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terça-feira, 10 de junho de 2014

O cristão e a música: o que posso tocar ou escutar?

Galera, perdão por não ter postado há tanto tempo. Mas hoje surgiu uma oportunidade muito boa de falar algo interessante.

Um amigo me perguntou pelo WhatsApp: "O que define se uma música pode ou não ser tocada por um cristão?" Essa pergunta me suscitou diversas passagens bíblicas e ideias para compartilhar. 

Aqui estão elas.

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Seguinte.
Nenhuma música é por natureza boa ou má, tudo depende do contexto dela.

Se eu fosse evangelizar uma tribo na Austrália, e ensinasse eles a cantar os louvores tocando pandeiro e berimbau, eles iriam louvar a Deus da mesma forma. Eu não estaria “enganando” eles, porque o louvor deles seria de coração e eles estariam de fato louvando e adorando ao Senhor Deus.

Para estes índios, a música sagrada seria com um instrumento usado na capoeira (antiga dança religiosa dos negros) e um instrumento do samba (ritmo popularizado pelo carnaval).

Isso demonstra que Deus está além da música, além das palavras que falamos. Lembra do que Samuel falou para Saul? Eu relembro: “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quando em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” (I Sm. 15:22).

Deus não está interessado na forma como nós o louvamos, mas que façamos isso de coração: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo. 4:24) e também: “O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração.” (I Sm. 16:7c)

A etnomusicologia ensina que a música é a percepção de sons organizados que uma cultura tem, atribuindo a esses sons valores e/ou significados. Por isso, tudo depende do contexto.


Ok, agora vamos ver o outro lado da questão. Chamo atenção para este trecho das Escrituras: “Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos. Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. [...] E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandaliza-lo.” (I Co. 8:8-9, 13)

Só pra lembrar o contexto: alguns crentes estavam comendo alimentos sacrificados a ídolos e outros irmãos não estavam se sentido confortáveis com a situação, porque eles antes adoravam aqueles ídolos por meio da comida sacrificada, orgias e bebedices, e aquele alimento trazia à tona essas memórias.

O que Paulo está dizendo é que a comida, por si só, não é nem boa nem má (se comer ou não comer, não se ganha nem se perde nada), porém ele está dizendo que é importante que a nossa liberdade (de não se importar com a origem da comida) não venha a atrapalhar aqueles que ainda são fracos, que ainda estão se livrando de costumes antigos.

É importante dizer que “escandalizar” quer dizer isso: é uma situação que traga à tona coisas de um passado pecaminoso, que o levem a relembrar e querer isso; não é só porque você acha algo “estranho” que você está escandalizado. As pessoas têm confundido muito esta palavra com “preconceito”!

Mas, voltando ao assunto, trago ainda mais um trecho da Palavra: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas.” (II Co. 5:17). Neste trecho, Paulo reforça a ideia de que nós morremos para o mundo e vivemos para Cristo, coisas do passado não podem mais existir, agora nosso presente e nosso futuro é para servir e adorar ao Senhor Deus! Ou seja, coisas do passado não devem nos impedir de seguir o caminho da salvação.

Tenho duas histórias para exemplificar essa parte.

A primeira é do Pr. Jessé, da Igreja Presbiteriana Filadélfia, em Boa Vista/RR. Ele falou que ele tinha uma coleção inteira do Bon Jovi, que ele começou a comprar na adolescência dele e guardou até depois de casado e pastor. Porém, olha o que acontecia: toda vez que ele ouvia aquelas músicas, que ele pegava aqueles CDs, ele lembrava da época que ele ia para festas, que ia paquerar ouvindo essas músicas, que fazia coisas das quais Deus não se agradaria. Um dia, ele percebeu o que essa coleção tão preciosa para ele estava fazendo: estava acordando o velho homem, estava trazendo lembranças de um passado e de sensações que não devem mais existir, porque aquele homem já morreu (aliás, já estava morto!), agora surgiu uma nova criatura, que vive por meio de e para Cristo! Resultado: ele jogou fora todos os CDs. Isso mesmo, ele não doou nem nada. Jogou fora. Porque não queria correr o risco de trazer de volta sensações e memórias que em nada iriam acrescentar à sua vida agora.

A segunda aconteceu comigo um dia desses. Eu estava aqui no Ibama-sede, e passei por um corredor e senti um cheiro familiar. Fiquei impressionado com aquele cheiro, porque ele me lembrava alguma coisa que eu não sabia identificar. Tive que pensar bem para entender, aí que fui lembrar: era o cheiro da lanchonete da escola que eu estudei nos EUA! Olha só! Foi impressionante ver como um mero cheiro trouxe memórias tão antigas e até já esquecidas.

Por que, então, eu citei tudo isso só para responder tua pergunta? Porque agora você pode entender a resposta. Sua pergunta foi: “O que define se uma música pode ou não ser tocada por um cristão?”. A resposta é: se a música leva o cristão ou outros irmãos a pecar, então ela não pode ser tocada, nem escutada. Não existe um ritmo “proibido” ou que seja “pecaminoso” por natureza. O lance, é o contexto dele!

Naquele exemplo que dei dos índios australianos, eles poderiam tocar samba e adorar a Deus sem problemas. Mas se você fizer isso no Brasil, pode ser que alguns irmãos venham a lembrar da época de carnaval e das coisas que aconteciam por lá, trazendo memórias do velho homem... Mas nada impede que se toque isso numa igreja, desde que nenhum irmão venha a se escandalizar com isso! Deus ainda pode ser adorado por meio deste ritmo! Mas isso já requer certa maturidade dos irmãos para ver e entender isso. A mesma ideia vale para o rock, basta você fazer a mesma associação.

O funk, por exemplo, no contexto brasileiro, é muito difícil desassociar da ideia de palavrões, drogas, mulheres seminuas, sexo indiscriminado, etc. Até para pessoas como eu, que nunca frequentaram baladas, elas trazem essas coisas à memória, e podem ser um incentivo para pecar. Por isso eu afirmo categoricamente: na atualidade, não tem como existir funk evangélico no Brasil, porque eu não creio que alguém vá conseguir adorar ao Senhor de todo o seu coração, sem que a mente seja poluída por outras memórias ou valores.

Claro que esse assunto tem diversos outros desdobramentos: o cristão que é músico de profissão, pode tocar num bar? Numa missa? A resposta mais simples é: sim, desde que isso não o leve a pecar e nem a outros. É claro que nesse caso, por outro lado, se enfrenta um preconceito forte ainda na sociedade brasileira. Imagina o que a Tia Fulana ia achar se me visse tocando piano num jazz bar? Não que ela seja preconceituosa, não é isso, é só que isso já é parte da cultura da sociedade brasileira; enquanto nos EUA, por exemplo, essa separação é feita com facilidade, porque eles entendem de modo prático: é só mais um emprego.

O limiar do certo e o errado, é o Espírito Santo incomodando o nosso coração ou não. Se você estiver tocando ou escutando qualquer tipo de música e algo de incomodar, não hesite em ouvir a voz do Espírito, Ele sabe o que é melhor para você.

O mesmo vale para ter sensibilidade, de não forçar coisas para outros cristão que não estejam maduros. Não adianta você entender tudo isso que falei e ir querer tocar rock pauleira na igreja, quando outros cristãos vão ficar escandalizados. Temos que ter sensibilidade com a fraqueza do irmão: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos.” (I Co. 8:9)

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Meus caros, foi isso que escrevi. Espero que lhes seja útil, que o Espírito possa usar as palavras desse pobre pecador para ensinar algo.

Seja Deus vosso guia e vossa luz.

S. D. G.

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