resposta: um verdadeiro cristão, aquele que está debaixo da graça, ou seja, que é renovado pelo Santo Espírito do Senhor, não pode ser "possuído", no sentido extremo.

Não obstante, isto não quer dizer que ele não possa sofrer algum ataque demoníaco em graus diferentes. Vejamos os casos: "Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?" (Lc. 13:16). Neste caso específico, vê-se ação demoníaca de caráter físico sobre a quem Jesus chamou "filha de Abraão".

Ataques físicos são os favoritos da mídia, mas vejam que eles não são os piores: "Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens." (Mt. 16:23). Neste momento, Pedro julgava estar zelando pelo bem de Jesus, mas, na verdade, estava sofrendo forte influência demoníaca, ao ponto de Jesus precisar repreender; a influência espiritual do inimigo é a mais perigosa.

Com todo o cuidado que o idioma lusitano me permite, estou tentando demonstrar o que a Bíblia fala a respeito de demônios, possessão e influência. Não nego que muitas coisas escabrosas acontecem até hoje -- ora, até Martinho Lutero relatava fortes ataques demoníacos na época em que traduzia a Bíblia -- o que estou tentando dizer, de diversas formas é que, mais do que aparições ou ataques físicos, o que os demônios mais querem é nos cegar espiritualmente.

Entendam que muito embora é fato de que acontecem causos e causos de ataques e possessões, não são estes o objetivo do inimigo, eles o fazem isso sempre com o mesmo propósito: impedir que a glória de Deus venha a reinar. Este é o verdadeiro perigo por trás das suas ações.

É por isso que para um descrente, o "ter demônio", para usar a expressão bíblica, é algo quase ordinário. Estando eles mergulhados no pecado, é o perfeito habitat para os demônios. A possessão em si, é algo muito extremo. É muito mais útil para os demônios influenciar as pessoas, algo que pode ocorrer através do medo (uma de suas principais estratégias), que faz com que pessoas tenham certa reverência e temor por eles.

Porém muitíssimo mais útil é que Satanás pode se transformar em anjo de luz! A sedução é a melhor arma! Maquiavel ensinava ao príncipe que era melhor ser temido do que ser amado, mas, se pudesse, a junção dos dois seria o melhor! Para os demônios, é muito mais fácil atingir seu objetivo com enganos e mentiras do que destilando o medo. O amor pelo pecado é um caminho muito mais atrativo ao homem do que as ações tomadas pelo temor.


Bom, caminhamos agora para o tópico da "repreensão". Pra começo de conversa, acontece aqui o mesmo problema da terminologia que ocorre com "possessão". A "repreensão" é um termo que aponta para autoridade e só quem pode fazer isso é Jesus (por favor leiam o texto do pessoal do Bereianos aqui sobre esse assunto).

Mas isto não quer dizer que nós cristãos não possamos ordenar ou expelir demônios sobre circunstâncias bem específicas. É bem sabido que foi o próprio Jesus que deu essa autoridade aos discípulos que foi estendida a outros (como vemos em Filipe e Paulo, consciente de sua autoridade espiritual):
"Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas." (Lc. 9:1)
"As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados." (At. 8:6-7)
"Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas" (II Co. 10:3-4)
Deve ficar claro que a obra de Jesus na cruz é a autoridade definitiva sobre os céus e a terra, razão pela qual o pessoal do Bereianos recomendaram que se ore "Jesus, repreenda esse demônio", reconhecendo a verdadeira fonte do poder. Mas isso também nos faz lembrar que Satanás não tem autoridade sobre nós:
"Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida." (Hb. 2:14-15)
"e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz." (Cl. 2:15)
O texto bíblico vem pra mostrar de vez a autoridade do Senhor Jesus ao, na cruz do Calvário, destruir todo poder que o inimigo pudesse ter sobre nossas vidas. Quando nós nos humilhamos e reconhecemos a vitória de Cristo, aí que podemos dizer que temos poder; a cruz do Senhor foi seu instrumento de tortura, dor e humilhação enquanto para nós é sinônimo de liberdade, vida e glória.

Gl. 2:36 nos lembra: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus;". Quando Satanás mexe com algum dos cristãos, está mexendo com a própria família de Deus! O texto de Hebreus que acabamos de ler demonstra que somos de fato da família do Todo-Poderoso. E é justamente por isso que não temos porque nos acovardar! Causar medo é uma das estratégias de Satanás, mas nós temos que lembrar que estamos debaixo de uma Autoridade maior:
"Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo." (I Jo. 4:4)
É interessante lembrar disso para que não sejamos tomados pelo temor quando (ou se) nos depararmos com alguma situação dessas. Vale lembrar que o próprio apóstolo Paulo não ensinou os cristãos a bater em retirada contra forças espirituais hostis, olha os textos:
"Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas" (II Co. 10:4)
"Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca." (I Jo. 5:18)
"Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tg. 4:7 -- Já conversamos sobre este último texto no post anterior, mas fica aí novamente o destaque para a parte principal do versículo.)
Agora, vamos pensar em termos práticos, o que fazer num momento em que nós, cristãos eleitos e cheios do Espírito Santo, temos que interceder ao Senhor ao resistir a um espírito maligno? Tensa essa pergunta né? O que os filmes nos ensinam? Pegar uma cruz e recitar um texto em latim ou aramaico parecem ser os primeiros passos né?

O pessoal do Bereianos, como falei, didaticamente ensinam a pedir algo como: "Senhor Jesus, por amor de Teu nome, repreende este espírito maligno." Com algo assim, você está reconhecendo de onde vem a autoridade e clamando ao Advogado junto ao Pai que atue por você. Esta, creio eu, é a melhor abordagem para situações de grande tensão. Nunca confie em sua própria força (vamos desenrolar isso logo mais).

Mas isto não significa que nós não tenhamos nossas armas também. Todos devem estar familiarizados com a Espada da Palavra! Quando Jesus foi tentado, como ele repreendia Satanás? "Está escrito...". Acho problemático que muita gente quando pensa em "repreensões" só lembra de gente se estrebuchando no chão e esquece que os piores ataques acontecem todos os dias!

O Sl. 119:11 nos ensina a guardar a Palavra para não percarmos contra Deus. As verdadeiras "repreensões" (utilizando com cuidado o termo para não tentar roubar a autoridade que pertence somente a Jesus) devem ocorrer no dia-a-dia, para afugentar as influências malignas que acometem nossas mentes, nos incentivando a pecar, a denegrir a glória do Senhor!

A mídia quer nos mostrar só a "glória" humana numa espécie de "poder espiritual superior" que nos capacita a expelir demônios, a gritar coisas em outros idiomas, a fazer um verdadeiro show que, ao invés de glorificar a Deus, busca apenas enobrecer o ego humano. E isso não é de hoje não, meus caros. Os discípulos de Jesus caíram nesse erro, vejam:
"Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! [...] Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus." (Lc. 10:17,20)
Aqueles discípulos deveriam estar contentes por estarem contribuindo para o reino de Deus, deveriam estar alegres pela sua salvação, pela graça derramada sobre suas vidas e não dando lugar à vaidade. A repreensão de Jesus é válida até hoje àqueles ditos cristãos que buscam fazer do nome de Deus um objeto de "poder", seja para autopromoção, seja para o lucro. Aliás, lembram da frase do Pr. Nicodemus sobre a possessão de Judas? Pois é, talvez hoje haja muito mais endemoninhados do que naquela época, todos servindo ao deus do consumo e do dinheiro.


Gente, é isso aí. O que vimos, então? Bom, aprendemos que os demônios estão ativos e agindo aqui na terra. Mas nós não devemos superestimá-los, devemos lembrar que estão debaixo do poder de Deus; por outro lado também não se deve subestimá-los, porque eles têm poder para fazer o mal.

Por outro lado, podemos e devemos nos proteger contra a influência deles. Aprendemos aqui o que é a "possessão" e como podemos nos proteger da influência deles, lembrando de quem é a verdadeira autoridade: a nossa vitória começa e termina na cruz de Cristo.

Devemos nos humilhar nisto e lembrar a quem deve ser dada a glória. A própria armadura da fé não valeria de nada se tivesse sido dada pelo Comandante; nesta passagem, ao final o texto bíblico diz que a armadura deve ser acompanhada: "com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos." (Ef. 6:18). É o contato com nosso pai celestial que nos dá a verdadeira força para suportar os dados inflamados do Maligno. É disto que depende a vitória nesta batalha.

Se há algum pecado que tem sido porta para influência, abandone-o. Viva uma vida cuja maior influência é o Espírito Santo na sua mente, busque ao Senhor e encha seu coração da Sua Palavra para que possa resistir a qualquer cilada do inimigo.
"Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tg. 4:7).
A Ele toda a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Seja Ele vosso guia e vossa luz.

S.D.G.