Galera, perdão por não ter postado há tanto tempo. Mas hoje surgiu uma oportunidade muito boa de falar algo interessante.
Um amigo me perguntou pelo WhatsApp: "O que define se uma música pode ou não ser tocada por um cristão?" Essa pergunta me suscitou diversas passagens bíblicas e ideias para compartilhar.
Aqui estão elas.
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Seguinte.
Nenhuma música é por natureza boa ou má, tudo depende do
contexto dela.
Se eu fosse evangelizar uma tribo na Austrália, e ensinasse
eles a cantar os louvores tocando pandeiro e berimbau, eles iriam louvar a Deus
da mesma forma. Eu não estaria “enganando” eles, porque o louvor deles seria de
coração e eles estariam de fato louvando e adorando ao Senhor Deus.
Para estes índios, a música sagrada seria com um instrumento
usado na capoeira (antiga dança religiosa dos negros) e um instrumento do samba
(ritmo popularizado pelo carnaval).
Isso demonstra que Deus está além da música, além das
palavras que falamos. Lembra do que Samuel falou para Saul? Eu relembro: “Porém
Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e
sacrifícios quando em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” (I Sm.
15:22).
Deus não está interessado na forma como nós o louvamos, mas
que façamos isso de coração: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores
o adorem em espírito e em verdade.” (Jo. 4:24) e também: “O homem vê o
exterior, porém o SENHOR, o coração.” (I Sm. 16:7c)
A etnomusicologia ensina que a música é a percepção de sons
organizados que uma cultura tem, atribuindo a esses sons valores e/ou
significados. Por isso, tudo depende do contexto.
Ok, agora vamos ver o outro lado da questão. Chamo atenção
para este trecho das Escrituras: “Não é a comida que nos recomendará a Deus,
pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos. Vede,
porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os
fracos. [...] E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca
mais comerei carne, para que não venha a escandaliza-lo.” (I Co. 8:8-9, 13)
Só pra lembrar o contexto: alguns crentes estavam comendo
alimentos sacrificados a ídolos e outros irmãos não estavam se sentido
confortáveis com a situação, porque eles antes adoravam aqueles ídolos por meio
da comida sacrificada, orgias e bebedices, e aquele alimento trazia à tona
essas memórias.
O que Paulo está dizendo é que a comida, por si só, não é
nem boa nem má (se comer ou não comer, não se ganha nem se perde nada), porém
ele está dizendo que é importante que a nossa liberdade (de não se importar com
a origem da comida) não venha a atrapalhar aqueles que ainda são fracos, que
ainda estão se livrando de costumes antigos.
É importante dizer que “escandalizar” quer dizer isso: é uma
situação que traga à tona coisas de um passado pecaminoso, que o levem a
relembrar e querer isso; não é só porque você acha algo “estranho” que você
está escandalizado. As pessoas têm confundido muito esta palavra com
“preconceito”!
Mas, voltando ao assunto, trago ainda mais um trecho da
Palavra: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas
antigas já passaram, eis que se fizeram novas.” (II Co. 5:17). Neste trecho,
Paulo reforça a ideia de que nós morremos para o mundo e vivemos para Cristo,
coisas do passado não podem mais existir, agora nosso presente e nosso futuro é
para servir e adorar ao Senhor Deus! Ou seja, coisas do passado não devem nos
impedir de seguir o caminho da salvação.
Tenho duas histórias para exemplificar essa parte.
A primeira é do Pr. Jessé, da Igreja Presbiteriana Filadélfia, em Boa Vista/RR. Ele falou que ele
tinha uma coleção inteira do Bon Jovi, que ele começou a comprar na
adolescência dele e guardou até depois de casado e pastor. Porém, olha o que
acontecia: toda vez que ele ouvia aquelas músicas, que ele pegava aqueles CDs,
ele lembrava da época que ele ia para festas, que ia paquerar ouvindo essas
músicas, que fazia coisas das quais Deus não se agradaria. Um dia, ele percebeu
o que essa coleção tão preciosa para ele estava fazendo: estava acordando o
velho homem, estava trazendo lembranças de um passado e de sensações que não
devem mais existir, porque aquele homem já morreu (aliás, já estava morto!),
agora surgiu uma nova criatura, que vive por meio de e para Cristo! Resultado:
ele jogou fora todos os CDs. Isso mesmo, ele não doou nem nada. Jogou fora.
Porque não queria correr o risco de trazer de volta sensações e memórias que em
nada iriam acrescentar à sua vida agora.
A segunda aconteceu comigo um dia desses. Eu estava aqui no
Ibama-sede, e passei por um corredor e senti um cheiro familiar. Fiquei
impressionado com aquele cheiro, porque ele me lembrava alguma coisa que eu não
sabia identificar. Tive que pensar bem para entender, aí que fui lembrar: era o
cheiro da lanchonete da escola que eu estudei nos EUA! Olha só! Foi impressionante
ver como um mero cheiro trouxe memórias tão antigas e até já esquecidas.
Por que, então, eu citei tudo isso só para responder tua
pergunta? Porque agora você pode entender a resposta. Sua pergunta foi: “O que
define se uma música pode ou não ser tocada por um cristão?”. A resposta é: se
a música leva o cristão ou outros irmãos a pecar, então ela não pode ser
tocada, nem escutada. Não existe um ritmo “proibido” ou que seja “pecaminoso” por
natureza. O lance, é o contexto dele!
Naquele exemplo que dei dos índios australianos, eles
poderiam tocar samba e adorar a Deus sem problemas. Mas se você fizer isso no
Brasil, pode ser que alguns irmãos venham a lembrar da época de carnaval e das
coisas que aconteciam por lá, trazendo memórias do velho homem... Mas nada
impede que se toque isso numa igreja, desde que nenhum irmão venha a se
escandalizar com isso! Deus ainda pode ser adorado por meio deste ritmo! Mas
isso já requer certa maturidade dos irmãos para ver e entender isso. A mesma
ideia vale para o rock, basta você fazer a mesma associação.
O funk, por exemplo, no contexto brasileiro, é muito difícil
desassociar da ideia de palavrões, drogas, mulheres seminuas, sexo
indiscriminado, etc. Até para pessoas como eu, que nunca frequentaram baladas,
elas trazem essas coisas à memória, e podem ser um incentivo para pecar. Por
isso eu afirmo categoricamente: na atualidade, não tem como existir funk
evangélico no Brasil, porque eu não creio que alguém vá conseguir adorar ao
Senhor de todo o seu coração, sem que a mente seja poluída por outras memórias
ou valores.
Claro que esse assunto tem diversos outros desdobramentos: o
cristão que é músico de profissão, pode tocar num bar? Numa missa? A resposta
mais simples é: sim, desde que isso não o leve a pecar e nem a outros. É claro
que nesse caso, por outro lado, se enfrenta um preconceito forte ainda na
sociedade brasileira. Imagina o que a Tia Fulana ia achar se me visse tocando
piano num jazz bar? Não que ela seja preconceituosa, não é isso, é só que isso
já é parte da cultura da sociedade brasileira; enquanto nos EUA, por exemplo,
essa separação é feita com facilidade, porque eles entendem de modo prático: é
só mais um emprego.
O limiar do certo e o errado, é o Espírito Santo incomodando
o nosso coração ou não. Se você estiver tocando ou escutando qualquer tipo de
música e algo de incomodar, não hesite em ouvir a voz do Espírito, Ele sabe o
que é melhor para você.
O mesmo vale para ter sensibilidade, de não forçar coisas
para outros cristão que não estejam maduros. Não adianta você entender tudo
isso que falei e ir querer tocar rock pauleira na igreja, quando outros
cristãos vão ficar escandalizados. Temos que ter sensibilidade com a fraqueza
do irmão: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a
ser tropeço para os fracos.” (I Co. 8:9)
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Meus caros, foi isso que escrevi. Espero que lhes seja útil, que o Espírito possa usar as palavras desse pobre pecador para ensinar algo.
Seja Deus vosso guia e vossa luz.
S. D. G.